Gabriel Jesus é lenda no bairro onde se criou e para onde volta toda semana
Gabriel Jesus tem tudo para terminar o dia com taça do Brasileirão e fechar a saga do herói no Palmeiras. Mas no Jardim Peri, Zona Norte de São Paulo, o jogador tem ainda mais moral, é mito. Com direito a histórias que mais parecem lendas. A molecada conta que certa vez ele deu nove chapéus seguidos no mesmo adversário.
As várias versões aproximam os relatos de uma história de pescador. Os frequentadores do bar que fica próxima a casa que era do atacante falam foi na rua ali na frente. Weslley Thiago da Silva, 18 anos, afirma que foi na quadra do Quirino. Os amigos dele fazem coro e citam o nome da vítima. A identidade do adversário não é confirmada por quem beberica no balcão do bar.
Verídica ou não, a história mostra que os moradores do Jardim Peri acreditam que Gabriel Jesus é capaz de tudo com a bola. Tanto que Weslley se orgulha da única vez que ganhou do time do cara que hoje é titular da seleção brasileira. Mesmo que na sequência ele admita que perdeu a conta do número de derrotas.
Mas o garoto ressalta que não era nada fácil para ganhar. Os amigos atravessam a conversa e falam que Gabriel Jesus desequilibrava as partidas. Agora é Weslley quem atravessa o papo: “o moleque não gostava de perder. Se precisava, ia até pro gol”.
As histórias do atacante do Palmeiras são contadas numa faixa estreita da calçada da Avenida Maria Antônia Martins. Os vizinhos apontam para um sobrado azul na fachada e com os tijolos expostos na lateral. Explicam que ele morava na parte debaixo. A entrada é pela lateral passando por um portão de metal.
Enquanto morava no Jardim Peri, Gabriel Jesus jogava na quadra do Quirino. A molecada contava a distância em tempo de caminhada. “Era coisa de 15 minutos”, diz Weslley.
A outra ‘arena’ frequentada pelo atacante do Palmeiras era a rua, precisamente na esquina. O local é usado porque o espaço é maior e não há os buracos tão comuns nas outras vias do bairro por onde o ônibus não passa.
Mas a localização da casa de Gabriel Jesus e suas histórias são conhecidas mesmo nos quarteirões longe da casa que um dia ele viveu. No supermercado do bairro as pessoas sabem onde ele morava e que fazia compras no local. Quem é palmeirense fala todo orgulhoso que o candidato a melhor do Campeonato Brasileiro se criou naquela região.
A admiração cresce porque toda semana o jogador visita o Jardim Peri. A presença é denunciada por uma Land Rover Evoque marrom estacionada nas ruas estreitas. Os moradores contam que é comum Gabriel Jesus aparecer na segunda-feira para visitar três amigos de infância: Higor, Fabinho e Rodolfo.
Gabriel Jesus jogava em campo de presídio
Outro local que a estrela do Palmeiras desfilava o futebol durante a infância e começo da adolescência era o campo do Pequeninos do Meio Ambiente. Criado como time para os filhos de um grupo de adultos na década de 1990, a equipe contou com o reforço de Gabriel Jesus a partir de 1995.
Primeiro treinador do atacante, José Francisco lembra que o menino tinha oito anos quando apareceu com uma chuteira surrada embaixo do braço. Além de um time, o Gabriel Jesus recebeu ajuda. As vezes levava uma cesta básica para casa e ganhava chuteiras e roupas.
“Lá no campo deixam muita roupa, todo final de semana. Dá até para tocar um brechó. A gente também falava para os pais não deixarem a chuteira que ficou apertada guardada e passamos para outros meninos. Passava para o Gabriel na época.”
Logo Gabriel Jesus se destacou, ganhou a camisa 9, a braçadeira de capitão e o apelido de Tetinha. O primeiro treinador conta que era chamado assim porque antes das partidas previa uma vitória: “o Mamede este time é muito teta.”
Gabriel Jesus é descrito como uma criança dedicada aos treinos e nervoso na hora dos jogos no campo do presídio militar Romão Gomes, casa do Pequeninos. Veloz e goleador, era caçado em campo sob os olhos omissos dos árbitros. As vezes, perdia a paciência e acabava expulso por reclamação, lembra Mamede.
“Cansei de falar para parar de abrir o braço, gesticular quando juiz marca falta. Agora o Guardiola vai ter que continuar nosso trabalho”, declara o primeiro treinador.
A mãe de Gabriel Jesus, conhecida por ser firme na educação dele, não aparecia. Mamede lembra que os jogos eram aos sábados e mesmo neste dia ela precisava trabalhar como faxineira para sustentar a família. Os dois se conheceram em outubro, quando o atacante voltou ao Pequeninos do Meio Ambiente para doar chuteiras.
“A criançada explodiu de alegria”, relata Mamede tão feliz quanto elas.
O técnico disse que convidou Gabriel Jesus para uma pizza antes dele viajar para Inglaterra e se apresentar ao Manchester City. Justifica que depois será impossível. Ele conta que os dois se falam por Whatsapp.
Palmeirense roxo, Mamede gosta de contar as histórias de Gabriel Jesus. A única pergunta que incomoda é quando alguém pergunta quanto ganhou por revelar o atleta. Contrariado, responde que a equipe é para crianças poderem jogar. Acrescenta que disse isto para o agente de Gabriel Jesus.
"Falei para o agente que a gente não quer um real. Se alguém pedir em nome do Pequeninos tá mentindo.”
Mas ele não nega que se um dia o atacante voltar da Europa em férias e quiser presentear a equipe, a ajuda será muito bem-vinda. Mas precisa ser um auxílio espontâneo e não pode ser qualquer coisa.
“Ainda brinquei que se vier da Europa de férias cheio de dinheiro e me der uma dúzia de bolas e coletes, vou te mandar praquele lugar.”
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