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"Sei que estar aqui consola minha família", diz parente de diretor da Chape

Felipe Pereira, de Medellín (Colômbia)

02/12/2016 12h00

Conselheiro da Chapecoense, Roberto de Marchi viajou a Medellín numa missão ainda mais delicada. O primo Nilson Folle Junior, 29 anos, era tão próximo que foi escolhido para batizar o filho dele. Tudo que o garoto de 10 anos quer é o padrinho de volta. Não importa em que condições.

Em Medellín desde quarta-feira, Roberto carrega um providencial pacote de lenços de papel no bolso. A tarefa que o conselheiro cumpre é uma provação, mas é necessária para amenizar a tristeza da família e enterrar com dignidade uma pessoa amada. Muito emocionado, ele deu o seguinte depoimento ao UOL Esporte na funerária onde estavam os caixões.

Uma pessoa chave na família

"Nesse momento, eu não falo em nome da Chapecoense. Eu falo pela minha família. Nilson Folle Junior, um menino de 29 anos que eu tinha como meu filho. Estou esperando para levar ele embora.

O Folle é meu primo, mas eu sempre brincava com ele. Eu dizia que ou ele era o meu irmão mais novo, ou meu filho mais velho. A gente tinha uma admiração muito grande. Minha família é muito unida e ele era uma pessoa importante nessa união.

Comprava uma (pequena pausa e sorriso)... agora ele comprou uma forma no formato de telha e reunia a família para comer peixe na telha que ele nem sabia fazer direito. Mas ele dava um jeito de reunir a família.

Agora mesmo acabei de dizer para a namorada dele que sinceramente a gente não sabe como vai fazer sem ele. Porque o Folle era uma pessoa chave dentro da família. Meu filho, ele é padrinho do Bernardo, 10 anos.

Meu filho tem um carinho tão grande que é difícil até conversar com o Bernardo. Ele ligou faz pouco e queria saber como estava o padrinho. Disse filho, você sabe que ele não tá tão... a aparência dele não ficou muito boa (Roberto chora). Isso que é o difícil, sabe?”

Sem chance de se enganar

“Logo depois que cheguei (quarta de manhã) fui para o IML. Eles não me permitiram chegar até o corpo. Me atenderam muito bem e deram as informações e as confirmações. Embora a gente soubesse, é óbvio que sempre alimenta a esperança de uma notícia diferente.

Lá no IML me trouxeram as provas. Apesar de a fisionomia não ser tão expressiva como ele era, a gente consegue identificar. O IML me mostrou as digitais confrontando com uma ficha que tinha a foto dele. Eles me explicaram todo o processo e você vê que foi muito sério e confiável. Foi a pior hora que eu podia ter.

A gente sabe da realidade, o triste é a minha família. Apesar de saberem de tudo, estavam esperando a minha ligação para confirmar (Roberto chora). Todos nós sabemos, mas minha família não via a hora em que eu ligasse para dizer realmente não tem mais o que fazer. E foi assim, eu liguei para eles logo depois do IML. É isso, infelizmente.

Eu fiquei uma boa parte do tempo hoje (quinta) aqui (na funerária). Agora voltei de novo e não sei que horas vou embora. Sei que não posso fazer nada, mas é para aceitar e consolar minha família. Os pais deles estão muito abalados, difícil até conversar. Na verdade todo mundo quer que ele chegue em casa para fazer um enterro digno.”

Outras dores

Roberto fala do sofrimento referente a uma das vítimas. O acidente causou outras 70 histórias como a dele.