Ídolo de primeiro time da Chape chora tragédia: "a gente não merecia"
A camisa da Chapecoense é tratada como “segunda pele” por João Maria Pacassa. Aos 71 anos, o cidadão de Chapecó não perde um jogo do time da cidade e é presença assídua mesmo em treinamentos da equipe. Mas a relação com o verde e branco do time transcende o comportamento de mero torcedor. Tudo porque o aposentado foi integrante da primeira formação de jogadores da história do clube. Hoje, ele derrama lágrimas de luto pela tragédia na Colômbia, mas externa a convicção de que a Chape vai se levantar.
“A gente não merecia essa tragédia. É muito triste, o mundo inteiro... se é com os outros a gente nem dá bola, mas quando é com a gente, com os nossos amigos. Você entra no campo e parece que eles vão entrar logo ali”, afirmou o ex-lateral direito, titular do time de 1973, em entrevista ao UOL.
“Mas nós vamos nos levantar, nós vamos ter força para isso. Com toda essa torcida, esse povo que apoiou a Chape”, emendou Pacassa.
Figura conhecida e respeitada dentro do clube, o ex-lateral mantinha amizade com alguns jogadores como Cléber Santana, Neto e Danilo.
“Sempre falo com eles. Às vezes na igreja, o Danilo sempre ia à missa. O Kempes também, na última vez que encontrei, no dia do jogo com o São Paulo. Tudo que o povo está fazendo é merecido, os caras merecem. São uma família dentro do vestiário”, comentou.
Heróis do tempo das viagens por estrada de terra
A ligação afetiva de Pacassa com a Chapecoense já dura mais de 40 anos. O atleta já havia jogado em um time do Paraná e, quando atuava no futsal de Chapecó, foi recrutado para integrar a primeira equipe da recém-fundada Associação Chapecoense de Futebol, em 1973. Então, por três anos, ocupou a lateral direita do time, em tempos de semi-amadorismo, pouco dinheiro e paixão pela bola.
Jair; Pacassa, Beiço, Silva, Ferreira; Caibi, Betinho, Alberi, Sidnei; Volmir e Xaxim.
A escalação acima foi a primeira da história da Chapecoense, dirigida pelo técnico Moacir Fredo, no time que arrebatou os primeiros torcedores do clube, através de jogos em estádios pequenos, viagens de microônibus ou carros particulares e com poucos recursos.
No começo, o elenco contava com apenas 20 atletas. A Chapecoense estreou no futebol sem estádio, jogando duas temporadas em um campo na cidade de Xaxim, a 26 quilômetros de Chapecó. Aos poucos se desenvolveu e passou a enfrentar as forças de Santa Catarina, como Avaí e Figueirense.
“Pegava muita estrada de terra batida, não tinha asfalto. Saia da cidade de manhã cedo e chegava quase meia-noite, para jogar no outro dia. E jogava com vontade. Não tinha moleza”, relatou Pacassa. “Jogar na capital era o mais difícil, eles queriam ganhar, queriam ganhar. Mas conseguimos desclassificar o Avaí em 1974, no último lance”, relembrou.
“Vou até o fim da Chape”
Em casa, num bairro tranquilo de Chapecó, Pacassa preserva as memórias da primeira Chape da história com uma camisa especial enquadrada, entregue pelo clube quando o ex-lateral completou 70 anos. O antigo jogador também guarda algumas fotos daquela época e serve de ídolo para o neto Davi – o menino de 10 anos vibrou quando encontrou a figurinha do avô no álbum oficial do clube que coleciona.
“É um orgulho”, disse Pacassa, sobre ter jogado no time que inaugurou a existência esportiva do clube. “Eu comecei e vou até o fim da Chape”, prometeu.
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