Topo

Do título à luta contra o rebaixamento: o que deu errado no Leicester

Oli Scarff/AFP
Imagem: Oli Scarff/AFP

Do UOL, em São Paulo

23/12/2016 06h00

Admita: olhar para a tabela do Campeonato Inglês e ver um time pequeno como o Leicester City em primeiro lugar coloca um sorriso no seu rosto, não coloca? A história do time de desconhecidos, treinado por um técnico considerado ultrapassado e enfrentando rivais muito mais poderosos emocionou o mundo do futebol na temporada passada. Quando o italiano Claudio Ranieri e seus jogadores levantaram o título da Premier League, muita gente comemorou como um novo momento para o esporte.

Essa impressão, porém, não durou muito. É inevitável olhar para a tabela hoje e não pensar que o sucesso daquele time azul do centro da Inglaterra foi uma ilusão. O atual campeão inglês, hoje, luta contra o rebaixamento. A equipe parecia ter renascido após resultado convincente de 4 a 2 contra o Manchester City, de Guardiola, porém logo depois perdeu um jogo e empatou outro, com direito a expulsão do astro Vardy no duelo contra o Stoke City.

Vardy e Mahrez comemoram gol do Leicester - CRAIG BROUGH/Reuters - CRAIG BROUGH/Reuters
Vardy e Mahrez: fase no Campeonato Inglês virou problema
Imagem: CRAIG BROUGH/Reuters
O que deu errado?

Parte do problema foi, justamente, o sucesso. Com o título, o Leicester se classificou pela primeira vez para a Liga dos Campeões. E, com isso, pela primeira vez o time teve de se dividir entre os torneios locais e as competições europeias. Aparentemente, não deu muito certo.

No Inglês, são apenas quatro vitórias em 17 jogos. Na Champions, foram as mesmas quatro vitórias na primeira fase, em apenas seis jogos. O time só perdeu uma vez, na última rodada, quando time já estava classificado e os reservas entraram em campo – a derrota, 5 a 0 para o Porto, porém, foi dolorida.

Antes de ser derrotado para o Leicester, Pep Guardiola acha que foi justamente essa nova experiência na Europa que atrapalhou o time de Ranieri. “Talvez tenham se concentrado demais na Champions, já que era sua primeira experiência. Mas agora já estão classificados e terão dois meses para focar no Inglês”, disse o treinador do Manchester City. “Mas o que eles fizeram [na temporada passada] e como fizeram foi excepcional”.

Atacantes já não funcionam
Slimani marcou pelo Leicester contra o Porto na Liga dos Campeões - Shaun Botterill/Getty Images - Shaun Botterill/Getty Images
Slimani: principal reforço da temporada ainda não emplacou
Imagem: Shaun Botterill/Getty Images

Outra questão é a marcação rival. Na temporada passada, o Leicester era uma novidade e pouca gente sabia (ou se importava em descobrir) como eles jogavam. Quando a dupla de ataque formada por um argelino desconhecido (Mahrez) e um jogador que foi semi-amador até 2012 (Vardy) começou a balançar as redes com frequência, ninguém sabia como responder.

Vardy quebrou o recorde de gols em partidas seguidas, marcando em 11 jogos. No total, foram 24 gols na Premier League. Mahrez não ficou muito atrás: 17 gols e 11 assistências. Nesta temporada, nenhum está funcionando. No Campeonato Inglês, Mahrez tem apenas três gols e Vardy fez cinco. Em 17 jogos.

Os reforços também não ajudam muito. Comprado por R$ 128 milhões, o argelino Slimani marcou quatro vezes no Inglês. Musa, que custou quase R$ 70 milhões, soma dois gols.

Kanté, em ação pelo Chelsea - Shaun Botterill/Getty Images - Shaun Botterill/Getty Images
Kanté pelo Chelsea: volante tem feito falta ao Leicester
Imagem: Shaun Botterill/Getty Images
Defesa virou uma peneira

Mais do que isso, porém, a defesa, grande força do Leicester de 2015/2016, está muito diferente. Na temporada passada, o goleiro Schmeichel liderou uma linha que levou apenas 36 gols. Só Tottenham e Manchester United levaram menos gols, 35. Agora, o time já foi vazado 29 vezes, em apenas 17 jogos.

A dupla de defesa, Huth e Morgan, seguem em ação. O goleiro Schmeichel enfrentou contusões. Mas a grande diferença é na cabeça-de-área. O maior destaque daquele sistema defensivo era o francês Kanté. O jogador, porém, foi para o Chelsea – onde vem fazendo muito sucesso – por R$ 128 milhões. Seu substituto foi outro francês, Mendy, que veio do Nice por cerca de R$ 55 milhões, mas não funcionou. Tanto que o Leicester já foi atrás de outro volante, o nigeriano Wilfred Ndidi, do Genk, da Bélgica.