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Ele já foi preso três vezes. E agora terá primeira chance como técnico

Corinthians foi um dos times que Piá defendeu na carreira - Fernando Santos/Arquivo Folhapress
Corinthians foi um dos times que Piá defendeu na carreira Imagem: Fernando Santos/Arquivo Folhapress

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

09/01/2017 04h00

Ex-jogador de Santos e Corinthians, Piá se envolveu em problemas com a Justiça depois que pendurou as chuteiras, em 2011. Chegou a ser preso três vezes por roubar caixas eletrônicos, mas cumpriu a pena e hoje busca um recomeço não só no futebol mas, principalmente, em sua vida. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele se diz extremamente arrependido com seu passado e comemora a chance de poder dar a volta por cima: em 2017, ele terá sua primeira oportunidade como técnico de um time profissional – assumiu o comando do Independente de Limeira, que nesta temporada disputará a Série A-3 do Campeonato Paulista.

“Eu fui treinador do sub-20, em 2013, da equipe do União de Araras, e auxiliar técnico também, lá no profissional, mas como treinador é a primeira vez, então essa é a primeira oportunidade no profissional, na A-3 do Paulista pelo Independente de Limeira”, conta Piá, que além das prisões por roubo também chegou a ser detido por porte de drogas e andava armado quando ainda era jogador. Mas ele garante que esta vida ficou para trás.

Piá foi detido por tentar furtar caixa eletrônico em Americana, interior paulista - Guarda Municipal de Americana/Sérgio Evangelista - Guarda Municipal de Americana/Sérgio Evangelista
Imagem: Guarda Municipal de Americana/Sérgio Evangelista
“Está tudo resolvido com a Justiça, eu paguei o que devia e hoje é só vida para frente”, diz Piá. “Pô, falar que você não se arrepende... Imagina. Se você sai de um errinho na sua vida já se arrepende, imagina o que eu tive? Não tem como falar que não vai se arrepender, né, mas é claro que eu me arrependo muito ainda, só que hoje eu sirvo de exemplo e o maior exemplo de vida sou eu mesmo, exemplo de sair do nada, chegar ao futebol e ter tudo como jogador. E depois acabei perdendo tudo e agora tenho uma nova chance, então o maior exemplo que eu tenho de vida sou eu mesmo”, diz o ex-jogador, que não esconde tudo que fez de errado no passado.

 “Hoje eu sou livre, eu assumi que tinha errado mesmo, isso eu assumi faz tempo, assumi meu erro e paguei, senão eu não estaria na rua. Não tenho nenhuma pendência”, acrescenta.

Piá largou o futebol em 2011, por causa de uma doença. Foi quando os problemas com a Justiça, que já existiam, ficaram ainda mais sérios. Somados a eles, vieram também complicações por conta de dinheiro, o que fez com que ele seguisse pelo pior caminho.

“Quando eu parei de jogar futebol eu acabei descobrindo que eu tinha diabetes. Parei de jogar futebol por causa disso, todo jogador de futebol se prepara pra jogar, mas ninguém se prepara para parar. Quando você joga e vai para a Europa, que ganha rios de dinheiro, ou como hoje, onde qualquer jogador ganha R$ 300 mil... na minha época era bem diferente, joguei em grandes clubes, mas o meu maior salário foi de R$ 100 mil, então quando eu parei eu tinha algumas coisas ainda, mas vai passando o tempo, passando o tempo, tinha família para sustentar, onde você passa a conhecer pessoas que não são boas de amizade, e acabam te induzindo e você caindo”, conta Piá.

Preparado?

Piá, ex-jogador, em ação pela Ponte Preta, em 2003 - Jorge Araújo/Folhapress - Jorge Araújo/Folhapress
Imagem: Jorge Araújo/Folhapress
Apesar de colocar a vida de jogador como principal base para a carreira de técnico, Piá – que já trabalhava no Independente de Limeira como auxiliar e acabou efetivado após a saída de Fernando Alves – procurou estudar para assumir a nova profissão.

"Antes, quando eu estava no União São João de Araras, eu já tinha feito curso de treinador, mas a maior escola que você tem é dentro de campo, a vivência que eu tenho no futebol é o melhor curso que eu tenho na minha vida", opina o ex-jogador, hoje com 43 anos.

Inspirações

Comandado por uma série de treinadores renomados durante a carreira de jogador, Piá evita citar apenas um técnico para se espelhar na atual profissão.

“Eu tive uma escola muito boa de treinadores, então eu aprendi muito, agora eu vou tentar colocar em prática isso. Eu trabalhei com o Vanderlei Luxemburgo, Tite, Nelsinho Batista, Abel Braga, Oswaldo de Oliveira, Leão, Geninho, é difícil você escolher um, né [risos]?”, completa.