Arquiteto de boleiros vira psicólogo e conquista clientes pelo lado emotivo
As estrelas do futebol brasileiro têm uma rotina intensa de treinos e jogos. Não à toa, nos momentos de lazer eles priorizam o conforto e não economizam para ter a casa dos sonhos em que possam relaxar. O arquiteto Fabiano Hayasaki sabe bem disso e de muitos detalhes a mais. Ele tem mais de 40 jogadores em sua clientela e conhece a fundo o gosto deles.
Hayasaki é o responsável por atender os desejos de grandes nomes do mundo da bola. Dos pentacampeões mundiais Denílson, Rivaldo e Edmílson, aos palmeirenses Dudu e Zé Roberto, passando pelo ex-goleiro Doni e pelo zagueiro Leandro Castán. Fabiano também tem no currículo projetos com o craque Neymar.
Hoje, ele se considera mais que arquiteto e virou psicólogo para captar cada necessidade. “Arquiteto é como psicólogo, falo que não sou arquiteto, sou psicólogo deles. Eu vou muito a fundo na intimidade de todos eles porque eu vou projetar todos os ambientes das casa deles, então eu preciso saber coisas muito íntimas”.
“Eles contam cada coisa para mim, eu nem posso comentar. Sei de coisas que nem a esposa sabe. Eu tenho que saber de tudo, o que ele faz, a hora que acorda, se vai no banheiro, se faz número 2, número 1, se escova dente, isso eu pergunto. Eu pergunto, por isso que fica melhor o projeto, que fica mais funcional”.
Fabiano usa o lado emocional também na hora de apresentar seus projetos com prioridade na qualidade de vida. Nas reuniões, ele não fica preso a plantas. Mostra um vídeo com o projeto de forma tridimensional, usa fotos e até músicas que tenham importância afetiva para o cliente. Foi assim que levou Neymar às lágrimas em uma reunião que era para durar 1 h acabou se transformando em dez horas. Hoje, a parceria está crescendo. Ele tem dois projetos no litoral do Rio de Janeiro com o craque, além de ter sido responsável pela decoração da casa que ele comprou em Angra dos Reis para passar o fim de ano.
“Eu apresento o meu projeto em vídeo, eu descubro a música do cara. A do Neymar fiz ele e o pai dele chorarem, eu faço todo mundo chorar. Na primeira casa, coloquei a música evangélica que só ele e o pai sabiam. Eu descobri, sem eles saberem, qual era a música mais tocante na vida deles. Eu analiso, estudo, hoje é muito fácil conseguir informação, eu consigo impressionar e surpreender.”
Hayasaki acredita que tem uma grande afinidade com os atletas também por terem histórias de vida parecidas. De origem humilde, sua família chegou a ser despejada de casa por não ter condições de pagar o aluguel na época em que ele tinha 9 anos. Foi quando desenhou sua primeira casa com a ideia de que, assim, seus pais um dia conseguissem construí-la.
Fabiano e a família foram morar nos fundos de um clube onde seu pai trabalhou como caseiro por dez anos. O amor pela arquitetura logo aflorou e ele entrou em um escritório de engenharia como office boy ainda adolescente até conseguir se tornar desenhista. Anos mais tarde, foi trabalhar em um escritório de arquitetura antes de entrar na faculdade e abrir seu próprio negócio. Durante todos esses anos, ainda investiu em marketing e fez cursos de oratória para se comunicar melhor.
“Comecei a comunicar o que pessoas queriam ouvir e não esperavam de nenhum arquiteto. É uma profissão em que o cara é estrela, madame. 90% dos arquitetos são arrogantes, tratam todo mundo mal, são estrelas”, disse. “Ontem almocei arroz e feijão na casa do Dudu, ele antes tinha muita vergonha de mim. Eles falam para mim que arquiteto deve ser tudo nojento porque a fama é o que está aí. Toda novela tem um arquiteto arrogante, metido”.
Aos poucos, a clientela vai aumentando com as indicações e o boca a boca entre os boleiros. A convivência também já o fez aprender algumas peculiaridades. Alguns jogadores chamam a atenção pela simplicidade, mas também gostam de esbanjar e exigem qualidade máxima dos produtos. Um de seus clientes comprou um chuveiro de R$ 50 mil para colocar no banheiro. Outro gastou R$ 8 milhões em uma academia.
"Eles gostam de simplicidade aliada a ostentação. Senta na mesa com você com um talher de chifre banhado a ouro e come arroz, feijão e batata frita. O cara gasta R$ 10 mi na casa e toca um funk. ... Tem um pouco de ostentar entre eles... carro, uma casa tem que ser melhor melhor que a do outro, fazem muitas festas para receber amigos. Pega o celular e abaixa a persiana, liga a banheira com automação", disse.
Os jogadores se tornaram grandes parceiros de Fabiano e estão entre seus clientes preferidos. Além de darem muita liberdade para criar e 'viajar' nos projetos, ele pagam em dia, geralmente à vista e alguns deles não aceitam nem descontos, como foi o caso do zagueiro Leandro Castán.
“A gente teve uma reunião. No dia em que fui passar valor, passei o valor e quis dar um desconto para dar um agrado: ‘doutor, tantos por cento de desconto’. Sabe o que ele falou? ‘Eu não pedi desconto’. ‘Mas eu estou querendo dar o desconto’. ‘Mas eu não pedi, eu não quero o seu desconto’. ‘Mas eu quero dar ao senhor, isso não existe’. ‘Não, não queremos o seu desconto porque a gente valoriza o seu trabalho’. E o cliente que é empresário, o que ele quer? Acha que é dono do mundo, tem cliente se acha muito culto e já vem com preço. ‘Ah é R$ 100? Eu pago R$ 50. Se quiser, pago R$ 20’. É assim o empresário”.
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