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Felipe Anderson: "Seria bem diferente se eu tivesse estourado no Brasil"

MARCO BERTORELLO / AFP
Imagem: MARCO BERTORELLO / AFP

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

26/02/2017 04h00

Felipe Anderson é, hoje, um dos melhores jogadores brasileiros em ação na Europa. Aos 23 anos, ele o jogador que mais dribla no Campeonato Italiano, é vice-líder em assistências e considerado o jogador mais eficiente do torneio pelo site WhoScored, que dá notas para atuações baseado em estatísticas.

Jogando pela Lazio, ele tem chamado tanta atenção que clubes ingleses como Manchester United e Chelsea já tentaram sua contratação. Ele só não saiu porque o time da capital romana, apaixonado pelo ex-santista, pediu alto demais para deixa-lo sair. Com tantos predicados, o normal seria você ouvir sempre o nome do jogador quando o assunto é seleção brasileira.

Não é assim. E o próprio Felipe acha que isso é normal. “Eu era muito falado na base, mas no profissional acabei jogando pouco. Realmente, acredito que seria bem diferente se eu tivesse saído estourado do Brasil, como tem acontecido com a maioria dos jogadores ultimamente. Eu também sou um cara que não gosto muito de holofote, prefiro ficar mais na minha, sossegado (risos). Isso aí também influência um pouquinho, mas acho que trabalho vence tudo”, fala o jogador.

O UOL Esporte falou com ele sobre o sucesso longe dos holofotes, a adaptação ao futebol italiano e o ouro olímpico – ele começou como titular, mas acabou a campanha na reserva na Rio-2016. Confira os principais trechos:

Força do futebol italiano

Falo com convicção que não é fácil para ninguém jogar aqui. As equipes priorizam muito a defesa, jogam muito duro, com marcação forte, bem fechados. Se você não tiver força, inteligência tática, acaba sendo engolido, como a gente fala na gíria. Eu mesmo precisei amadurecer, me reinventar para poder me adaptar. Acho que é assim em qualquer lugar.

Mudança de posição

Como a marcação no centro do campo acaba sendo mais forte, foi na ponta que eu achei mais espaço para explorar a minha velocidade. O Pioli [Stefano Pioli, ex-técnico da Lazio e hoje na Inter de Milão] priorizou me utilizar ali, eu fui dando uma resposta positiva, ganhando mais força a cada treinamento e me adaptei. Já tinha jogado no Santos algumas vezes assim, mas foi bem pouco. Na base toda, praticamente, atuei mais centralizado. Pelos lados, eu acabo pegando mais vezes o adversário no mano a mano, sem deixar de ter a possibilidade de dar o passe final, que é algo bem característico meu também.

Jogando até de ala

É lógico que o tempo e adaptação ao futebol daqui me fez ter mais maturidade para jogar, para enxergar os atalhos. Hoje eu me sinto um jogador mais completo do que aquele que chegou. Tenho desempenhado uma função bem tática no esquema do Inzaghi, fazendo meio que um ponta/ala, dando apoio ao lateral, bem aberto, mas sempre tentando chegar na área e, principalmente, servir meus companheiros. Graças a Deus, as coisas estão caminhando bem e espero que possam permanecer assim o máximo de tempo possível.

Conselho para Gabigol

Eu sempre converso com ele. É uma questão de ter paciência. Vivi um momento inicial na Lazio semelhante com o que ele está passando. Não adianta se sentir pressionado e querer fazer tudo de uma vez. Tenho certeza de que a hora dele vai chegar com naturalidade e que ele vai render tudo o que sabe. Não sendo contra a Lazio, estarei sempre na torcida e ajudando ele no que for possível.

Chances perdidas na final da Olimpíada

Eu acho que eu fui bem, mas faltou ter concluído as oportunidades que eu tive de gol. Na final, mesmo, tive duas chances de fazer o gol do título, mas acabou não acontecendo. A gente sabe o peso que isso acaba tendo no futebol, não tem jeito. Quando você marca, o reconhecimento e as demais coisas acabam vindo mais rapidamente e de uma forma maior. Mas, das vezes que eu entrei, ajudei com assistências, me dedicando na parte tática. Então, me sinto feliz porque acho que dei minha contribuição para esse tão sonhado ouro chegar. 

Seleção brasileira

Consegui chegar uma vez e vou trabalhar para voltar. Com certeza o Tite tem visto os jogos. Então, vou continuar tentando fazer a minha parte bem para merecer outra chance. Como falei, acredito no trabalho. Vai acontecer com naturalidade se eu seguir me destacando aqui, como tem acontecido.