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Dois torcedores da Mancha têm prisão decretada por assassinato de fundador

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

10/03/2017 20h50

A Justiça de São Paulo decretou a prisão temporária de dois integrantes da torcida organizada Mancha Alvi Verde, do Palmeiras, suspeitos de participar do assassinato de Moacir Bianchi. A decisão judicial foi divulgada no início da noite pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo), que acompanha o caso sob sigilo de Justiça. Bianchi foi um dos fundadores da torcida nos anos 1980, que chamava-se Mancha Verde até ser fechada pelo MP no final dos anos 1990.

De acordo com fontes ligadas à investigação, um dos suspeitos já foi preso por outros crimes anteriormente e o outro não. Ambos participaram da reunião que aconteceu na sede da organizada, na zona oeste de São Paulo, horas antes do crime, e são membros ativos da agremiação. Os dois suspeitos discutiram asperamente com a vítima, que foi emboscada e assassinada depois do encontro. A perícia encontrou 22 perfurações de bala em Bianchi.

De acordo com informações preliminares das investigações, o crime foi fruto de atritos pessoais entre Bianchi e um dos suspeitos, que não tiveram a identidade divulgada. A reunião na sede da organizada era para tentar apaziguar conflitos entre diversos grupos de poder dentro da agremiação.

Até agora, não há indícios de ligação do assassinato com o crime organizado ou facções criminosas. "Tudo leva a crer até agora que foi um crime passional de raiva dos agressores contra a vítima", afirma um policial do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) que pediu para não ser identificado devido ao sigilo judicial. "Mas investigações continuam e podem surgir novidades."

Suspeitos identificados participaram da emboscada

Foram identificados os dois suspeitos que participam da emboscada (veja o vídeo acima): o atirador que efetua os disparos contra Bianchi o motorista do carro de onde o pistoleiro sai e que para atrás do carro da vítima para impossibilitar sua fuga.

O atual presidente da torcida, Anderson Nigri, possui álibi para o momento do crime e, até o momento, não é considerado um suspeito no caso. Em entrevista ao UOL no início da semana, a primeira desde o crime, Nigri confirmou que o clima na reunião estava tenso e que houve bate-boca entre os diversos grupos que compõe a organizada. O crime aconteceu à 1h18 do dia 2. Nigri ficou na organizada neste dia até 1h30, logo não estava no local do ataque, mas ele ainda é investigado.

Ao longo da semana passada, áudios em grupos do aplicativo de mensagens acusavam Nigro de ter colocado a diretoria da entidade à disposição da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O fundador da agremiação seria contra o "aparelhamento", e por isso teria sido morto após a confusão na reunião.

A Mancha Alvi Verde anunciou nesta sexta-feira (10) que os membros da atual diretoria da entidade renunciarão a seus cargos e fala em "ressurgimento" da entidade. A torcida organizada chegou a suspender suas atividades logo após o crime, mas voltou atrás e continuou a operar.

Imagens de vídeo mostram o momento em que Bianchi foi alvo da emboscada. Ele morreu pouco após ter seu carro prensado por dois veículos em um semáforo em São Paulo.

Bianchi parou o veículo no sinal, que estava vermelho. Um carro estava à frente. Outro veículo se aproximou por trás do carro de Bianchi, impedindo que o fundador da Mancha Verde conseguisse escapar. Um homem saiu rapidamente do carro de trás e efetuou vários disparos contra Bianchi, que ainda tentou dar ré e acabou batendo num poste, com o carro desgovernado.

Apesar de afastado da diretoria da torcida, Bianchi era considerado uma figura importante na agremiação, e em suas redes sociais sempre postava fotos ao lado dos atuais integrantes, tanto da torcida quanto da escola de samba, de cuja diretoria ele fazia parte. Ele participou ativamente do Carnaval de 2017 e inclusive estava no Anhembi durante a apuração dos desfiles na última terça-feira (28).

Justiça decreta sigilo em investigações

A Justiça decretou sigilo nas investigações sobre o caso. Os depoimentos começaram na segunda-feira (6), quando a ex-mulher e duas filhas de Moacir Bianchi compareceram à sede do DHPP para responderem a perguntas sobre o caso.

No entanto, Jonas Marzagão, advogado da família, relatou que a família desconhecia ameaças sobre o fundador da torcida organizada, que participou de uma tensa reunião horas antes de ser morto, na sede da Mancha Alviverde, segundo indica o início das investigações.

Após o crime, a torcida organizada descaracterizou completamente a sua sede que ficava na Rua Caraíbas, quase em frente ao Allianz Parque, na zona oeste de São Paulo. Na noite da última segunda-feira (6), o local teve as suas paredes externas mantidas apenas na cor bege, sem menções ao grupo. Além disso, o boneco que representava os torcedores também não é mais usado como decoração.