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Micale relembra pressão por 7 a 1 e vê pouca influência de Tite na Rio-2016

Técnico temia que semifinal da Copa de 2014 pesasse contra a Alemanha - AFP
Técnico temia que semifinal da Copa de 2014 pesasse contra a Alemanha Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo

03/04/2017 23h37

A eliminação da seleção brasileira nas semifinais da Copa do Mundo de 2014 diante da Alemanha era preocupação do técnico Rogério Micale para a final do futebol masculino na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. A revelação foi feita nesta segunda-feira, em entrevista do treinador ao canal de TV por assinatura SporTV.

De acordo com Micale, havia o temor de que um gol dos alemães na decisão olímpica contra o Brasil evocasse fantasmas anteriores da seleção brasileira. No entanto, segundo ele, a equipe se portou bem após o gol de empate marcado por Max Meyer no segundo tempo.

“(A seleção) estava muito confiante, mesmo sofrendo o empate da forma que foi. Era sempre muito temeroso tomar um gol da Alemanha, por tudo aquilo que trazia a imagem, o que aconteceu. Poderia gerar um desequilíbrio. E tomamos, mas suportamos bem, continuamos suportando o jogo, mantivemos a calma. Conseguimos ainda dois contra-ataaques para matar o jogo”, disse Micale, que foi além e relembrou a pressão inicial sobre a equipe.

“Entramos muito pressionados nos Jogos Olímpicos. Era até desumano - o Neymar estava sendo muito cobrado, uma pressão em cima dele. Por mais que já fosse uma estrela, chega um momento que a pessoa sente isso, um desconforto de a todo momento uma nação em cima, uma cobrança muito forte. Nos dois primeiros jogos, de empates (0 a 0 contra África do Sul e Iraque), se não nos fechássemos... Nós tivermos uma reunião entre jogadores e comissão técnica para podermos nos tranquilizarmos. Mostrar números, que eram muito bons nos dois primeiros jogos - o que faltava mesmo era a bola entrar.”

Com o empate no tempo regulamentar, a medalha de ouro olímpica foi decidida nos pênaltis. Weverton definidiu a cobrança de Nils Petersen, e coube a Neymar converter o tiro que garantiu o título. Para Micale, deixar a incumbência nos pés do atacante era uma decisão segura.

“Nós treinamos muito isso. Neymar treinava muita cobrança de falta e nosso time treinava muito pênalti. No final de treino, trabalhávamos muito. Era uma média de três a cinco pênaltis cada jogador", explicou, feliz por ter evitado o que chamou de uma “hegemonia total” da Alemanha no futebol.

“Se a Alemanha ganha (o ouro) nos Jogos Olímpicos, ela ia ter hegemonia total de futebol, porque ela ganhou a Copa do Mundo, a medalha feminina e, se ganha a masculina, ia fechar. E nós sabíamos disso. Conversamos: 'Não vão fechar, vamos tentar'", completou.

Tite: exemplo de apoio no Corinthians, mas pouca influência

Ao ser questionado sobre o mérito de Tite no ouro olímpico, Micale se mostrou incomodado. Segundo o ex-treinador da seleção olímpica, o comandante da seleção principal teve pouca influência no trabalho.

"isso é uma coisa que chega a ser até chato, porque o professor Tite é uma pessoa que tem todo um sucesso, campeão do mundo, consagrado. Tem feito um grande trabalho na seleção principal. Nós estamos sentindo prazer de ver a nossa seleção jogar - organizou, tem todos os méritos do mundo. Agora, nesse caso especifico (da Rio-2016), não foi dele que saiu isso. Não ouvi dele. Mas isso é como o telefonema do Felipão”, explicou.

“São pessoas que nos fortalecem, pela experiência que têm, por uma palavra, como faço com amigos meus. Até pessoas da imprensa falando isso (sobre a influência de Tite), que muitas vezes não avaliam a forma de jogar, o conceito de jogo que eu atuo e o professor Tite, que são diferentes. Não teve reunião, conversa sobre alteração de equipe - até porque, a partir do momento que deram o cargo de treinador da seleção olímpica, não poderia ninguém nem qualquer tipo (de interferência)", completou.

Micale e Tite - Lucas Figueiredo/MoWa Press - Lucas Figueiredo/MoWa Press
Rogério Micale diz não ter sofrido interferências em seu trabalho. Nem de Tite
Imagem: Lucas Figueiredo/MoWa Press

Micale deixou as categorias de base da seleção brasileira em fevereiro, demitido após a campanha no Sul-Americano Sub-20 – o time foi o quinto colocado do hexagonal final e acabou fora do Mundial Sub-20 de 2017. Para o treinador, faltou na CBF quem se lembrasse de seu trabalho como um todo, e não apenas o desempenho no torneio em questão.

“Foi um fracasso, foi ruim (o fiasco no Sul-Americano); mas também, até os 49 min do segundo tempo contra a Argentina, estávamos classificados e brigando pelo título. Tomamos o gol aos 49 min. Mas isso é outra história”, disse, relatando o “relacionamento de amigos de trabalho” com Tite.

“A partir do momento que assumi a seleção olímpica, ele ficou por conta da principal, fazia o trabalho dele. Nos encontrávamos algumas vezes, porque o setor é o mesmo, mas não trabalhávamos na mesma sala, não era todo momento. Chegamos a trocar algumas ideias sobre futebol e, mais para frente, quando acalmasse tudo, nós iríamos estreitar essa questão de filosofia, de conceito, de forma de jogar, que não deu tempo. Depois da Olimpíada, quando fui para o Sul-Americano, praticamente a gente não teve mais contato em função muito – acredito – por estar voltado à seleção, responsabilidade imensa. Eu penso isso. Não tive mais contato nem com o Tite nem com o Edu (Gaspar)", contou, indo além.

"Quando fui chamado à CBF, fui comunicado (da demissão) pelo (presidente Marco Polo) Del Nero. Falou que eu estaria sendo afastado pelo resultado. A justificativa foi o resultado (do Sub-20), só isso que me falou. Agora, o que eu penso sobre isso: de seis competições, foram quatro finais, um terceiro colocado e um quinto colocado. Não tem como fazer 100% toda hora. Eu olhei para os meus números de aproveitamento antes do Sul-Americano e estava batendo mais de 80%. A minha inspiração é a vida do professor Tite, assim como (do Muricy), que foi tricampeão brasileiro. A gente olha todos esses treinadores consagrados para se inspirar, nós que somos mais novos. O professor Muricy já teve momentos difíceis - assim como o professor Tite já teve um momento no Corinthians que, quando perdeu para o Tolima (na Libertadores de 2011) e que se alguém não banca ele para ficar, talvez hoje não tivesse nada", completou.