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Malucelli ameaça fechar clube, ir à Justiça Comum e detona STJD: "teatro"

Malucelli ameaça fechar as portas e ir até a Justiça Comum por punição ao Jota - Divulgação/J. Malucelli
Malucelli ameaça fechar as portas e ir até a Justiça Comum por punição ao Jota Imagem: Divulgação/J. Malucelli

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/04/2017 10h42

Joel Malucelli é um dos empresários mais poderosos do Brasil. Ex-presidente do Coritiba – quando o clube revelou Alex – é também o dono de um conglomerado com mais de 40 empresas em diversos ramos, entre eles, o futebol. Ao lado do primo Juarez Malucelli, Joel preside o J. Malucelli Futebol, que chegou a ser o Corinthians Paranaense por três temporadas. O clube, que tem uma folha mensal de R$ 4 milhões para 80 funcionários diretamente ligados ao futebol, foi punido pelo STJD pela escalação do atacante Getterson, em função de uma irregularidade em seu registro. É o caso que ainda pode paralisar o Paranaense e deve rebaixar o Jotinha – como é conhecido o time – para a segunda divisão local.

Joel contesta a decisão e ameaça fechar as portas do clube e ir à Justiça Comum contra o STJD por conta da decisão. Para ele, tudo o que se passou no Rio de Janeiro foi uma encenação. “Estamos revoltadíssimos, achamos que a reunião do STJD que julgou esse caso foi uma peça teatral”, dispara, com alvo certeiro: “O advogado Paulo Schmitt, com sua influência, solicitou a reunião, visitou os auditores e eles vieram com a decisão já tomada”, afirma. Schmitt defendeu o Toledo no caso, como terceiro interessado. Foi a primeira causa do ex-procurador do próprio STJD após 10 anos. Ao sair, Schmitt era investigado pela corregedoria do tribunal por conta de e-mails de Marco Polo Del Nero endereçados a ele, que indicavam uma suposta influência da CBF no tribunal desportivo.

O presidente do J. Malucelli nega o erro no registro de Getterson, que foi emprestado ao FC Dallas após uma frustrada negociação com o São Paulo. Joel afirma que o contrato estava em vigor no BID e assim segue. O UOL Esporte teve acesso a documentos que foram apresentados na defesa do Jotinha nos tribunais esportivos e que resultaram na punição em instância superior, em revisão da decisão do TJD paranaense que havia absolvido o clube. Por conta dessa absolvição é que o J. Malucelli chegou a disputar uma partida das quartas de final do Estadual, contra o Londrina, e venceu fora de casa por 3 a 1. Eliminado, deu lugar ao Rio Branco, nono na classificação, que “herdou” o quarto lugar – decisão do STJD contestada por Paraná e Cascavel e com julgamento ainda a ocorrer – e enfrentou o mesmo Londrina, que conseguiu sucesso na segunda chance e avançou às semifinais, no domingo, quando enfrentará o Atlético.

“O regulamento diz claramente que o jogador que voltar de empréstimo poderá ter a situação regularizada até a nona rodada. Nós regularizamos na terceira. Mas ele nunca saiu do BID. Ele já estava registrado quando foi emprestado ao Dallas”, argumenta Malucelli, apresentando os documentos. Ele ainda questiona a atuação de Schmitt de forma tão distinta em dois casos: o de Getterson e o de Petros, em 2014. “Quando o Corinthians foi julgado no Caso Petros, que é semelhante, quem absolveu foi o Schmitt, como procurador”, diz, citando a ação em que o Timão perderia quatro pontos por conta do contrato por empréstimo do Penapolense ao Corinthians, supostamente irregular pelas mesmas razões, a discrepância entre os sistema do BID e os documentos.

Nos documentos obtidos pelo UOL Esporte, os mesmos que foram endereçados aos tribunais, o J. Malucelli demonstra que Getterson tem contrato ativo firmado com o clube desde 11 de junho de 2014, com término previsto para dezembro de 2018. Em 03 de fevereiro, em comunicação com a CBF, o clube confirmou que o contrato estava ativo, antes portanto do jogo com o Cianorte (2 a 1), que compôs 6 dos 16 pontos perdidos. O J. Malucelli, porém, argumenta que o contrato estava ativo desde 1 de janeiro, apenas no aguardo do certificado. “É uma mera formalidade, mas o contrato está ativo. Se tratou de um empréstimo como se fosse um novo contrato. Como era um empréstimo, o sistema automaticamente já ativou o contrato de Getterson. Se fosse novo, não teria como”, disse Marcelo Contini, advogado do clube.

Documento J Malucelli - Reprodução - Reprodução
Documento apresentado pelo J. Malucelli mostra contrato ativo no BID desde 2014
Imagem: Reprodução

O J. Malucelli está fora do Paranaense 2017, mas ainda não está rebaixado. Passados oito dias da punição do STJD, ninguém sabe o que acontecerá com o clube – literalmente. O STJD repassou a decisão sobre a queda para a FPF resolver, o que ainda não aconteceu. A Federação evita o assunto. Enquanto isso, o Toledo protocolou um pedido de resposta sobre a situação no STJD. Joel Malucelli também não sabe o que fará com o Jotinha. Desde uma ida à Justiça Comum, o que pode trazer graves consequências até para a CBF, como o fechamento das portas do clube.

“Estudando juridicamente o que fazer. Estávamos muito bem no campeonato, jogaríamos provavelmente com o Atlético, as duas na Arena, financeiramente muito bom. Fomos alijados por um assunto que ganhamos aqui no TJD. Se isso permanecer, vamos até a Justiça Comum, vamos até fechar as portas do clube”, afirma, sem pestanejar: “Todos serão demitidos. Os jogadores que mantém contrato nós vamos emprestar. Os que vão vencer, não vamos renovar.” O Coritiba deve levar três jogadores para o Brasileirão, entre eles Getterson. O Londrina procurou o Jotinha para absorver parte da estrutura, num modelo de co-gestão. Sérgio Malucelli, gestor do Tubarão, é primo de Joel e a possível parceria aguarda essa definição.

Com isso, o J. Malucelli também não participaria do Brasileiro da Série D ainda nesse ano. O clube tem vaga garantida, mas, segundo seu presidente, deve abrir mão. “Vou comunicar a CBF que não temos mais condições de participar do Brasileiro e vamos encerrar o departamento de futebol. (O J. Malucelli) Foi apenado por uma interferência indevida. O prejuízo é irreparável”, lamenta Joel.