Contra o Peñarol, Palmeiras jogará na "Itaquera" de Montevidéu
Um estádio padrão Fifa, mas localizado em um bairro quase 15 quilômetros distante do centro da cidade, em uma região pobre e com acesso difícil. Brigas políticas para sua construção e a esperança de que o estádio traga para a região um desenvolvimento urbano. Poderíamos estar falando da Arena Corinthians, em Itaquera, mas se trata do Estadio Campeón del Siglo, casa do Peñarol desde o final de março de 2016, palco onde o Palmeiras jogará no próximo dia 26.
Uma mudança radical na vida dos torcedores do Peñarol, que ainda causa um misto de orgulho e lamentação. Orgulho pela obra realizada após muitas dificuldades – com um custo duas vezes maior que o previsto, de US$ 40 milhões (cerca de R$ 130 milhões), muito menos que o R$ 1,64 bilhão estimado para o custo final da Arena Corinthians – e lamentação pela dificuldade de acesso e saída do tradicional Centenário, palco da Copa de 1930 e no coração de Montevidéu.
“Fica longe, por que a prefeitura foi de alguma maneira vetando outros lugares que poderiam ser mais seguros ou centrais. Até que se conseguiu um lugar e se fez o estádio”, relata o narrador Enrique Hanania, da Rádio 1010 AM de Montevidéu. O Peñarol tentou erguer o estádio em quatro outros locais antes de chegar até o bairro de Bañados de Carrasco, longe do centro. Fica numa rodovia em um local com pouquíssima vizinhança, isolado em uma área ainda não bem acabada, próximo a algumas indústrias.
A região é pobre. Não há metrô, o acesso se dá por ônibus ou carro, uma viagem de no mínimo 30 minutos do centro da cidade. As casas mais próximas do estádio são simples, com alguns poucos comércios. O estádio é bonito, mas a caminhada do ponto de ônibus mais próximo até a entrada dele aparenta ser mais longa do que é, já que se caminha por uma larga região sem nenhuma outra obra. À noite, o local é menos convidativo.
“O estádio encanta a todos que lá vão, mas ainda não ficou cheio desde que se inaugurou”, conta Hanania, “Não tivemos partidas importantes até aqui e o Peñarol não passa por seu melhor momento desportivo. É certo que é incômodo para muita gente ir lá, é longe do centro, o montevideano é muito acomodado, e é mais difícil o acesso. É uma questão de costume. Quando começarem a ir, vão se acostumando”, aposta.
O UOL Esporte esteve por lá. Assim como em Itaquera, há a expectativa de que o bairro ganhe melhorias por conta do estádio. As ruas, por exemplo: são poucas para o acesso e isso vai ter que ser feito para evitar o tráfego. A Prefeitura da cidade vetou outros cinco planos que o Peñarol tinha, em bairros mais centrais, incluindo um de arrendamento e melhorias no Estádio Centenário – que, aliás, vem sendo pouco utilizado também pelo Nacional, o outro grande uruguaio, que dá preferência ao Gran Parque Central, estádio para 26.500 pessoas.
Na entrada principal há uma locomotiva, símbolo da origem ferroviária do Peñarol, clube de origem inglesa que nasceu dos operários que ajudaram a colonizar o país pelas linhas de trem. Com capacidade para 40 mil pessoas, o Campeón del Siglo vive ainda outro dilema parecido com o de Itaquera: a elitização. De acordo com uma pesquisa de torcidas de 2013, 43% dos uruguaios são torcedores do Peñarol. Ainda assim, a casa nunca encheu, nem mesmo na inauguração. Por uma questão de segurança, são vendidos apenas 35 mil ingressos. Além disso, o Peñarol vive uma cruzada contra as organizadas e seus atos de violência, que afastaram parte do público dos estádios. Por fim, uma discussão comum na Arena Corinthians se repete em Montevidéu.
“O estádio ainda está em expansão, tem uma tribuna preferencial com camarins, algo que não havia no Uruguai, algo muito mais luxuoso. Se teme uma divisão entre as pessoas que tem mais recursos e as que não tem e não podem ir lá. Mas isso é como na vida. Uns têm carros melhores, outros não”, argumenta o jornalista uruguaio, que comanda um programa apenas sobre o Peñarol.
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