Associação luta contra estádio na Gávea: 'Fla sempre foi péssimo vizinho'
Se depender da AmaLeblon (Associação de Moradores e Amigos do Leblon), a construção do estádio acústico do Flamengo na sede da Gávea não sairá do papel. A batalha está apenas no início, mas o posicionamento da associação do bairro da zona sul do Rio de Janeiro é contra qualquer projeto do Rubro-negro.
Não é a primeira vez que o Flamengo esbarra na Associação do Leblon. Alguns projetos para o estádio - ampliação, shopping - e a construção da Arena Multiuso de Esportes Olímpicos na Gávea já foram travados em outras ocasiões. O último, inclusive, será alvo de recurso na Justiça, o que já desponta como caminho natural para o novo tema em discussão.
O embate promete ser longo e nem sequer o protocolo de intenção assinado pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello e o prefeito Marcelo Crivella viabiliza a construção do estádio para 25 mil pessoas. Quem diz isso é a presidente da AmaLeblon, Evelyn Rosenzweig, que concedeu entrevista ao UOL Esporte e deixou claro que será muito difícil o clube transformar o sonho em realidade.
UOL Esporte: Por que a AmaLeblon não apoia o novo projeto do Flamengo para a construção do estádio na sede da Gávea?
Evelyn Rosenzweig: Quando surge algo do Flamengo sempre parece que é uma implicância do Leblon. Dizem que os moradores são cheios de 'mimimi', frescura, etc. O morador do Leblon só quer paz e qualidade de vida, como em qualquer lugar. Um exemplo: para tombarmos um cinema foi uma pressão enorme, para fazer um centro comercial outro problema seríssimo. Falou-se de trânsito e emprego. Você imagina um estádio para 25 mil pessoas. É o tipo de coisa que não traz clima de emprego, tranquilidade e desenvolvimento econômico para o bairro. É um clima de bebida, festividade e briga. Vai totalmente de encontro ao que as grandes cidades realizam. Não vivemos em um oásis e queremos apenas cuidar da tranquilidade do bairro. O Leblon não é diferente de lugar nenhum por isso.
UOL Esporte: O projeto contempla um estádio acústico e com o auxílio do metrô para a redução dos impactos sonoro e de trânsito na região. O que vocês pensam sobre isso?
Evelyn Rosenzweig: Um estádio para 25 mil pessoas é uma agressão ambiental e urbanística. Você consegue imaginar um toldo para fazer o estádio acústico? Eu não consigo. Não será nada muito diferente disso, pois aumentaria o custo. Qual é a chance de não vazar barulho? Enfrentamos diversos problemas aos fins de semana por conta dos eventos no Lagoon [complexo gastronômico e de entretenimento]. As pessoas reclamam e também querem viver dentro de casa com tranquilidade. Imagina com um estádio. Dizem que vão fazer apenas jogos menores. O Flamengo vai gastar uma grana para realizar um jogo por mês? Isso tem de ser justificado. Não vai ter campeonato? Não vai ter clássico? Cada jogo será como dispersar três blocos de Carnaval.UOL Esporte: A AmaLeblon já teve acesso ao projeto prévio e tomou conhecimento das intenções do Flamengo? Não há possibilidade de acordo?
Evelyn Rosenzweig: Não existe projeto e esse caso já tem jurisprudência. Vamos tomar as devidas medidas na Justiça assim que tivermos acesso aos documentos. O Flamengo quer ter um estádio para chamar de seu. É uma questão de vaidade, de foro íntimo. Não digo nunca, mas acho muito difícil que aconteça um acordo em relação a isso. Os moradores não querem. O próprio metrô foi muito difícil de ser aprovado. O estádio seria uma agressão urbanística e um equívoco gigantesco. Antes era uma arena, agora já é uma arena e um estádio. É lógico que vai ter barulho e confusão. A Selva de Pedra [conjunto de prédios vizinho ao Flamengo] quer viver. Nada justifica isso. Lutamos contra uma violência que só cresce e o Rio de Janeiro é outro. Precisamos estragar o que já está razoável?
UOL Esporte: O Flamengo tem um projeto com a Prefeitura para a reabertura dos restaurantes populares e ofereceu contrapartidas para que o protocolo de intenção fosse assinado. Não é possível que algo do gênero seja realizado no bairro e facilite o entendimento?
Evelyn Rosenzweig: O Flamengo sempre foi um péssimo vizinho, um péssimo parceiro. Nunca cuidou das calçadas das escolas públicas no entorno do clube. São propostas indecentes. É de um egocentrismo, como sempre existiu. Eles nos excluíram no processo da Arena Multiuso. Apareceu a questão ambiental, disseram que iriam propor uma alternativa e o negócio caiu no esquecimento. Derrubar árvore é uma coisa inaceitável. Recorremos no processo, fizemos interpelação judicial e não responderam. Só nos resta esperar, já que também não tem projeto. Foi apenas aprovado, mas aguardamos a coisa acontecer para recorrer.
UOL Esporte: Esse posicionamento é apenas da AmaLeblon ou vocês têm o apoio de outras associações de moradores vizinhas ao clube?
Evelyn Rosenzweig: Não é um posicionamento meu. As associações de moradores do Leblon, da Gávea, do Jardim Botânico e de Ipanema estão juntas. Ninguém aprova colocar um monstrengo em uma paisagem que é tombada. Precisamos considerar todos os aspectos e os moradores me cobram constantemente. A nossa posição é conjunta e clara.
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