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Multicampeão no Benfica, Jonas ainda vê Brasil defasado: "Falta muito"

Atacante é o maior artilheiro brasileiro da história do Benfica e não pensa em voltar - AFP PHOTO / PATRICIA DE MELO MOREIRA
Atacante é o maior artilheiro brasileiro da história do Benfica e não pensa em voltar Imagem: AFP PHOTO / PATRICIA DE MELO MOREIRA

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

18/05/2017 04h00

Jonas vive algo que nem mesmo o time liderado por Eusébio, craque português, conseguiu. Tetracampeão nacional pela primeira vez, o Benfica conta com o atacante para ampliar o domínio. De longe, o ex-Santos e Grêmio acompanha o futebol brasileiro e vê evolução. Só que as melhorias ainda deixam o jogo em solo verde e amarelo defasado.

“Em termos táticos falta ainda ter mais conhecimento. A gente sabe que a qualidade, o talento, está aí. Mas em relação a 2010, quando saí, o futebol em si está mais intenso. Até no Brasil tem mais força física, está mais rápido”, disse ao UOL Esporte.

A comparação, claro, é com a Europa. E no Benfica, Jonas encontrou o ‘filé’ em termos de estrutura. A reestruturação do clube é um dos segredos para a hegemonia no país. Maior artilheiro brasileiro da história do clube português, Jonas não tem planos para aposentadoria. E também não pensa em voltar ao Brasil. Por mais que os gremistas inundem as redes sociais clamando por um retorno.

Confira a entrevista completa:

Hegemonia que nem Eusebio conseguiu

Depois que acabou o jogo a gente nem sabia o que fazer [risos], mas na hora da celebração, quando encontramos a torcida, aí sim a gente viu a importância e caiu a ficha. Saía gente de nem sei onde, era muita gente. O clube nunca tinha conseguido esse feito e isso marca. Esse grupo, esse momento, vai ficar marcado.

Nota da Redação: No último fim de semana, o Benfica fez 5 a 0 no Vitória de Guimarães, com direito a gol de Jonas, e bateu o Porto na disputa do Campeonato Português da atual temporada. 

Como é o Rui Vitória, treinador do Benfica? 

O Rui Vitória é um grandíssimo treinador. Veio de um clube que não era acostumado a ganhar tanto, o Vitória de Guimarães, e em dois anos estou muito feliz de trabalhar com ele. É muito inteligente, prepara bem os jogos. E tem uma forma interessante de conduzir, não só o grupo, mas a imprensa também. Ele fala muito bem, conduz bem. Tem liderança.

Treinador não tem muito contato individual

A metodologia dele é a seguinte: um dia depois do jogo ele comenta e pede nossa opinião. Contato com jogador específico não é muito da filosofia dele. Claro que às vezes pergunta sobre cansaço, tenta gerir isso ou aquilo. Mas ele organiza a reunião pós-jogo e abre para ouvir e falar com os jogadores.

Benfica evoluiu em estrutura

Quando eu cheguei foi bom, mas peguei a parte "top". O Luisão [zagueiro, ex-Cruzeiro] pegou todos os processos para essa fase, ele está aqui há 15 anos. Ele fala que era muito difícil mesmo. Foram dias complicados, mas agora a estrutura é fantástica, tem tudo. Eu vou pela manhã e volto à noite com todas as refeições. Tem acompanhamento pós-treino, com ótima instalação para os profissionais e base. Muitos clubes, da Inglaterra e Espanha, estão vindo aqui para ver como é. A cada semana a gente vê estrangeiros fazendo tour e buscando informações. Eu peguei a parte do filé do clube (risos).

Briga na Champions é possível?

O fator principal é o fator financeiro. A gente sabe que o objetivo do presidente é diminuir a dívida do clube e ela vem baixando. E aqui eles vendem muito jogadores. Isso funciona muito, sempre saem um ou dois jogadores por temporada. Aqui em Portugal a política é ser o melhor. Fora a gente vai indo, progredindo.

Portugueses sempre de olho em sul-americanos

No Benfica nunca me perguntaram sobre um jogador específico. A política do clube é investir em sul-americanos, eles sabem que aí brotam ótimos jogadores. E sabem que o custo-benefício é bom. Compra por valores acessíveis e vende por um valor alto. O Benfica não faz loucuras, compra barato para depois vender caro. Isso justifica o caminho.

O que acha do futebol brasileiro?

Eu acompanho. Vi mais a parte final dos Estaduais. Às vezes a gente não vê os jogos ao vivo, a diferença de fuso é de quatro horas, mas a gente acompanha. Em termos táticos falta ainda ter mais conhecimento. A gente sabe que a qualidade, o talento, está aí. Mas em relação a 2010, quando sai, o futebol em si está mais intenso. Até no Brasil tem mais força física, está mais rápido. Já melhorou bastante, alguns treinadores estão fazendo ótimos trabalhos. O Tite fez trabalho espetacular no Corinthians, agora está na seleção. Quando eu estava no Valencia já falavam muito bem dele.

Gremistas pedem retorno

Os torcedores que eu acompanho mais são do Grêmio, até pelo meu último ano aí. Eu fico feliz, o carinho pelo Grêmio é muito grande. Eu gosto muito do clube, da cidade, mas eu não penso em voltar agora, não.

Vida garantida na Europa

Desde quando comecei fiz um planejamento financeiro com meus irmãos. Eles me ajudam com a carreira e hoje, graças a Deus, com cabeça e sem fazer loucura, eu tenho uma vida muito boa. E depois que parar tenho minha vida planejada. Fiz esses planos em 2006. Do Guarani para o Santos eu criei esse planejamento. Tracei essa meta e depois de quase 11 anos estou muito feliz.

Planos para aposentadoria

Eu não parei para pensar nisso, na verdade. É difícil sair do meio do futebol, mas gostaria de fazer outras coisas. Talvez investir em economia, administração. Cursos, nada de faculdade. Eu tenho um projeto da minha cidade também para formar jogadores, temos dado oportunidade para jovens de lá, e também quero dar sequência a isso.