"Cérebro" da Juventus fugiu da guerra e provocou a ira de torcida da Roma
A Juventus que volta a uma decisão de Liga dos Campeões após dois anos tem em Miralem Pjanic uma das principais referências de criação ofensiva. O bósnio de 27 anos foi um dos destaques da campanha até o momento e traz na bagagem de vida duas histórias que envolvem emoção à flor da pele: a fuga de uma guerra e a "traição" a uma das torcidas mais apaixonadas da Itália, a da Roma.
Choro do bebê Pjanic fez família escapar da guerra
Miralem nasceu em 1990, dois anos antes da Guerra da Bósnia, conflito que fragmentou a Iugoslávia em novas nações, como Croácia e Sérvia. O meia da Juventus é filho de um jogador de futebol do país, Fahrudin Pjanic. Na época, o ex-atleta sentia no ar o clima de animosidade que geraria milhares de mortes nos meses seguintes. Por isso, foi procurar refúgio em Luxemburgo.
"Era um tempo difícil. Jogar na Terceira Divisão te levava a lugares pequenos pelo país. Você podia sentir que algo estava errado, que tempos ruins estavam chegando", declarou o pai de Pjanic em entrevista ao jornal inglês "The Guardian", sobre o clima que antecedeu a guerra.
Com Fahrudin em Luxemburgo, sua esposa foi ao clube Drina clamar pela liberação do marido, que tinha contrato em vigência. Diante da relutância do presidente da agremiação, Fatima começou a chorar. No colo da mãe, o bebê Miralem também foi às lágrimas.
"Como qualquer outro bebê, ele sentiu que algo estava errado com sua mãe", relatou Fatima. Comovido pela cena, o presidente do Drina enfim aceitou desfazer o contrato do pai de Pjanic, ajudando a família a deixar a Bósnia.
Longe da guerra em seu país de origem, Pjanic cresceu em Luxemburgo, onde o pai conciliava a vida de jogador com o serviço em uma fábrica. Na pequena nação do Oeste Europeu, o menino bósnio se encantou pelo futebol. O pequeno Miralem sempre foi um estudante disciplinado, capaz de dominar vários idiomas – hoje o meia fala seis línguas. Em campo, veio à tona o mesmo perfil de dedicação.
"Eu treinava quatro horas por dia e executava muitos disparos de falta", relembrou o jogador em entrevista recente ao site oficial da Uefa.
Apesar de crescer longe da Bósnia, começando a carreira na França (Metz e Lyon), Pjanic decidiu defender a seleção de seu país. Em 2014, esteve no Brasil na primeira participação da história dos bósnios em Copas do Mundo.
32 milhões de euros: um "Judas" para a torcida na Roma
Se por um lado Pjanic é adorado pelos fãs bósnios, por outro despertou a rejeição de uma das mais fanáticas torcidas do futebol na Europa. Durante cinco anos o meia foi um dos principais jogadores da Roma. No entanto, no último verão, decidiu trocar a o time da capital italiana por um de seus maiores rivais.
Pjanic virou jogador da Juventus em uma transferência de 32 milhões de euros, assinando por cinco temporadas. Imediatamente, o jogador bósnio inspirou uma série de reações de indignação da torcida da Roma. Chamado de "Judas", o atleta teve camisas rasgadas e motivou ofensas das redes sociais. De quebra, acabou criticado pelo maior ídolo da história de seu ex-clube.
"Jogadores modernos são como nômades. Eles seguem o dinheiro, não o coração", afirmou Francesco Totti, em entrevista ao jornal Gazzetta dello Sport. "Não são muitos atletas que seguem o coração. Eles decidiram ir para outro lugar para tentar ganhar troféus e mais dinheiro", acrescentou o ídolo, sem citar nominalmente, mas respondendo ao questionamento sobre chegadas de Higuaín (ex-Napoli) e Pjanic ao elenco da Juventus.
Em contrapartida, Pjanic ganhou declarações de compreensão de ex-companheiros como De Rossi e Nainggolan. O bósnio também justificou sua decisão, falando em condições profissionais irrecusáveis: "Eu me mudei para um clube acostumado a ganhar e sempre buscar mais. Eles me apresentaram um grande projeto, que fascinaria qualquer jogador".
Cabeça pensante no meio-campo da Juve
A Juventus já apresentava feição de finalista mesmo no princípio da Liga dos Campeões. A campanha dos hexacampeões italianos foi sólida desde o início, culminando no retrospecto de invencibilidade: 9 vitórias, 3 empates e nenhuma derrotas. Nesta caminhada, que inclui a eliminação do badalado Barcelona, Miralem Pjanic sempre foi uma peça importante.
O bósnio participou de 11 partidas na campanha da finalista, até o momento. Foram 837 minutos em campo, com três assistências e um gol marcado, contra o Dínamo Zagreb, ainda na fase de grupos.
"Eu sempre acreditei nele. Ele é um dos melhores jogadores da Europa", elogiou Massimiliano Allegri, técnico da Juventus, em entrevista ao site oficial da Uefa.
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