Aposentado há um ano, P. Baier fez estágio com Caio Jr. e quer ser técnico
Tudo caminha para que, muito em breve, mais um ‘velho conhecido’ (sem trocadilhos) do futebol brasileiro passe a fazer parte do mundo dos técnicos. Ele pendurou as chuteiras como jogador há exato um ano e, desde então, estuda e trabalha para ser treinador – o que por pouco não aconteceu em fevereiro deste ano. Paulo Baier, o ‘velhinho bom de bola’, como ele mesmo gosta de ser chamado, conversou com o UOL Esporte e falou sobre as suas pretensões.
Baier, diferentemente da maioria dos jogadores, diz não ter sofrido com a aposentadoria e alega que o pensamento imediato em virar treinador ajudou a aliviar esse sentimento. A despedida foi anunciada ao fim da partida do dia 5 de junho de 2016, pela segunda divisão do Campeonato Gaúcho. “Vai fazer um ano que eu encerrei a carreira. Eu terminei aqui no São Luiz de Ijuí-RS, na minha terra natal, onde eu comecei, com 41 anos. Foi bom”, recorda.
“Eu pensei que [a aposentadoria] seria mais difícil para mim. Eu parei e coloquei uma coisa na minha cabeça: que eu queria ser treinador”, acrescenta Paulo Baier, que chegou a fazer um estágio com Caio Júnior duas semanas antes do trágico acidente com o avião da Chapecoense.
“Aí eu fiz o curso de treinador em Porto Alegre, para ter a carteira de treinador, e fiz um estágio com a Chapecoense antes daquele ocorrido... Duas semanas antes do acidente eu tinha feito um estágio com o Caio Júnior. Tive três passagens com ele: no Palmeiras, no Criciúma e no Goiás, e se criou uma amizade bacana. Infelizmente aconteceu o fato lamentável, mas foi um estágio bacana e agora eu estou vendo bastante jogos, analisando e anotando no caderno. Quem sabe no início do ano [2018], ou esse ano mesmo, a gente começa a trabalhar”, conta Paulo Baier, que ainda sofre com a perda de outros amigos no acidente.
“Foi bem difícil. Eu lembro que na época a minha esposa, às 7 horas da manhã, me acordou chorando e me falou que o avião da Chapecoense tinha caído. E aí era mais pela emoção, porque a gente conviveu 21 anos andando de avião pra lá e pra cá. Eu lembro do Cléber Santana no Atlético-PR e no Criciúma, era um amigo meu particular. Realmente foi chocante, eu não tive nem coragem de ir a Chapecó porque eu não iria conseguir. Uma pena, e a gente torce para as pessoas... o Vagner Mancini, que é um amigo meu também... E ficar tocando o barco, tomara que eles consigam ter sucesso. O Caio Jr. era muito gente boa. Além de ter sido jogador e treinador, a imagem dele fica como essa: um cara bacana, um cara correto, honesto e trabalhador que queria sempre ganhar, então isso sempre vai ficar marcado”, acrescenta.
Bom tempo como artilheiro do Brasileiro
Paulo Baier não era atacante, mas mesmo assim alcançou o que parecia até impossível: a artilharia do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos. Foram 106 gols marcados e liderança que durou até maio de 2015, quando Fred, hoje com 127 gols, superou-o.
“Eu fiquei por oito anos como sendo o maior artilheiro dos pontos corridos do Brasileiro, com 106 gols. O Fred já passou, eu estava torcendo para ele ir embora [risos], para eu assumir, mas não teve jeito... Mas uma hora ia passar. Enfim, eu consegui deixar a minha marca, era uma coisa que nunca passava pela minha cabeça, mas com o meu trabalho eu consegui deixar um legado no futebol brasileiro”, diz Paulo Baier.
“Tite é o melhor de todos”. As inspirações para técnico
Com mais de 20 anos como jogador profissional, Paulo Baier passou na mão de diversos técnicos. E sem pensar muito, ele elege o seu preferido: Tite, hoje técnico da seleção brasileira.
“Eu passei por vários treinadores e, de cada um, você tira as coisas boas, você grava, e as coisas ruins deixa passar. O Tite foi o meu treinador no Palmeiras, é o melhor de todos. O Vagner Mancini no Atlético-PR, para mim, como leitura de jogo, como observador do campo, é realmente muito bom, e o Geninho é um paizão, vamos dizer assim. Ele consegue agregar todo mundo. Então são esses três. Lógico, tem outros que eu poderia citar, como o Antônio Lopes. Eu gostaria de, lógico, com meu modo de pensar, ter um pouquinho de cada”, afirma.
“Velhinho”: Apelido carinhoso até agrada
Com o fim da carreira se aproximando, Paulo Baier ganhou um apelido que, para alguns, pode até chegar a incomodar. Mas não é o caso do ‘velhinho’ nascido em Ijuí (RS).
“Ah, isso era direto, né? Me chamavam: ‘ô velhinho’, porque aqui no Sul os caras me chamam de ‘velhinho bom de bola’, e daí pegaram: ‘ô velhinho’ pra cá, ‘ô velhinho’ pra lá, e aqui tem o Paulo Brito, um narrador aqui da RBS, e quando ele fazia os jogos ele, quando eu fazia gol em outros clubes, falava, ‘o velhinho bom de bola marcou lá’ [risos], e aí pegou, né, não teve jeito. Mas é uma coisa bacana, eu não tenho problema com isso”, analisa Paulo Baier.
Falta de pagamentos provocou saída antecipada do Palmeiras
Paulo Baier chegou ao Palmeiras no fim de 2005, como ‘presente de Natal’ prometido pelo então diretor de futebol Salvador Hugo Palaia. A fase do time alviverde não era das melhores, tanto dentro como fora de campo. Atrasos em alguns pagamentos, inclusive, provocaram a saída precoce de Baier, na metade de 2007. Até o goleiro Marcos tentou intervir, mas em vão.
“Eu fiquei um ano e meio no Palmeiras, e daria para eu ter ficado mais. Eu tinha mais meio ano de contrato ainda, mas tinha o fato de salários atrasados, na realidade a minha imagem... Era de quatro meses de salários atrasados. Eu tinha mais luvas e um monte de coisa atrasada, na hora só saia e não entrava nada, então ficava mais complicado. Aí eu fui falar com o presidente naquela época, que era o Afonso Della Monica, e falaram para mim que não tinha como pagar e iam me liberar. Até na época o Marcão [goleiro] tentou se meter no meio para me segurar, mas não deu certo”, lamenta o ex-jogador.
O que fazer para ser um bom treinador?
Prestes a se arriscar na profissão, Paulo Baier conta o que tem em mente para ter sucesso como técnico. E já sabe: não será uma missão fácil. Pelo contrário. “Hoje, para ser treinador, tem de ser mais um administrador do que um próprio treinador. São cabeças diferentes. Você tem o seu modo de pensar, a sua personalidade, mas como treinador você tem de lidar com 30 cabeças de jogadores, é diferente, então tu tens de ser mais um administrador, e eu acho que consigo fazer bem isso”, opina Paulo Baier.
“Mas é o que eu digo, não é fácil ser treinador, você tem de realmente gostar mesmo da profissão. Eu tenho já algumas coisas encaminhadas, mas para eu iniciar eu tenho de iniciar bem e começar bem num time que me dê condições para que eu possa fazer um bom trabalho, porque não adianta eu iniciar e iniciar mal e ter uma decepção. Tem que ir com calma, sem pressa, e tentar fazer sempre um time bom. A minha ideia é começar no time profissional mesmo, e não passar na base, mas vamos ver, vamos aguardar”, completa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.