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Siemsen envia carta e culpa a crise em dia de aprovação de contas no Flu

Peter Siemsen, ex-presidente do Flu, falou sobre as contas de 2016 - NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.
Peter Siemsen, ex-presidente do Flu, falou sobre as contas de 2016 Imagem: NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

08/06/2017 11h46

A aprovação das contas referentes ao exercício de 2016 fazem esquentar o clima político nas Laranjeiras. Antes da reunião da noite desta quinta-feira, o ex-presidente Peter Siemsen enviou carta aos conselheiros. No comunicado, ele pediu que as contas sejam aprovadas.

Siemsen ressaltou a grave crise financeira pela qual o Brasil atravessa, destacou conquistas patrimoniais de sua gestão e admitiu erros, como a troca de fornecedor de material esportivo.

"Como todos estão cientes, passei 06 (seis) anos a frente do nosso Clube, enfrentando inúmeras dificuldades e desafios. Particularmente, os números apresentados em 2016 refletem um momento muito difícil. Foi um ano de algumas escolhas que não se mostraram eficazes, como, por exemplo, o caso da fornecedora de material esportivo. Somado a isso, o país viveu (e vive) a maior crise econômica e política das últimas décadas, causando a perda do patrocinador master logo no segundo ano sem o antigo parceiro.", escreveu Siemsen.

Conforme publicou o UOL Esporte, um grupo intitulado "Associação Nacional Tricolor de Coração" alega que apenas uma maquiagem nas contas permitiu que o Flu fechasse o ano passado com um superávit de R$ 8 milhões.

Pelos cálculos defendidos por estes conselheiros, o número que representa o desempenho real financeiro do tricolor indica um déficit de R$ 72 milhões, que só foi turbinado graças aos recebimentos futuros referentes ao contrato com a Rede Globo.

Estes conselheiros entendem que a inclusão das receitas de televisão (cujo contrato vigora a partir de 2019) fere as regras do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut). Para os opositores, esta antecipação caracterizaria gestão temerária e poderia fazer com que o clube perdesse os benefícios da medida. A lei veda "antecipar ou comprometer receitas referentes a períodos posteriores ao término da gestão ou do mandato", mas abre uma brecha para um "percentual de até 30% das receitas referentes ao primeiro ano do mandato subsequente e "em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível de endividamento".

Este grupo defende ainda que a contabilidade "real" do Fluminense apontaria para um déficit anual acima de 20% da receita bruta apurada, o que também representaria gestão temerária aos olhos do Profut.

O UOL Esporte apurou que a atual diretoria tricolor está segura que o clube não ultrapassou o teto estipulado e que não há risco algum em relação à manutenção no Profut. À época da assinatura, Pedro Abad, atual presidente, presidia o Conselho Fiscal tricolor. Ele foi o escolhido por Peter Siemsen e seu grupo político para ser o candidato na eleição de novembro passado.

São 300 conselheiros com direito a voto. Para que Siemsen tenha suas contas aprovadas, basta que a maioria simples vote a favor. O Conselho Fiscal já se mostrou favorável ao sinal verde. No entanto, o trio responsável pelo parecer enviado aos conselheiros deixou um alerta: "não se pretende, de nenhuma forma, mascarar a delicada situação administrativa, econômica e financeira deixada ao final de 2016".

Procurado, Pedro Abad informou que não se manifestaria antes da reunião desta noite. A reportagem procurou Peter Siemsen, mas não obteve resposta.

Confira a íntegra da carta de Peter Siemsen:

Rio de Janeiro, 07 de junho de 2017.

Prezados Conselheiros,

Amanhã teremos a reunião para aprovação das contas de 2016 do Fluminense Football Club. No intuito de contribuir para a formação da opinião dos Senhores, gostaria de tecer alguns comentários.

Como todos estão cientes, passei 06 (seis) anos a frente do nosso Clube, enfrentando inúmeras dificuldades e desafios. Particularmente, os números apresentados em 2016 refletem um momento muito difícil. Foi um ano de algumas escolhas que não se mostraram eficazes, como, por exemplo, o caso da fornecedora de material esportivo.

Somado a isso, o país viveu (e vive) a maior crise econômica e política das últimas décadas, causando a perda do patrocinador master logo no segundo ano sem o antigo parceiro. Vale lembrar, também, a situação do Maracanã. Ficamos praticamente todo o ano de 2016 sem utilizar o estádio em decorrência do conflito entre a Concessionária e o Governo do Estado, apesar de termos um contrato válido pelo período de 30 (trinta) anos. Enfim, foi um ano muito difícil.

Apesar disso, paralelamente, o Clube se desenvolveu como não ocorria há décadas. Acrescentou em seu patrimônio um Centro de Treinamento de ultima geração com dois campos, área técnica do futebol profissional e de funcionários construída e em uso. O prédio de cinco andares foi totalmente construído, faltando apenas o acabamento interno e mobiliário. O valor patrimonial com um contrato de 100 anos de cessão do terreno e com as benfeitorias fica ao redor de cem milhões de reais. O Centro de Treinamento do Vale das Laranjeiras foi totalmente modernizado e estruturado para ser um dos melhores CTs de formação de jovens atletas. Temos, ainda, o estabelecimento de uma filial (Samorin) na Europa para o aprimoramento desses atletas formados na base. Ao galgar divisões superiores, a filial também vem se valorizando patrimonialmente.

Como resultado, atualmente o Clube conta com um grande número de atletas jovens com ótimo valor de mercado, que pode ser considerado um patrimônio não contabilizado.

Finalmente, o Clube Social foi recuperado, com a reforma integral da piscina olímpica, criação do museu, construção da fossa para o Tiro, reforma do Salão Nobre, Bar dos Guerreiros, dentre outras realizações. O Clube fez as primeiras captações para o esporte olímpico por meio de projetos aprovados junto ao Ministério dos Esportes, totalizando o valor de R$ 7.200.000 (sete milhões e duzentos mil reais) até o momento.

Aproveito para reforçar o meu apoio à atual Diretoria, a quem lutei para eleger, que, mesmo diante das dificuldades enfrentadas, vem trabalhando duro para o sucesso do Fluminense.Finalmente, agradeço ao Conselho Fiscal pela posição de apoiar a aprovação das contas referentes ao exercício de 2016 e me coloco à disposição para eventuais esclarecimentos durante a sessão do Conselho Deliberativo.

Saudações tricolores,
Peter Eduardo Siemsen