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Em busca de talentos, Adhemar vira técnico e é expulso logo na estreia

À frente do Porto Feliz FC, Adhemar assumiu o comando de times de base do Audax - Porto Feliz FC/Divulgação
À frente do Porto Feliz FC, Adhemar assumiu o comando de times de base do Audax Imagem: Porto Feliz FC/Divulgação

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

20/06/2017 04h00

Ao longo da carreira, Adhemar ficou conhecido por seu forte chute de perna direita. Foi com ela que, em 26 de novembro de 2000, o então camisa 18 marcou o gol da vitória do então desconhecido São Caetano por 1 a 0 diante do Fluminense no Estádio do Maracanã.

Hoje, passados cinco anos de sua última partida oficial de futebol, a perna direita de Adhemar pode descansar. O meia-atacante, porém, segue ligado ao futebol. Em 2017, fez sua estreia como técnico de futebol: desde 10 de junho, é ele que comanda o Grêmio Osasco Audax na categoria sub-17 do Campeonato Paulista.

O convite acabou surgindo de forma incomum. Em 2017, as categorias sub-15 e sub-17 do Audax foram terceirizadas. Quem assumiu o time foi o Porto Feliz Futebol Clube, projeto social na cidade Porto Feliz (SP) que tem Adhemar como um dos sócios. Após a derrota por 5 a 0 para o Ituano na nona rodada do sub-17, o Audax decidiu mudar a comissão técnica – e, a partir do jogo contra o Oeste na décima rodada, Adhemar ganhou a chance.

“A gente estava sem o treinador do sub-17 e eu assumi. Assumi com um empate na primeira partida diante do Oeste em Barueri”, explicou Adhemar em entrevista ao UOL Esporte.

Na partida em questão, em 10 de junho, o Audax ficou no 1 a 1 com o Oeste pela décima rodada do Paulista sub-17. No entanto, as lembranças do jogo não são as melhores – no fim do primeiro tempo, Adhemar acabou expulso pelo árbitro José Paulo Canale.

“Aos 39 minutos de jogo, expulsei do banco de reservas o senhor Adhemar Ferreira de Camargo Neto (…), técnico da equipe Grêmio Osasco Audax Esporte Clube, por reclamar insistentemente das decisões da arbitragem; o mesmo havia sido advertido anteriormente”, relata a súmula do jogo.

O próprio Adhemar, porém, mostra bom humor para explicar a expulsão. “Eu tive um excesso de reclamação. (Na verdade), eu não fui expulso – ele (árbitro) pediu para eu me retirar do campo”, disse, rindo.

Súmula Grêmio osasco Audax - Reprodução - Reprodução
Súmula relata expulsão de Adhemar após reclamações a árbitro
Imagem: Reprodução

“Esse é um mal: quem comanda lá fora se exalta. Mas não era reclamação. Eu até falei para ele: ‘Eu te respeitei, em momento algum eu te agredi verbalmente’. Fui pedir desculpas para ele, assim como ele veio pedir desculpas pra mim… Mas eu questiono muito a marcação por causa da marcação. Como o lance é interpretativo, ele reclama do lado dele e eu reclamo do meu lado”, completou.

O início da trajetória de Adhemar no Audax, porém, é irregular. Na categoria sub-17, depois do empate diante do Oeste, o time de Osasco sofreu uma derrota para o Primavera por 1 a 0. O Audax é vice-lanterna da chave, com oito pontos em 11 partidas.

Os resultados, no entanto, não são o único objetivo do Adhemar na parceria entre Porto Feliz FC e Osasco Audax. Como técnico, o ex-jogador – que se diz um “viciado em futebol” – quer aproveitar a chance para ajudar na formação dos jogadores, dentro e fora de campo.

“O que eu passo para eles é situação real de jogo, o que eu vivi, o que eu passei lá dentro. Eu não pego e falo alguma teoria para eles, que pode acontecer isso ou aquilo. Para mim, são meninos em processo de formação, e você tem que dar toda a tranquilidade para eles entrarem lá e fazerem o melhor sem estarem travados. Senão eles não vão ter essa tranquilidade para eles desenvolverem o que eles querem”, diz Adhemar, indo além.

“Eu estou para o futebol assim como o futebol está para mim. Eu sou fanático, sou viciado em futebol. E espero poder contribuir de alguma maneira com algum menino que vá poder dar uma condição de vida melhor. De repente, não seja uma atleta profissional, mas seja um homem, possa ter uma vida digna, possa ser um exemplo de pessoa. A gente tem que fazer a parte social primeiro para depois vir a parte profissional”, completou.

Vida estável, projeto social e "ajuda" ao Governo

Longe dos gramados, Adhemar está feliz. Satisfeito com o trabalho no Porto Feliz FC e nas categorias de base do Audax, prefere se concentrar na formação de jogadores – por isso, por enquanto, não pensa em trabalhar como técnico de um time profissional, por exemplo.

“No momento, eu penso só em base. Não é fácil você ter que comandar 20, 22 cabeças. A gente sabe que é difícil (treinar um time profissional), mas quem sabe futuramente? O curso (de treinador), eu acho interessante, você até agrega alguma coisa. Mas a gente pode ter um preparador físico que tenha toda essa visão moderna, juntando com a antiguidade e fazendo um time coeso”, analisa o ex-camisa 18, que diz levar uma vida tranquila desde deixou os gramados.

“Depois que eu parei, me engajei no meu projeto social, e tenho investimentos que graças a Deus me deixam uma vida estável. E eu não parei com o futebol; eu sempre estive no futebol. Apesar de ter aposentado profissionalmente, eu sempre estive no social e na base. Acho que é uma maneira de a gente poder passar um pouquinho do que a gente aprendeu de uma maneira mais tranquila, sem tanta cobrança, pra que a gente possa tirar o máximo desses meninos que possam vir a, futuramente, se tornar um grande atleta”, acrescentou.

No projeto social que organiza em Porto Feliz, Adhemar exige que os jovens jogadores tenham boas notas escolares. Para ele, é a chance de suprir uma lacuna que nem sempre o poder público consegue.

“Isso faz com que eles tenham um pouco de obrigação de estudar, já que o Governo e o município dão uma relaxada nos meninos”, explica, cornetando a política. “Na realidade, quem deveria fazer isso seria o Governo, mas a gente dá uma mãozinha para o Governo. Fica tranquilo que a gente ajuda o Governo. Mas o importante é a gente criar uma sociedade digna, um homem, um cidadão. A gente não pode salvar o mundo, mas algumas pessoas a gente pode encaminhar”, completa.