Deola vive nova realidade na A3: "Jogadores pegam 2 ônibus para ir treinar"
Conhecido por sua passagem pelo Palmeiras, o goleiro Deola agora tem uma realidade bem diferente do glamour e dos holofotes dos tempos de Palestra Itália. Camisa 1 do Clube Atlético Taboão da Serra, que disputa a Série A3 do Campeonato Paulista, o jogador de 34 anos vive no dia a dia o contato com o lado B do futebol, com salários humildes e companheiros de time que chegam a pegar até dois ônibus para irem treinar.
Em entrevista ao UOL Esporte, Deola contou que virou espelho e conselheiro dos jovens atletas do Taboão por “saber o caminho das pedras”. E, apesar de estar enxergando com positividade a passagem por uma equipe da Série A3 paulista, o goleiro pretende retornar ao “futebol badalado”.
“É uma outra realidade do glamour que todo mundo vê, que a TV e o rádio noticiam. Mas é diferente, porque aqui você acaba ouvindo outras histórias e acaba entendendo outra realidade do futebol, que não é tão badalado, não tem tanto dinheiro envolvido e tudo mais”, falou Deola.
Em muitos momentos, o arqueiro já se deparou com atletas cansados com a situação e o desgaste. E nessas horas, Deola usa de sua experiência de quase 20 anos em clubes grandes para motivar seus atuais companheiros de elenco.
“São pessoas que são trabalhadoras. Trabalhadores comuns que têm de acordar cedo, que pegam ônibus, tem que fazer baldeação, saem seis e pouco da manhã para poder trocar de transporte. Tudo para chegar nove horas no estádio, no treino. Então é uma peregrinação que as pessoas têm que fazer e esse acompanhamento é bem legal, porque essa pessoa chega estressada, xingando... O caminho dela não é favorável. Então você acaba tendo que manter a autoestima dela, fazer com que a pessoa continue motivada, continue sonhando”, contou o goleiro do Taboão da Serra.
No Taboão, Deola também reencontrou um torcedor palmeirense. Na época que era jogador do clube alviverde, o goleiro atendeu um fã na porta do centro de treinamento na Barra Funda e depois de oito anos os dois se tornaram companheiros de posição no mesmo time.
“Eu me sinto muito respeitado aqui, sou muito usado para essa questão de aconselhamento, de ajuda. É até engraçado, porque tem o outro goleiro que tem 22 anos, ele falou que quando tinha 14, ele foi lá no Palmeiras pedir autógrafos no portão e eu dei, bati foto. Agora reencontrei com ele”, disse o arqueiro.
Antes do Taboão, o Juventus da Mooca
Deola teve uma rápida passagem pelo Juventus nessa nova fase da sua vida. Quando decidiu retornar da pausa na carreira como jogador profissional, o goleiro recuperou a forma, treinou no sindicato dos atletas em São Paulo e foi contratado pelo clube da Mooca em outubro de 2016. E ficou impressionado com o tradicional estádio da Rua Javari.
“Como a torcida fica muito perto, o barulho é potencializado lá. Ali você tem dois mil, três mil torcedores assistindo. Mas é como se você tivesse jogando no Pacaembu com 40 mil, porque a gritaria fica muito forte, a torcida fica muito mais intensa. A torcida está muito pertinho, o som concentra no campo. E isso aí acaba ajudando”, contou.
“Então tem várias coisas, tem torcedor que canta o jogo inteiro. Mas tem ali aquela torcida batizada pelo Felipão como turma do amendoim. Teve jogo que a gente estava ganhando de 2 a 0 e a torcida estava xingando. São torcedores que temos que enfrentar”, acrescentou.
No início do ano a equipe disputou a segunda divisão paulista, e quase conseguiu a classificação, mas ficou de fora. Por alguns problemas, Deola acabou parando de atuar pelo clube.
“Comecei jogando, fazendo os jogos, porém depois tive um probleminha e acabei ficando de fora das partidas e depois acabei não conseguindo mais jogar. Mas foi bom. A nossa expectativa era classificar realmente, mas a gente sabia que tinha time mais forte que o nosso, mas a gente confiava no nosso time”, contou o jogador, sem revelar o que o tirou do time da Mooca.
Goleiro move processo contra Palmeiras, mas é grato ao clube
Deola acionou o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) contra o Palmeiras e pede pouco mais de R$ 2,5 milhões. O goleiro acusa o clube alviverde de atrasar salário, direito de imagem e de não indenizá-lo em virtude de duas lesões graves sofridas no período em que esteve no clube.
“O Campeonato acabou em dezembro e em fevereiro entrei em contato com o Paulo Nobre e ele respondeu que estava com problema de fluxo de caixa, mas a gente via o Palmeiras contratando um monte de gente e tudo mais e meu salário não era grande coisa, nada significativo, que iria dificultar alguma coisa”, explicou.
A defesa de Deola se baseia no artigo 45 da Lei Pelé para pedir indenização de R$ 1,5 milhão pelos períodos lesionados. O Palmeiras não teria firmado acidente pessoal contra lesões vinculadas a atividades esportivas.
“Não estou pedindo indenização, eu estou pedindo algo que simplesmente tinha que ter e acabou não tendo. Mas isso tudo só aconteceu por causa da demora do pagamento, se tivessem me pagado não saberia disso, não teria me importado com isso. Mas como eu fiquei sete meses desemparado por um clube que eu joguei 17 anos... O problema mesmo não é do Palmeiras, que eu torço, eu devo minha vida ao time, passei 17 anos da minha vida lá. Só que foi a má gestão que me desamparou”, falou.
O atleta também contesta o acordo de direito de imagem firmado. Os valores dos direitos de imagem deveriam ser colocados na carteira profissional. A defesa do goleiro alega que o Palmeiras descumpriu prazo de pagamento do 13º salário. Há ainda o pedido de reconhecimento da natureza remuneratória do Direito de Arena, a integração ao 13º salário e férias.
Era visto como o sucessor de Marcos no Palmeiras
Deola estreou no time principal do Palmeiras em 2009, teve uma boa sequência em 2010 e foi apontado como sucessor de Marcos. O arqueiro assumiu a titularidade de vez com a aposentadoria do ídolo em 2012, mas as boas atuações foram diminuindo.
Ele, então, perdeu a vaga para Bruno e não jogou com a camisa palmeirense. Depois teve passagens por Vitória, onde foi conquistou o acesso para a Série A, e Fortaleza, mas resolveu pausar a carreira dar um “descanso para o corpo”.
O arqueiro explica a queda de rendimento no Palmeiras como “uma mentira contada tantas vezes que acabou virando verdade”. Para Deola, em muitos momentos que o culparam por gols sofridos, a responsabilidade não era somente dele, e sim de todo o elenco que passava por má fase.
“Ajudei o time nos dois anos a não cair. Só que eu ainda era visto como reserva do Marcos. Aí depois que ele parou, acabou praticamente caindo minha blindagem e aí começaram a ter gols que não eram culpa minha, mas que estavam colocando na minha conta. Então eu acho que o problema maior foi esse, uma mentira contada várias vezes acaba virando verdade. Eu não estava falhando, falavam muito que eu estava e eu mesmo acabei acreditando que eu estava. Ai que comecei a falhar mesmo”, desabafou.
Deola acredita que se encaixaria no atual elenco do Palmeiras, mas acredita que atualmente as coisas são diferentes.
“Lógico que vou falar que me encaixaria (rs). Eu confio no meu potencial, só que são outros tempos. Eu passei por uma fase no Palmeiras na qual não se tinham jogadores badalados. Em 2010 eu fui um dos goleiros que mais fez defesa no campeonato. Então a gente ficava muito exposto, hoje não. Hoje o time tem um padrão, tem vários jogadores reservas bons. Então são outros tempos. Mas é lógico que gostaria de estar nesse time de agora, mas a minha fase foi em outros tempos”, falou.
A ambição de retornar ao “futebol badalado”
Após uma pausa da carreira, Deola retornou aos gramados e passou pelo Juventus antes de chegar ao Taboão. O atleta valoriza muito este período pelo qual está passando, mas pretende voltar aos clubes de grande expressão do Brasil.
“Se eu não tivesse ambição de voltar para um cenário maior eu não estaria nem mais jogando. Eu almejo voltar para um clube grande, mas se não voltar não vou me chatear por isso, porque já estive 17 anos em clube grande, então já aproveitei muito dessas oportunidades”, comentou o atleta, que não se arrepende da pausa.
“Sei que hoje estou num time menor por conta de escolhas profissionais minhas, que em determinado momento eu decidi não voltar e dar uma pausa no futebol para poder aprender outras coisas. E isso me ajudou muito. Então pessoalmente estou plenamente satisfeito com todo o decorrer da minha vida. E se hoje eu estou em um clube de menor expressão não é demérito nenhum meu, pelo contrário. Eu sou muito bem recebido aqui, muito bem tratado aqui. O importante é você não deixar de fazer o que você quer”, explicou Deola.
Deola também se preocupa com o futuro e por isso já se preparou para o momento que pendurar as chuteiras. Durante os 10 meses que esteve longe dos clubes de futebol, o arqueiro aproveitou para estudar e embarcar no ramo do empreendedorismo. Além disso, o arqueiro dá palestras motivacionais junto com o psicológico Ricardo Miura.
“Não tenho áreas específicas, mas eu procuro ir muito atrás das informações. Então se tem uma empresa que está precisando de uma matéria e eu sei quem fabrica, eu vou intermediar e lógico que vou ter meu ganho. Mas eu hoje atuo bastante com área de marketing multinível, algo que me cativou”, explicou.
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