Por que Barça e Real vendem jogadores e contratam de volta pagando mais?
A recente contratação do atacante Gerard Deulofeu pelo Barcelona colocou uma dúvida na cabeça de muitos fãs de futebol. Por que o clube catalão gastou 12 milhões de euros para trazer de volta um jogador que ele mesmo havia vendido por 6 milhões há apenas dois anos? A resposta está em um dispositivo contratual que está se tornando cada vez mais popular para substituir o tradicional empréstimo: a cláusula de recompra.
Com essa cláusula, um clube que vende um atleta pode inserir em seu contrato uma opção de comprá-lo de volta no futuro por um valor pré-determinado. À primeira vista, pode parecer irracional vender um jogador já pensando em pagar mais caro para tê-lo de volta. Mas a prática, se bem executada, pode apresentar benefícios para todas as partes envolvidas – o comprador, o vendedor e o atleta.
Benefícios da recompra
A cláusula normalmente é utilizada na venda de jogadores jovens, que acabaram de subir das categorias de base e não terão espaço no elenco principal de clubes grandes. Assim como o empréstimo, a ideia é dar tempo de jogo a garotos promissores para que eles se desenvolvam em times menores. Porém, há uma vantagem já de cara para o vendedor: se o jogador não der certo, o clube já recebeu dinheiro pela venda dele. Basta não exercer o direito de recompra.
Já se o jogador explodir em outra equipe e chamar atenção, o clube grande terá a possibilidade de tê-lo de volta a um preço fixo – sim, é mais do que o valor inicial da venda, mas provavelmente também é menos do que o clube menor pediria em uma negociação caso a cláusula não existisse.
Para a equipe que contrata, o principal atrativo é conseguir jovens promessas de clubes grandes a um preço acessível, o que possivelmente seria inviável sem a inserção da cláusula no contrato. Além de fortalecer seu elenco, o time já tem no horizonte uma perspectiva concreta de lucro com o atleta – basta ele se destacar e chamar a atenção do clube vendedor.
Por fim, o atleta também é beneficiado porque, ao contrário do empréstimo, a venda em definitivo com cláusula de recompra estimula o clube que gastou dinheiro para comprá-lo a dar a ele o máximo possível de tempo de jogo. Muitos jovens emprestados continuam encostados em suas novas equipes, estagnando sua evolução e até mesmo prejudicando carreiras promissoras.
Crescimento na Europa
Barcelona e Real Madrid são os grandes expoentes do uso da cláusula de recompra. Os catalães, além de Deulofeu, já acionaram o dispositivo para contratar o meia Denis Suárez do Villarreal na temporada passada. Mas também inseriram essa possibilidade ao vender promessas da base que não vingaram como esperado, casos do zagueiro Fontàs (hoje no Celta), do volante Jonathan dos Santos (Villarreal) e do meia Halilovic (emprestado pelo Hamburgo ao Las Palmas).
Já o Real deve à clausula de recompra a consolidação de três jogadores importantes: o lateral Carvajal, o volante Casemiro e o atacante Morata, que se desenvolveram e ganharam destaque respectivamente no Bayer Leverkusen, no Porto e na Juventus antes de voltarem ao time de Madri. Hoje, os dois primeiros são peças fundamentais da equipe, e o terceiro deve ser vendido novamente na próxima janela de transferências.
Em outros países, a prática também vem se tornando uma realidade. O Manchester United inseriu a opção ao vender o atacante Memphis Depay ao Lyon, e o Chelsea deve fazer o mesmo com o zagueiro Nathan Aké ao negociá-lo com o Bournemouth, por exemplo. O Bayern de Munique tinha a opção de recomprar o volante Emre Can ao vendê-lo para o Leverkusen, mas preferiu não exercê-la; hoje, ele é destaque do Liverpool e nome certo na seleção alemã. A tendência, portanto, é que o cenário se torne cada vez mais comum.
Os principais jogadores recomprados com cláusula:
Dani Carvajal (lateral) – vendido pelo Real Madrid ao Bayer Levekusen em 2012 por 5 milhões de euros; comprado de volta em 2013 por 6,5 milhões de euros
Casemiro (volante) – emprestado pelo Real Madrid ao Porto em 2014; o clube português exerceria a opção de comprá-lo em definitivo em 2015, mas o Real acionou uma cláusula de recompra de 7,5 milhões de euros e o trouxe de volta
Álvaro Morata (atacante) – vendido pelo Real Madrid à Juventus em 2014 por 20 milhões de euros; comprado de volta em 2016 por 30 milhões de euros
Denis Suárez (meia) – vendido pelo Barcelona ao Villarreal em 2015 por um valor não divulgado; comprado de volta em 2016 por 3,5 milhões de euros
Gerard Deulofeu (atacante) – vendido pelo Barcelona ao Everton em 2015 por 6 milhões de euros; comprado de volta em 2017 por 12 milhões de euros, após o jogador passar meia temporada emprestado ao Milan
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