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Copo quebrado de alegria e choro de tristeza. Tite recorda eliminação em 82

Tite (1º agachado à esq.) chegou ao Caxias/RS após convite do zagueiro Felipão (4º de pé) - Bruno Thadeu/UOL
Tite (1º agachado à esq.) chegou ao Caxias/RS após convite do zagueiro Felipão (4º de pé) Imagem: Bruno Thadeu/UOL

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos (SP)

05/07/2017 04h00

5 de julho de 1982. Aos 21 anos de idade, Tite tinha a companhia do irmão e de um amigo na sala de sua casa para assistir ao histórico jogo entre Brasil e Itália, pela Copa do Mundo de 1982. Na época jogador do Caxias-RS, clube pelo qual foi revelado como jogador, o hoje técnico da seleção carregava, assim como todos os brasileiros, um sentimento de total confiança na conquista do tetra mundial. Paolo Rossi, porém, fez milhões de torcedores da equipe canarinho chorarem após o apito final da vitória italiana (por 3 a 2). Entre eles o próprio Tite.

Em conversa com o UOL Esporte, Tite relembra a data com uma mistura de sentimentos: entusiasmo, tristeza, decepção... Não faltaram, também, momentos de extrema alegria e extravaso, com o gol marcado por Paulo Roberto Falcão que decretou o empate por 2 a 2 já na etapa final. Quem sofreu, na hora, foi um copo que estava à frente de Adenor, o Tite.

“Eu estava em Caxias, era atleta do Caxias. Estava na sala assistindo: estavam eu, o meu irmão Miro e o Álvaro, um colega amigo nosso. Lembro que nós três estávamos assistindo, e lembro-me de fatos marcantes, sim. Quando teve o gol do Falcão, tinha um copo na minha frente, eu não sei se era de água ou refrigerante, e eu, quando vibrei, eu saltei, dei um tapa no copo, e voou longe, estourou, quebrou, e a gente saiu vibrando no gol de empate do Falcão”, recordou Tite, para depois dar detalhes do momento em que foi às lagrimas.

“Lembro também que, quando teve a derrota, eu chorei... Eu tenho vergonha de falar que eu chorei, eu fiquei muito chateado, muito frustrado, magoado, triste, enfim, qualquer que seja o adjetivo, e no final do jogo - e no momento - eu não compreendia como uma seleção com tamanha qualidade pudesse, num jogo apenas, ficar fora. Eu fiquei questionando a fórmula do Mundial, o porquê assim e porque não uma oportunidade de fazer um outro jogo, para ter o equilíbrio técnico maior... Isso ficou muito marcante, assim como marcante ficou a inspiração daquela seleção, é inevitável”, acrescentou.

Seleção brasileira que enfrentou a Irlanda em amistoso antes da Copa do Mundo de 1982 - Fernando Santos/Folhapress - Fernando Santos/Folhapress
Seleção em amistoso antes da Copa-82, ainda com Careca, que viria a se machucar
Imagem: Fernando Santos/Folhapress

Fã de carteirinha da seleção de 1982, Tite fala com deslumbramento sobre a qualidade técnica do time comandado por Telê e o quanto a equipe ficou marcada em sua vida. E aponta cinco jogadores os quais considera ‘diferenciados’.

“Quando ela te marca em algum momento, alguma fase da tua vida, e me marcou numa fase importante da minha vida... E a forma do quanto ela te passou de emoção, para ficar marcante, fundamentalmente... E aí entram as virtudes táticas da equipe, técnicas da equipe; ela compunha com quatro jogadores extraordinários no meio campo: Falcão, Sócrates, Cerezo e Zico. Era de uma capacidade criativa impressionante, e se tu acrescentar o Júnior também, um jogador diferenciado... Eu considero esses jogadores daquela seleção diferenciados. Os outros alguns grandes jogadores, mas esses eram diferentes, os quatro do meio campo e o Junior. Leandro talvez possa acrescentar nesse quesito, mas vem um pouco depois, ele [Leandro] e Eder Aleixo”, opinou Adenor, hoje com 56 anos.

Tomado pela emoção ao relembrar momentos marcantes, Tite ainda não hesitou em deixar no ar uma suposição: o que teria acontecido caso Careca, citado por ele como ‘maior 9 que viu jogar’, estivesse em campo naquele 5 de julho de 1982 (Serginho Chulapa foi o 9). Mas não sem antes fazer ainda mais elogios ao modo que o time de Telê sem comportava em campo.

“E aí tu tem uma extraordinária seleção e entra com características de muita triangulação, muita criatividade, muito jogo apoiado, muito jogo pensado, construído, desde trás, e tínhamos sim um grande centroavante, mas também eu viajei no tempo e pensei comigo mesmo: e se o Careca não tivesse machucado? E foi o maior 9 que eu vi jogar. O quanto essa seleção não seria, talvez, completa e impressionante, como foi, independente de ter conquistado o título ou não. Marcante ela foi, a forma que ela jogou, com criatividade... Enfim, me emocionou, me marcou e talvez eu traga um pouquinho dessas marcas, vamos colocar dessa forma... Dessa inspiração, sem comparação, mas inspiração, sim”, completou.