Por Copa do Mundo, brasileiro supera racismo para jogar pela seleção russa
Quando vendia frutas descalço nas ruas de Fortaleza, Ariclenes da Silva Ferreira mal poderia imaginar que quase 20 anos depois, estaria cogitando realizar o sonho de disputar uma Copa do Mundo em casa. Ou melhor, em sua nova casa.
Atuando desde 2010 na Rússia, quando foi contratado pelo Spartak Moscou por 3 milhões de euros, o atacante viu o desejo se aproximar da realidade ainda entre 2012 e 2015, quando recebeu o convite do então técnico da Rússia Fabio Capello para tirar a cidadania e atuar pela seleção local.
Todavia, a demissão do italiano em julho de 2015 causou uma desesperança ao cearense, que voltou a crer na possibilidade nos últimos tempos. A documentação de cidadão russo próxima de sair e o gols pelo Lokomotiv Moscou fazem o atleta enxergar uma chance de ser chamado pelo técnico russo Stanislav Cherchesov.
“Sabemos que está muito em cima da Copa, continuo ainda sonhando com um convite, mas o objetivo também é pegar a cidadania e ajudar o meu clube, porque abre a porta para outro estrangeiro. Mas claro que se ele me convidar, vai ser uma honra defender a seleção russa”, disse Ari em entrevista ao UOL Esporte.
Preconceito
Para jogar pela seleção russa, o atacante de 31 anos superou até uma cena de racismo vivida em 2012. Durante o clássico Dynamo e Spartak em 2012, Ari e o nigeriano Emmanuel Emenike foram insultados pela torcida rival após marcarem gols na vitória por 3 a 1 do clube em que atuavam. "Lembro que estava muito frio. Jogaram bolinhas de neve na gente e faziam gestos de macaco".
As ofensas de cunho racista são mais comuns do que se imagina na Rússia. O caso mais recente ocorreu há duas semanas com Guilherme Marinato, brasileiro do Lokomotiv Moscou, que atua desde o ano passado pela seleção local, em jogo contra o Spartak Moscou pelo Campeonato Russo. Companheiro do goleiro ex-Atlético-PR, Ari explica que só foi saber do ocorrido dois dias depois. "Racismo é uma coisa que não deveria existir dentro do futebol nem fora. É uma situação lamentável, mas acredito que foi só para provocar, até porque o time do Spartak tem vários jogadores negros, como o caso do Luiz Adriano, do (Quincy) Promes, e o Guilherme é branco, parece até russo".
Apesar disso, o atleta, revelado pelo Fortaleza em 2005, e que jogou também pelo Krasnodar no país europeu, conta que sempre foi tratado com muito carinho pela torcida dos três clubes em que atuou na Rússia, e que não titubearia se fosse convocado. "Já falei que se eu tivesse a oportunidade de ser convocado, para mim seria uma honra. Vou defender a seleção russa como se fosse meu o meu próprio país".
Treinado por Van Gaal
Ari não fez sucesso somente na Rússia. Em 2006, o atacante foi vendido pelo Fortaleza ao Kalmar FF, e a artilharia no Campeonato Sueco fez com que Louis Van Gaal solicitasse a sua contratação para o AZ Alkmaar um ano depois. Campeão holandês em 2009, o brasileiro acredita que o técnico foi essencial em seu desenvolvimento como jogador. “Aprendi a ter muita disciplina tática e sem dúvida foi o melhor treinador que eu tive em toda a minha carreira”.
O treinador tem mesmo algum problema com brasileiros? Indicado pelo próprio Van Gaal ao AZ, Ari relembra uma dura que tomou do holandês. "Ele queria que eu estudasse o holandês, e teve um dia que eu cheguei na aula 2 minutos atrasado e ele ficou muito bravo. Começou a falar em espanhol que os brasileiros eram iguais, que não tinham disciplina. Ele é muito rígido com isso".
Tem vaga no Flamengo?
Mesmo que esteja muito bem na Europa, Ari não descarta uma volta ao futebol brasileiro. O jogador admite que deseja encerrar a carreira pelo Fortaleza, mas antes gostaria de atuar por outro clube. "Tenho o sonho de jogar pelo Flamengo desde pequeno, mas também já temos outras situações e pode ser que eu encerre a carreira pelo meu próprio clube".
Futuro cartola?
Mesmo depois de se aposentar, Ari não deverá largar o mundo do futebol nem tão cedo. O jogador criou em Fortaleza a empresa Arigool, que em parceria com o Horizonte, clube da primeira divisão do Campeonato Cearense. "Estou me preparando para ter o meu próprio clube. Quero ajudar muitos garotos do Ceará e do Brasil que não têm oportunidades nos times das próprias cidades. Às vezes você tem uma oportunidade e deixa escapar, e através desse projeto quero revelar outros jogadores.”
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