Nilmar quer devolver 7 a 1 para o Santos contra rival e responde Mano Brown
O atacante Nilmar chegou ao Santos cercado de desconfianças por não atuar há mais de um ano, mas vem “roubando a cena” nos treinamentos. Até gol de bicicleta ele marcou nesta semana. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Nilmar falou que pretende devolver a fatídica goleada sofrida pelo alvinegro praiano para o Corinthians, por 7 a 1, em 2005. Na ocasião, o atacante defendia o arquirrival do Santos e formava dupla de ataque com Carlitos Teves, segundo Nilmar, o seu maior companheiro de ataque na carreira.
Nilmar, que marcou dois gols naquele clássico, espera agora vencer o Corinthians. No próximo dia 10 de setembro, os dois times se enfrentam pela 23ª rodada do Campeonato Brasileiro, na Vila Belmiro.
O atacante ainda falou sobre as críticas que recebeu do rapper Mano Brown, torcedor fanático do Santos, que o chamou de "paquito" e reprovou a sua contratação nas redes sociais. O atacante santista respeitou a opinião do cantor e acredita ter sido chamado assim por fugir do estereótipo dos atletas atuais. Nilmar não possui nenhuma tatuagem e nem usa brincos. Ele se considera da “roça” e, por isso, diz preferir o sertanejo do que o rap. Nilmar ainda revelou histórias inusitadas de sua passagem no mundo árabe.
Confira a entrevista na íntegra com Nilmar:
UOL Esporte: Você sabe qual é o maior rival do Santos?
Nilmar: Na minha época ficou o Corinthians [como maior rival]. Sinto que se mantém porque tem muito corintiano aqui em Santos e acompanho, também, sempre acompanhei. Tive uma boa passagem por lá antes das lesões. Fizemos uma grande temporada em 2005, depois em 2006 acabei me lesionando. Foi um clube que me abriu as portas nacionalmente falando. Vim do Sul , depois fui para a França. Tinha só 21 anos quando joguei no Corinthians, mas fiz uma parceria muito boa com o Tévez. O pessoal reconhece bem.
UOL Esporte: Sobre o 7 a 1 do Corinthians sobre o Santos, em 2005. É um dos resultados nesse clássico que doem mais para os torcedores do Santos por conta das provocações. Chegaram a brincar sobre o troco?
Nilmar: Quando cheguei alguns perguntaram se eu estava nesse jogo, mas isso mais por parte dos corintianos. Os santistas não falam muito, não, não ia ser legal. Faz parte do futebol, mas foi um jogo atípico. O mesmo caso do Brasil na Copa [do Mundo, na semifinal contra a Alemanha], que perdeu de sete. É aquele caso em que as oportunidades que apareceram fomos fazendo os gols. Lembro que o primeiro tempo o jogo chegou a ficar 1 a 1, depois fizemos os gols. É uma brincadeira sadia, mas não pode passar disso. Espero poder, talvez não com sete, mas vencer. O resultado é decorrência do jogo.
UOL Esporte: O troco pelo mesmo placar é impossível?
Nilmar: No futebol vemos que a cada ano nada é impossível, então tudo pode acontecer. É claro que aquele placar daquele jogo não acontece toda hora, é um placar difícil de se fazer, mas quem sabe um dia? Pode ser que aconteça. É difícil prever essa situação.
UOL Esporte: O Tévez foi o principal companheiro de ataque da sua carreira ou houve outro nome?
Nilmar: O Tévez foi uma parceria com um entrosamento muito rápido. Jogávamos com dois atacantes, na época. No Villarreal fiz uma parceria boa com o Giuseppe Rossi, um atacante italiano que está hoje na Fiorentina. O Tévez foi quem mais deu resultado em curto prazo. Nos entendíamos muito bem. É argentino, né? Era na dele, falava pouco na imprensa. Conversava com o grupo, era tranqüilo. Não é como o Vecchio, que parece um brasileiro. Eles tinham um grupo com o Mascherano, o Sebá, então eles andavam sempre juntos, mas o relacionamento era bom, sim. Nos entendíamos melhor dentro de campo.
UOL Esporte: Você é ligado em redes sociais? O Mano Brown reclamou dizendo que contrataram ‘um paquito’. Como recebeu isso?
Nilmar: Não tenho nada, sou meio antigo. Sou da moda antiga. Acho interessante, legal, mas fico sabendo através dos meus familiares que acompanham. Hoje em dia ficamos sabendo, claro. Como em todos os clubes que fui há pessoas que aprovam, outras não, mas estou calejado quanto a isso. O cara á torcedor, tem a profissão dele, então respeito ele. Dentro de campo é a melhor resposta que eu possa dar, mas não que eu queira dar, provar ou algo assim. A prova é para mim mesmo, vivemos disso. Quando aceitei vir para cá e os clubes em que passei estava sujeito a receber críticas. Quando estamos bem não dá para acreditar em tudo, também. O emocional e a parte psicológica são importantes no futebol. Respeito a opinião de todos e vou fazer a minha história no Santos.
UOL Esporte: Você conhece e gosta de rap? E por que paquito?
Nilmar: Eu sou da roça, sou do sertanejo. Lá em Bandeirantes é interior do Paraná, mas conheço o seu trabalho, é sensacional. Tem o meu respeito. Não entendi, acho que eles me vêem e pensam que tenho 18 anos ainda, que sou muito jovem ainda. Talvez por não ter tatuagem, que hoje é praticamente normal, ou brinco, ou se cabeludo. Não que eu tenha preconceito, mas foge do que é a imagem do que é o jogador de futebol hoje. Mas eu respeito, bola para frente.
UOL Esporte: Por que você optou por não adotar esse estilo de tatuagens, brincos e outros itens muito utilizados pelos boleiros?
Nilmar: Eu vim do interior do Paraná e cresci com um pai que não é muito fã dessas coisas, até hoje ele brinca. Uma vez deixei o cabelo grande ele já falou: ‘o que é isso?’. Não que tenha alguma coisa contra, mas cresci assim com uma educação mais conservadora. Acho legal em algumas pessoas, penso que combina, mas não penso em fazer. Respeito quem faça, mas não me sinto bem assim. Não tem nada de religião, sou católico. Acho que acada um sabe o que faz no corpo e se sente bem, ou não. Eu nunca tive vontade de fazer.
UOL Esporte: Você jogou nos Emirados Árabes e no Catar. O Emerson Sheik, por exemplo, acumula histórias. Passou situações inusitadas por lá, também?
Nilmar: Para mim no início foi difícil porque fui para o Catar, primeiro, saindo da Espanha. A maior dificuldade minha foi a motivação de jogo. De entrar no estádio e não ter ninguém. Ter 50 pessoas e você escutar o seu filho gritando o seu nome. Nunca tinha convivido com isso, de não ter torcida. Não é um ambiente que estamos acostumados. Fora a cultura que é complicada. São tantas histórias boas e no fim o problema com eles porque quem joga lá sabe como é. No primeiro jogo amistoso que fui fazer e escutava muito falar de sheik e para mim sheik eram todos aqueles que estavam de branco. Acabou o jogo, um cara de branco sentado em uma poltrona, todo arrumado, acenou com o filho do lado e me pediu a camisa. Eu tirei a camisa e dei, já ficaram estranhos por ter saído sem camisa do campo. Fui para o hotel, então me liga o coordenador com o tradutor perguntando onde estava a minha camisa do jogo porque o campeonato ia começar no fim de semana e não tinha camiseta para eu jogar. Aí eu disse que o sheik pediu a minha camiseta. Responderam: ‘que sheik, não tinha nenhum sheik no estádio’. Aí tive que jogar com a mesma camisa o jogo todo, um calor de 40 graus. Transpirei e joguei com a mesma camisa, não pude trocar no intervalo. Esse é o profissionalismo que não tem lá. Essas pequenas coisas.
Outra história é que no início eu ia tomar banho e somos acostumados a ir para o vestiário tomar banho sem sunga, sem nada. Quando tirei a roupa no vestiário falaram que teria que ser de sunga, que não poderia me trocar na frente deles. É uma cultura totalmente diferente. Para a mulher é pior com relação a roupa. Mesmo com o calor não pode usar roupa curta, mas nada como na Arábia, todo tapado, é só não mostrar muito os ombros. Depois acostuma, a parte extracampo foi boa
UOL Esporte: E o problema extracampo? As pessoas não entendem o motivo por ter ficado tanto tempo sem jogar.
Nilmar: Eu tinha um contrato de dois anos e na segunda temporada apareceram outros clubes para que eu pudesse sair, algo que para o clube era interessante, mas para mim não pelo fato de ter saído do Brasil com contrato longo no Inter e ter feito um contrato menor lá, com valores muito maiores. A minha decisão de ter saído foi pelo fato de que na época o Inter tinha uma bolha salarial e tínhamos acabado de ser eliminados da Libertadores, então apareceu essa proposta. Como tinha vindo sem custos, o presidente [do Inter] acabou aceitando, mas lá [nos Emirados Árabes] quiseram me negociar na temporada seguinte me fazendo abrir mão de tudo o que tinha restante. Ia perder muito com a idade que eu estava. Eles não me inscreveram no campeonato, acreditando que sairia, mas acabei não aceitando. Tinha também a questão da minha família, as crianças na escola, de ter feito uma mudança. Aí só poderia jogar amistosos e treinar. Fiz tudo consciente porque, na verdade, o meu melhor contrato foi feito com 32 anos. Fui só por causa disso. Quem vai pelo mundo árabe é pela parte financeira. Tem a questão da família, ficamos mais com eles porque aqui no Brasil viajam muito, mas foi uma proposta irrecusável para um jogador da minha idade. Perdi muito profissionalmente, mas com 32 anos. Se tivesse 20 anos poderia pensar se iria aceitar isso, mas no final deu tudo certo.
UOL Esporte: Você sempre foi muito procurado pelos clubes. Acredita que isso atrapalhou um pouco para criar uma identificação?
Nilmar: Na verdade é difícil para um atacante. Eu sempre falo que quando um atacante está muito bem aqui no Brasil vêm clubes e é difícil segurarem. Quando está mal, você também é negociado. Então, é uma posição difícil de um cara fazer uma carreira de dez anos em um só clube. Qual o atacante que ficou no clube por tanto tempo? É mais fácil para um goleiro, para um zagueiro, que não são tão requisitados no mercado lá fora. No meu caso as oportunidades foram aparecendo, mas para um jogador ser transferido as três partes precisam estar de acordo. Joguei em uma época em que o Inter precisava vender jogador e eu era um dos destaques. No Corinthians eu tive lesão, acabei saindo. Na Espanha a mesma coisa, pintou uma proposta da Arábia. Foram coisas que acabaram acontecendo, mas, sem dúvidas, o Internacional foi o clube que iniciei a carreira e que tive mais tempo. O Villarreal já foi o que fiquei por mais tempo consecutivo. Por isso eu não parei, não foi por não gostar. Seria legal, minha esposa sempre fala porque a cada dois anos mudamos de colégio, algo ruim para o atleta. A profissão é essa.
UOL Esporte: O Internacional não chega a ser aquele clube que você não comemora gols ou quer encerrar a carreira?
Nilmar: Eu tenho uma posição quanto a isso. Se não for para comemorar, então melhor nem fazer o gol. Tenho o maior respeito pelo Inter, pelo Corinthians e por todos os que joguei, mas acredito que quando estamos em um clube precisamos defendê-lo. Estou recebendo para isso, tem muita gente de fora que depende da gente. Acho uma falta de respeito fazer um gol e não comemorar. É a minha opinião, o gol é o máximo do futebol ainda mais para um atacante.
UOL Esporte: Quais foram as suas maiores dificuldades para se tornar jogador? Pensou em desistir ou teve sorte desde o início?
Nilmar: Claro que é sempre bom ter a sorte para nos acompanhar, mas acredito que foi uma persistência. A minha primeira oportunidade, o meu primeiro teste, foi em um clube da minha cidade, o União Bandeirantes. Acabei treinando um dia e pelo meu porte físico e idade, não era como hoje que existem categorias abaixo do infantil, acabei recebendo um não para voltar no ano seguinte, mas, mesmo assim, persisti e fui para o Matsubara, que tinha a minha categoria.Consegui passar no teste, mas, como em todo o início, foi difícil. A concorrência era muito grande, tinha muita gente. É bem diferente de hoje em dia em que conseguem desde pequenos acompanhar. Antes, não tinha a influência de empresários. Foi mais por persistência e pelo meu pai, também, que sempre gostou de futebol e me levou para o meu primeiro teste.
UOL Esporte: E como foi para você chegar no Internacional?
Nilmar: Foi o primeiro clube grande. Cheguei com 15 anos depois de disputar um torneio aqui em São Paulo, em Bebedouro, com o Matsubara. E na competição tinha Internacional, Vitória e outros clubes grandes. Acabei me destacando e o técnico Mano Menezes, hoje no Cruzeiro, que estava no juvenil do Inter na época, acabou pedindo a minha contratação. Trabalhamos juntos no juvenil do Inter e na seleção brasileira, depois.
UOL Esporte: O Lucas Lima falou que chegou a sofrer preconceito por ser muito magro. Aconteceu com você, também?
Nilmar: No meu primeiro teste o treinador falou para mim que eu era muito magro e deveria fazer um trabalho para ganhar massa muscular. Ele dizia que o pessoal da minha idade era mais forte, mas na época tinha muita gente com o documento adulterado, também, era muito comum isso antigamente. Sempre tive esse porte físico, era bem magro. A minha característica sempre foi a velocidade pelo meu biotipo, o que ajudou bastante na minha carreira.
UOL Esporte: E interessante que, com essa característica, você não é exatamente um jogador de beira de campo.
Nilmar: Quando eu iniciei os técnicos jogavam muito com dois atacantes, hoje mudou muito. Agora são dois pontas que precisam acompanhar os laterais, mas já joguei alguns jogos mais abertos, também, alguns treinadores me utilizaram nessa função. Só que me firmei mais como atacante por fazer gols e pela velocidade. No início sempre jogávamos com dois atacantes tendo essa liberdade para nos movimentarmos. Não sou um centroavante que fica parado até porque acabo participando muito pouco. Pelo meu porte físico, também, jogar de costas é algo complicado.
UOL Esporte: O Ricardo Oliveira e o Kayke não tem a característica de jogar pelas pontas. Você se encaixa em um sistema assim atualmente?
Nilmar: Precisa estar bem preparado. Estou cuidando, principalmente, da parte física. Acredito que a cada ano que passa está sendo um diferencial hoje. Se você está bem condicionado consegue fazer outras funções e uma dessas é jogar pelos lados do campo, ajudando na defesa e tendo fôlego para atacar. Estou me preparando para se pintar a oportunidade e o treinador quiser que eu jogue por ali. Pode ser até mesmo uma situação de jogo, precisando ajudar na marcação, então precisa ter o preparo bom para aguentar. Hoje o futebol está muito intenso. Temos que estar preparados porque maioria dos clubes joga assim.
UOL Esporte: Você jogou no futebol francês e no espanhol. Muitos acreditam que o Neymar vai ter mais facilidade por ser um centro inferior tecnicamente. Concorda?
Nilmar: A minha dificuldade ocorreu pelo fato de ter saído muito jovem, com 19 para 20 anos. Eu queria jogar, era a revelação do Inter, estava indo para a seleção, e cheguei lá para concorrer com três atacantes da seleção francesa do Lyon, que era o Paris Saint-Germain de hoje. Conquistei o tetracampeonato nacional por lá com um time que vinha de conquistas consecutivas com o Juninho Pernambucano, mas não tinha sequência. Jogava um ou dois jogos seguidos como titular antes do rodízio. Eu queria muito jogar, então fiquei uma temporada só, mas foi uma experiência fantástica. O futebol era totalmente diferente, pois na época só tinha o Lyon que jogava. Os outros clubes eram muita ligação direta e força física. Hoje o Neymar chega no PSG que é o Lyon da época, mas sabendo que evoluiu muito o nível dos outros clubes comparando com a minha época. O nível é inferior ao de Espanha e Inglaterra, depois vem a Itália e Alemanha, mas não que seja fácil. Os outros clubes estão se fortalecendo muito, também.
UOL Esporte: No Villarreal você já teve mais oportunidades para jogar?
Nilmar: Para lá eu fui mais maduro, também. Na França eu tinha 19 anos, queria jogar toda hora, mas com a cabeça de hoje pensaria mais. Eu tinha um contrato de cinco anos, havia um planejamento para mim. Acredito que foi uma aposta, um desafio de vida vir para o Corinthians, que acabou dando certo.
UOL Esporte: Qual o melhor treinador com quem trabalhou?
Nilmar: Sou grato a muitos. O Muricy, por exemplo, que me deu a primeira oportunidade como profissional. Ele me ajudou muito. O próprio Mano Menezes, que me levou. E, sem sombra de dúvidas, o Tite. Ele foi com quem eu mais trabalhei em termos de conquista e aprendizado por ter uma cabeça mais madura e tê-lo no Inter em 2008, com um grupo muito bom. Ele foi importante no título da Sul-Americana, consegue fazer com que os 30 jogadores do elenco estejam motivamos todos os dias. Dos 30 só jogam 11, então motivar a todos é difícil. Ele dispensa comentários.
UOL Esporte: O Ricardo Oliveira voltou a seleção. Você acha que, você com 33, sendo que o Tite lhe conhece, dá para sonhar?
Nilmar: Eu sempre tive os pés no chão durante toda a minha carreira. As coisas na minha vida aconteceram rapidamente, mas sempre com tranquilidade e sendo realista. A realidade hoje é de voltar a jogar futebol pelo Santos e querer demonstrar. A seleção é uma consequência do que você está dentro de campo em seu clube. Sempre que estive na seleção é porque mereci. Não foi nada por amizade, por ter um nome, dentro de campo que vou me convocar, ou não, mas nem penso em seleção. Penso em jogar e poder me destacar no Santos para crescer cada vez mais.
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