Ele largou futebol por doença e não quer ser técnico para ter família perto
A aposentadoria dos gramados chegou cedo: ainda aos 32 anos, pelo Atlético-MG, em 1999. A ideia de Índio era jogar futebol por mais alguns anos, mas uma bronquite o fez pendurar as chuteiras antes do previsto. Lateral direito de velocidade, o ex-jogador que ganhou destaque no Santos, no início da década de 90, hoje aproveita a vida ao lado da família e, ao contrário de muitos jogadores quando encerram a carreira, não pensa em virar técnico ou dirigente.
Dono de uma escolinha de futebol em Pirituba e supervisor de Esportes da Regional de Perus, zona norte de São Paulo, Índio conversou por telefone com o UOL Esporte e foi sincero ao opinar que merecia não só ter ganho uma Bola de Prata – premiação dada pela então Revista Placar – ao longo da carreira, mas também ter tido uma oportunidade na seleção brasileira, algo que, segundo ele, talvez tivesse acontecido caso não ficasse por tanto tempo no Santos – foram cinco anos (1990 a 1994) e 247 jogos com a camisa do time da Vila Belmiro.
“Acho que teria [ido para a seleção] porque na época do Santos não chegamos a disputar muitas finais, até porque tinha o São Paulo, que tinha sido bicampeão mundial, o Palmeiras, com a Parmalat, então eu penso que poderia sim até acontecer se eu estivesse em outro clube, ou até atuando por clubes do Rio. Talvez eu tivesse conseguido ir para a seleção, mas faz parte”, argumenta Índio, para depois falar sobre a concorrida Bola de Prata de 1994.
“Eu briguei muito por essa bola de prata. Outro dia eu encontrei o meu amigo Pavão [ex-lateral direito do São Paulo], muito parceiro também, e ele ganhou a bola de prata de 94 pela Revista Placar. E eu falei: ‘Meu, essa bola tinha que ser minha. Essa bola tinha que estar comigo, você jogou três partidas’, e a gente deu muita risada. Tinham muitos ótimos laterais direito: o Pimentel no Vasco, o Luiz Carlos Winck, o próprio Pavão, o Cafu, o Vitor, Jorginho, Paulo Roberto, muita gente boa, e eu estava sempre na seleção da rodada do Brasileiro, volta e meia eu estava nos jornais. Quando eu viajava e ia jogar fora, o pessoal me pedia na seleção brasileira... Eu lembro que fiz um jogo fantástico no Recife, contra o Sport, e depois a imprensa veio conversar comigo, por que eu não estava na seleção brasileira, o que acontecia, o que tinha no Santos... Eu penso que era para eu ter sido coroado dessa maneira, mas não aconteceu, então ficou essa lacuna, esse espaço de eu não ter jogado na seleção, mas eu não tenho do que reclamar”, diz o ex-jogador, que ainda passou por Palmeiras, Flamengo e Guarani, entre outros.
Apesar de não ter conquistado títulos com o Santos, Índio destaca o respeito que a sua geração conquistou diante da torcida alvinegra. E enumera os motivos; entre eles, o fato de ter conseguido manter o time na primeira divisão mesmo com recursos escassos.
“Nós atravessamos uma época muito difícil. Dos quatro times grandes de São Paulo, o Santos era o que tinha menor estrutura, menor recurso; a cada dois ou três meses os caras fazem homenagem para gente daquela época porque eles adotaram a gente... Teve um bloco de uma torcida que adotou a gente, essa turma de 90 do Santos, eles acham que foi uma época difícil, mas o Santos não caiu e nós deixamos o Santos no mesmo lugar, apesar da dificuldade. O Corinthians já caiu, com todo o recurso e estrutura, o Palmeiras também, e é uma potência, a gente vê o Internacional agora... Isso é para se ter uma dimensão de como eles respeitam a gente”, acrescenta o ex-lateral, hoje com 50 anos de idade.
Índio recorda que, mesmo sem muita estrutura e recursos, o Santos conseguia bater de frente com os grandes de São Paulo: “Pô, às vezes a gente treinava a semana inteira na praia porque não tinha campo e no domingo ganhava do Corinthians no Morumbi [risos], tamanha a união do grupo, determinação, e essas homenagens que a gente tem recebido têm sido a contramão do que acontece, porque hoje em dia o pessoal só lembra de quem ganhou, até porque o Santos tem muitos motivos para homenagear o pessoal... E a gente ser lembrado numa condição dessa é meio que diferente”.
Bronquite fez Índio encerrar carreira antes do esperado
Antes de encerrar a carreira aos 32 anos, Índio lutou por um tempo contra uma bronquite. Chegou a fazer uso de remédios para tentar controlar a situação, mas não conseguiu. Assim, optou por encerrar a carreira no Atlético-MG, em 1999.
“Eu cheguei ao Atlético-MG já com 30 anos, e eu estava com bronquite. Eu já cheguei emocionalmente abalado, eu já estava vendo dificuldades até porque, na época, a CBF liberou uma dosagem do remédio que eu precisava, mas a dosagem liberada pela CBF era insuficiente, tanto que teve um Atlético-MG e Cruzeiro que eu estava para jogar, concentrado, e acordei com crise de bronquite respiratória. Teve outro jogo, contra o Corinthians, que eu consegui jogar oito minutos. O Luxemburgo estava naquele timaço do Corinthians, e ele viu em campo a minha dificuldade... Ele disse: ‘Você está com problema’. Para se ter uma ideia, depois do jogo, ele me procurou para saber o que eu tinha e perguntou: ‘E aí, como você está? O que aconteceu’? E eu expliquei para ele que eu estava com certa dificuldade de encontrar uma medicação que de repente me recolocaria de volta à normalidade de atleta”, revela o ex-lateral.
“Então foi uma luta para encontrar uma medicação... Eu fiz um tratamento especializado e aí, depois que eu parei de jogar, foi que eu resolvi; terminou meu contrato no Atlético-MG e depois de um ano e meio que eu saí eu falei: ‘Vou parar, esse remédio que eu estou tomando pode cair no doping’, e teve um jogo que eu corri risco porque eu aumentei um pouco a dosagem, e aí eu resolvi parar. Então eu encerrei a carreira em 1999, no Atlético-MG, aos 32 anos”, conta.
Técnico? Dirigente? Índio quer é ficar ao lado da família
Índio não abre mão de passar o máximo de tempo possível ao lado da família. Por conta disso, sequer pensa na possibilidade de um dia virar treinador e voltar ao dia a dia do futebol.
“Já tive alguns convites, principalmente do meu amigo Marcelo Veiga [ex-técnico do Bragantino e atualmente sem clube], quando ele estava começando, mas, na época, eu tinha dois filhos pequenos, e eu e minha esposa, conversamos e entramos em comum acordo, que eu não ia mais sair de casa, porque treinador também não para em casa, é aquela loucura: viagem para cima e para baixo. Então prefiro ficar com a minha família, cuidar dos meus filhos... Na verdade eu não aguentava sair de casa por algum motivo e ver meus filhos com lágrimas nos olhos, aí eu falei: ‘eu vou ficar aqui mesmo’”, conta Índio, que diz já ter realizado seu grande sonho.
“Essa escolinha [em Pirituba] está boa, quero ficar perto de casa. Outro dia encontrei o Alexandre Torres, filho do falecido Carlos Alberto Torres, nos encontramos num jogo da Taça São Paulo, e ele fez essa pergunta para mim, se eu tinha algum sonho, se gostaria de fazer alguma atividade de profissão, e eu disse: ‘O meu sonho eu já conquistei, o que eu queria ser de verdade eu consegui, que era ser jogador de futebol, dentro de uma condição com a família carente’, então agora eu vivo em função da minha família, por isso que eu não quis ser treinador, por causa dessa distância que, em muitas vezes, você não tem a família junto”, acrescenta.
De Rubens Barbosa de Souza a Índio
Rubens Barbosa de Souza virou Índio ainda quando era garoto. E lembrando da aparência do ex-jogador ainda no início da carreira, não é muito difícil adivinhar o porquê do apelido.
“Quando eu era garoto, com uns 11, 12 anos, eu estava no time B do Palmeiras e tinha o cabelo todo redondinho, liso, e aí o pessoal começou a me chamar de Índio. Aí eu cheguei no Nacional-SP e tinham alguns amigos que eram do Palmeiras e falaram: ‘o Índio está aqui’, e aí pegou. Na Taça São Paulo de 88, pelo Nacional, eu fui campeão como Zé Índio e aí não teve jeito. E no Santos eternizou [risos]: lateral do Peixe, Índio”, conta.
Segundo melhor lateral direito do Santos?
De acordo com Índio, parte da torcida santista o aponta como o ‘segundo melhor lateral da história do Santos’, atrás apenas do já falecido Carlos Alberto Torres. “No Santos foi interessante porque na época que o Nacional-SP disputou a divisão intermediária a de acesso, no ano de 89, alguns jogos eram transmitidos pela TV Cultura, e quem fazia os comentários na TV Cultura era o Clodoaldo. O nosso atacante era o Aloisio Guerreiro, e ele também era de Santos, foi quase artilheiro, e a maioria dos gols eu que botei a bola na cabeça dele. E o Santos precisando de uma renovação na época, meio que sem dinheiro e tal, e foi aí que o Aloíisio conversou com o Clodoaldo... O Clodoaldo lembrou das minhas boas atuações que ele até tinha feito comentários na transmissão da TV Cultura e acabou que o seu Pepe aprovou a minha contratação”, lembra.
“Eu fiquei no Santos cinco anos, fui o terceiro melhor da posição... Hoje, alguns dizem que eu estou atrás somente do Carlos Alberto Torres, tem um bloco de conselheiros e torcedores que acha que eu sou o segundo melhor da posição depois do Carlos Alberto, porque o Lima eles falam que era coringa, mas como ele entrou nesta última pesquisa, eu falei para o Lima: ‘Ah, Lima, eu não vou te considerar, você é muito parceiro, muito amigo’. Mas foi um trabalho espetacular no Santos durante os cinco anos”, completa Índio.
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