Vilão da série Narcos boicotou ídolo corintiano no América de Cali
Para quem acompanha Narcos, série que é sucesso internacional na Netflix, Pablo Escobar já é passado. A temporada que acaba de estrear na plataforma de streaming tem os irmãos Rodríguez Orejuela como os vilões da vez. E, assim como o rival de Medellín, os chefes do Cartel de Cali também usaram o futebol como braço de influência política e um meio para lavagem de dinheiro. Nessa época, um ídolo do Corinthians teve a carreira impactada pela gestão dos criminosos.
Anos antes de brilhar no Brasil, Freddy Rincón era o principal jogador do América na época em que se passa a terceira temporada de Narcos – no pós-morte de Escobar, quando Cali passa a ter hegemonia do tráfico de drogas colombiano. Autor de um histórico gol pela seleção na Copa de 1990, em empate com a campeã Alemanha, o meio-campo tinha moral no país. Mas, mesmo assim, teve problemas com Miguel Rodríguez Orejuela.
À frente do América, clube que comprou no final da década de 70, o chefe do Cartel de Cali se recusou a deixar Rincón sair diante de ofertas do Boca Juniors (o meia defendeu o time entre 1990 e 1993). De quebra, ainda reduziu o salário de um dos principais jogadores do país.
"Quando cheguei ao América, me desmotivaram. Me baixaram o salário pela metade do que eu ganhava no Santa Fé. Isso para mim foi uma humilhação muito grande que me fez passar o dono do clube (Miguel Rodríguez Orejuela)”, declarou Rincón em entrevista ao jornal "El Tiempo" em 2014.
"O Boca Juniors fez duas ofertas por mim, mas nunca quiseram me vender, e isso aumentou meu descontentamento. No América, não nos tratavam como merecíamos, mas eu me esforçava ao máximo porque queria ir jogar na Europa, para poder ajudar minha família", acrescentou o ex-jogador.
Mas, antes de finalmente partir para o desafio na Europa, Rincón foi negociado com o futebol brasileiro. Em 1994, o meia saiu do América para defender o Palmeiras, em uma breve passagem antes de atuar por Napoli e Real Madrid no Velho Continente. Mais adiante, o colombiano viraria ídolo do Corinthians, com dois títulos brasileiros e um mundial.
Por sua vez, número dois do Cartel de Cali, abaixo do irmão Gilberto, Miguel foi preso em 1995 na Colômbia. Desde 2005 o traficante cumpre prisão nos Estados Unidos, condenado por exportação de drogas.
América de Cali na lista negra do governo americano
Um dos mais populares times de futebol da Colômbia, o América de Cali integrou por 17 anos a Lista Clinton, uma espécie de "lista negra" do governo dos Estados Unidos, que reunia empresas e pessoas que recebiam dinheiro do tráfico de drogas internacional.
Miguel Rodríguez Orejuela usou o América como parte de uma vasta operação de lavagem de dinheiro do tráfico. Durante este período, a equipe de Cali chegou à final da Copa Libertadores em três edições seguidas, de 1985 a 1987 – com três derrotas. Mas, depois da prisão dos chefes do cartel, a equipe perdeu poder financeiro, teve contas bancárias suspensas e despencou no futebol local, chegando até a segunda divisão.
Em 2012, aos 46 anos, Rincón anunciou que voltaria a jogar pelo América, para tentar ajudar o time de Cali a retornar à primeira divisão. No entanto, o ex-jogador de Palmeiras, Corinthians, Santos e Cruzeiro conseguiu atuar apenas em um amistoso em janeiro de 2013, contra o San Martín, do Peru.
Cartel de Cali fez festa secreta para seleção de 1994
Em 10 de junho de 1994, com anuência de funcionários da Federação Colombiana, os jogadores da seleção foram transportados secretamente para uma espécie de confraternização com os chefes do Cartel de Cali. Tudo com direito a operação para despistar o aparato policial e fiscalização de autoridades. O episódio está descrito com detalhes no livro "El 5-0", do jornalista Mauricio Silva Guzmán.
Em um jantar luxuoso, com lagostas servidas, os irmãos Rodríguez Orejuela anunciaram que ofereciam um prêmio milionário a cada jogador, caso a seleção alcançasse as oitavas de final da Copa do Mundo daquele ano. O bônus iria aumentando gradualmente a cada fase superada.
"Ninguém poderia imaginar os valores que nos prometeram caso chegássemos à final. Era uma cifra absurda, mas muito, muito absurda", relata um dos jogadores da seleção de 1994, em depoimento anônimo ao livro de Silva Guzmán.
Na mesma noite, Gilberto Rodríguez Orejuela distribuiu dinheiro aos jogadores, em valores entre US$ 5 mil e US$ 25 mil. Os atletas permaneceram no local por cerca de uma hora. Quatro dias depois a delegação viajou aos Estados Unidos para disputar a Copa, em que, apesar do favoritismo, os colombianos seriam eliminados ainda na fase de grupos.
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