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Cuca culpa PSG, e Muricy, Unai: opiniões sobre a briga Neymar x Cavani

Fomontagem com Neymar e Cavani, atacantes do PSG - Fotomontagem: Franck Fife/AFP e Gonzalo Fuentes/Reuters
Fomontagem com Neymar e Cavani, atacantes do PSG Imagem: Fotomontagem: Franck Fife/AFP e Gonzalo Fuentes/Reuters

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

21/09/2017 04h00

A definição (ou indefinição) para quem cobra faltas e pênaltis no PSG provocou uma das principais polêmicas do futebol europeu no ano. Quem deve ser o cobrador de pênalti oficial? E de falta? É o técnico quem deve pré-estabelecer? Diante destas perguntas, o UOL Esporte consultou técnicos, ex-técnicos e ex-jogadores para analisar a polêmica e opinar sobre o que deve ser feito em uma situação dessas.

Cuca dá entrevista - Ronny Santos/Folhapress - Ronny Santos/Folhapress
Imagem: Ronny Santos/Folhapress

CUCA

É a determinação do treinador que deve definir, quem é o batedor número 1, quem é o 2, pelo menos no pênalti, e a partir disso ele tirar como base o aproveitamento nos treinamentos, nos jogos, esse é o primeiro passo. E aliado a isso tem que ter o bom senso e a parceria dos jogadores. O cara sabe a hora que ele pode bater, a hora que tem que ceder para o outro.

É uma demarcação de território por parte do Cavani e uma tentativa por parte do Neymar. Isso vai se ajustar com determinadas conclusões que o treinador ou o próprio grupo de jogadores tire. Eles podem fazer disso aí uma limonada desse limão ou pode azedar de vez se não chegarem a um acordo.

Jogar aberto é o caminho mais certo que a gente tem para tudo, mas envolve outras coisas também que às vezes os diretores fazem e prejudica o trabalho do treinador. ‘Ah, se você for o máximo goleador você vai ganhar tanto’, ‘Ah, se você jogar tantas partidas você vai ganhar tanto’, então às vezes isso atrapalha o trabalho do treinador. Pelo que a gente leu tem prêmio para o Cavani ser artilheiro do campeonato; essas coisas todas envolvem o processo também.

EMERSON LEÃO

Quem decide, logicamente, é o treinador. Mas me parece que o caso tem os dois com o mesmo pensamento, só que um com uma hierarquia de antiguidade. Ele [Cavani] já faz isso há algum tempo, tanto na falta como no pênalti, e quem chegou foi o Neymar. Agora, como o Neymar é uma estrela de grandeza, eu penso que deveria existir o bom senso. ‘Olha, tudo bem, você é o batedor, mas eu fui contratado e no meu time eu era batedor, e lá tinha o Messi também’. No Barcelona eles revezavam muito, o Messi não se importava, mas o Cavani se importa. Mas o rendimento do Cavani é inferior ao do Messi.

Ou tira os dois e a hora que eles se entenderem eles voltam [risos].

Isso deveria ter sido evitado antes, faltou alguém do ramo para perceber que aquilo iria acontecer, porque os dois têm temperamentos agressivos. O treinador já tinha que ter definido anteriormente: ‘vai ser o Joaquim’, dane-se que os outros iam ficar rabugentos. ‘Eu decidi assim e vai ser ele’.

muricy dá entrevista - Diego Padgurschi/Folhapress - Diego Padgurschi/Folhapress
Imagem: Diego Padgurschi/Folhapress

MURICY RAMALHO

Eu nunca tinha visto isso. É coisa para o treinador isso, é o mínimo. Não tem um time de futebol, nem de base, que vai a campo sem lições assim. Você, na preleção, põe lá no computador, bem grande, quem vai bater o escanteio... Porque treinou, isso aí não é na última hora, não é várzea.

O que me pareceu ali foi uma desorganização total do treinador

Ele não tinha nada planejado. Aquilo foi uma cena pior que várzea. E é culpa do treinador porque não pode existir essa dúvida. Você vê que ele ficou sem jeito para definir quem ia bater e deixou para os jogadores. Se o treinador determinasse que seria o Neymar, o Cavani não ia se aproximar.

Tem que chamar os jogadores para pôr a casa em ordem. O treinador vai buscar quem treinou melhor e vai ter que falar: ‘nós treinamos dessa maneira aqui e temos que fazer dessa maneira’. Vai bater quem treinou e quem é melhor, essa é a conversa que ele tem que ter. Não pode existir ‘deixa pra lá’, ‘vocês têm que se dar bem’... Não tem nada que se dar bem, eles têm que ser profissionais.

Infelizmente o técnico (Unai Emery) deixou nas mãos dos jogadores e isso não é possível.

O Neymar nunca foi de fazer o que fez, sempre aceitou. Eu determinava todas as bolas paradas e ele fazia o que tinha que fazer. Ele era batedor de pênalti no Santos, mas o Elano que batia falta. Depois o Neymar começou a bater porque treinou muito e era muito bom nisso.

MARCELINHO CARIOCA

Eu não sei se o Cavani é exímio cobrador de falta e pênalti, mas de faltas o Neymar é, o Cavani não. Me parece que tem uma cláusula no contrato do Cavani que, se ele for artilheiro, vai ter tantos milhões... Então, por aquela atitude dele, ficou claro que ele não está pensando no coletivo, ele está pensando no individual. Mas o time inteiro sabe quem deve cobrar a falta e pênalti, não precisa nem o cobrador falar.

Não [treinador não deve estabelecer o bater], o treinador nem se mete. Ele está vendo os treinamentos, mas os jogadores sabem a qualidade de cada um.

Vai dar m..., ficou claro. O Neymar tentou disfarçar, mas ele ficou puto da vida, e com razão. No Barcelona, quem era o batedor oficial? Primeira opção, o Messi, depois o Neymar, mas não dá para comparar o Messi com o Cavani. Agora o Neymar tem muito mais nome que o Cavani. Vai chegar um momento que o Neymar vai chegar para o Sheik, presidente do clube, e falar: ‘ele ou eu’, e alguém vai chegar no Cavani e vai falar: ‘Cavani, não se mete nisso aí, não, cede’.

O Neymar tem que ser inteligente, ele não pode se expor como se expôs, porque o nome dele defende ele, a história dele defende ele, e o mundo está com ele.

O Cavani não, só é um bom jogador. O Neymar é o camisa 10 da seleção foi contratado a peso de ouro, histórico no mundo, então o Neymar não tem que se expor, ele tem que ter personalidade. Se tiver pênalti de novo ele vai lá, pega a bola, bate e fala: ‘Fica aí que aqui sou eu’. O Cavani não vai bater de frente, ele não é burro.

CARECA

Isso tem que ser natural, do treinador, da semana de treinos. O Cavani poderia ser mais inteligente, deveria ter deixado o Neymar bater tudo porque o Neymar vai encher ele de bola para fazer gols. Numa parada dessas o Cavani já não vai receber bolas como estava recebendo. Ele foi egoísta demais. Esse tipo de coisa já sai do vestiário, isso é coisa de escolinha, de categoria de base, juvenil.

O Cavani poderia ter sido mais inteligente, deveria falar: ‘Tu bate pênalti, tu bate tudo porque eu sei que você vai me colocar várias vezes na cara do gol e eu vou fazer dois, três gols’. O Cavani foi infeliz. Eu não sei o que saiu determinado dentro do vestiário, e eu acho também que o treinador vai receber uma intimação do presidente do PSG [risos].

Agora vai ficar desagradável, vai ser ruim para contornar isso. O treinador poderia ter evitado isso antes de acontecer, já dizer: ‘O Neymar é diferenciado, é o cara que bate falta, que bate pênalti, é moleque de personalidade, tempo ruim ou tempo bom ele vai lá e bate’, como ele fez no Barcelona x PSG do ano passado, que para mim o Messi pipocou. Ele sentiu o Messi inseguro e falou: ‘me dá aqui que eu bato essa p...’. Bateu e fez.

evair em sua casa - Joel Silva/Folhapress - Joel Silva/Folhapress
Imagem: Joel Silva/Folhapress

EVAIR

Quem deve estabelecer são os treinos, chamá-los e dizer a eles: ‘Olha, o melhor vai bater e pronto’, isso que faz a diferença, que ganha um campeonato. Essas coisas trazem uma desunião muito grande para dentro do grupo, então deve ser decidido antes e quem dá a última palavra é o treinador.

É difícil porque parece que já está avançado, aconteceu várias vezes, então era melhor ter pensado nisso antes. Agora é ter bom senso dos dois lados, porque este tipo de coisa desagrega o grupo e acaba trazendo muitos prejuízos.

Muitas vezes em alguns times outros jogadores queriam bater e estavam à disposição para bater, mas desde que batesse melhor que eu. Precisava bater melhor que eu [risos].

DJALMINHA

Quem determina quem vai bater é o treinador, mas tudo isso durante a semana, tem os treinamentos. E o treinador, na preleção vai passando a parte tática, técnica, quem bate os escanteios, quem bate falta, quem bate pênalti... Isso vai pré-determinado pelo treinador.

Se já aconteceu é porque o treinador não determinou isso. Eu acho difícil ele agora, depois da confusão, ter uma posição. O treinador tem que chegar e determinar. Agora ficou aquele climão, mas depende de cada um, da vontade deles de ficar bem ou não. Não há motivo para se criar uma coisa de louco se eles estão dispostos a ficar de boa. O problema é se eles não estão dispostos a ficar de boa, aí será outra história. Se eles quiserem passar uma borracha e continuar tudo numa boa, depende deles. Agora... Ficou bem claro que os dois querem bater pênalti.

LUIZÃO

Quem define é o treinador. Ele define quem bate melhor, quem bate e quem não bate. Toda vez que eu joguei sempre tinha um que ia bater, isso era determinado antes já para não ter essa confusão.

Quem tem que contornar é o treinador, ele ganha para isso. Tem que controlar o time. Isso já aconteceu comigo: eu e o Viola no Palmeiras, já aconteceu com o Djalminha... Às vezes fazem uma tempestade num copo d’água.

ROBERTO DINAMITE

Na minha época isso era decidido dentro do treinamento, do aproveitamento de cada um. Quem era o batedor de pênalti e falta do Flamengo na época? Era o Zico, então ninguém chegava. O meu caso no Vasco também: era falta e pênalti. Antes mesmo, na preleção, o treinador já falava. Claro que o Neymar está chegando agora, mas é o cara, é diferenciado neste sentido.

É dentro de um papo, um diálogo entre eles. Tem que deixar um pouco essa coisa da vaidade. Eu não batia pênalti porque era o Roberto, eu batia pênalti porque o meu aproveitamento era bom. Eu batia falta por quê? Porque eu treinava pra caramba, não era à toa. Todo mundo ia embora e eu ficava treinando ali, batendo falta, batendo pênalti, e aquilo ali me credenciava a chegar no jogo e ter um aproveitamento muito bom.

Isso, de certa forma, gera um desconforto para todo mundo. É uma coisa ruim para todo mundo, gera até uma insegurança para quem está ali para bater. Este tipo de coisa não pode acontecer dentro de um time em que você tem grandes jogadores, grandes estrelas. E aí é o técnico e os próprios jogadores quem têm que administrar melhor para a coisa poder fluir.