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Fortaleza encara o "jogo da vida" para acabar com a maldição da Série C

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Há 8 anos na Série C, Fortaleza acumula frustrações, mas pode até perder por acesso

Roberto Oliveira

Colaboração para o UOL, em Recife

23/09/2017 11h00

Assombrado por uma “maldição” que já se arrasta por oito anos na Série C, o Fortaleza nunca esteve tão perto do acesso para a segunda divisão do futebol brasileiro. Para espantar o “fantasma" das eliminações passadas, porém, o Leão cearense precisará defender a boa vantagem contra o Tupi-MG no jogo de volta das quartas de final da terceirona, às 20h30 deste sábado (23), em Juiz de Fora. Caso avance à semifinal, o time garante o acesso. 

No primeiro jogo, o Fortaleza bateu o Tupi por 2 a 0 na Arena Castelão - na primeira vez, inclusive, que se vê em vantagem no mata-mata na Série C. Nos últimos três anos, por exemplo, caiu nas quartas de final da competição, sempre em seu estádio. Agora fora de casa, o clube parte para o que vem sendo chamado de “jogo da vida” por jogadores, comissão técnica e direção. 

 

"A gente tem encarado assim [como jogo da vida]. Muitos atletas tem falado espontaneamente, eles sabem que caso venha o acesso vão ficar marcados no clube e em suas carreira. E pra mim também, embora eu já tenha vivido duas vezes essa situação, mas o mais importante é sempre hoje”, disse ao UOL Esporte Marcelo Paz, diretor de futebol do Fortaleza que viveu duas das três últimas eliminações no Castelão. 

 

Para simbolizar a importância do acesso para todos no Fortaleza, o dirigente recorre a um exemplo caseiro - e que reflete toda a expectativa que cerca a partida contra o Tupi neste sábado. 

 

"O meu filho, que tem 9 anos, não viu o Fortaleza subir ainda, fora da Série C. Eu quero muito que ele amanhã à noite possa ter essa alegria, ver o Fortaleza na Série B. Ele é torcedor, acompanha mesmo, e vê meu drama pessoal. Esse sentimento simboliza 2 milhões de torcedores”, contou Paz. 

 

Um dos atletas que assimilou o discurso e prometeu "dar a vida" na decisão foi o atacante Lúcio Flávio. "Acreditem na gente. Nós estamos focados e fizemos uma logística muito boa para que a gente esteja inteiro no jogo. Esse é o mais importante dos últimos oito anos, o mais importante da minha vida. Tenho certeza de que é de muitos atletas aqui. A gente vai dar a vida. Nós sabemos da responsabilidade e vamos entrar muito focados, muito ligados, e concentrados para deixar tudo em campo. Porque nós temos certeza de que, ao final dos 90 minutos, nós estaremos comemorando", declarou em entrevista coletiva. 

 

O peso do passado 

 

Desde 2010, além dos três últimos anos, o Fortaleza foi eliminado nas quartas de final também em 2012. Nas demais edições, parou ainda na primeira fase. O peso do retrospecto negativo, da sombra das eliminações no momento decisivo, portanto, existe. Apesar disso, a direção do clube procura não colocar nos ombros dos jogadores a carga do histórico recente. 

 

"Desde o início da competição, a gente tentou trabalhar esse ano, não trazer o peso pra esse elenco. Cada ano é diferente, elenco diferente, não podemos carregar esse peso. Mas sobre esse ano, sim, são os responsáveis por essa perspectiva de acesso. Desde o começo a gente tem trabalhado pra tirar esse peso, e com o resultado do primeiro jogo, encaramos este segundo com razão, sem muita emoção, é tomada de decisão, disciplina, estudo de adversário, estarmos preparados pra ganhar um jogo, é um jogo”, explicou o diretor de futebol do Fortaleza. 

 

Mas houve algum trabalho psicológico específico junto aos jogadores para “o jogo da vida”?

 

"Nós contamos com uma psicóloga o ano inteiro, a gente não buscou nada especifico para essa semana. Entendemos que esse trabalho tem que ser cotidiano, conhecer perfil do grupo, inclusive individualmente, como reage melhor. Particularmente essa semana procuramos isolar das influências externas, nada de chamar motivador, nada disso, mantivemos o foco no trabalho técnico, de preparação pro jogo, e emocional com a comissão técnica, como deve se comportar, definir a estratégia de jogo, tudo que faz parte."

 

Do outro lado, um ano depois

 

Bastante conhecido no futebol brasileiro, o ex-jogador Antônio Carlos Zago é o técnico responsável por encarar o desafio de enfim tirar a equipe da Série C após quase uma década. O curioso é que, no ano passado, ele foi um dos responsáveis pela eliminação do Leão do Pici. Comandava o Juventude, que conseguiu o acesso em pleno Castelão. Agora defendendo o time cearense, a expectativa é que se confirme sua pecha de " bom de mata-mata”.

 

"O histórico recente do Zago mostra que ele tem bom desempenho nesse tipo de duelo eliminatório. Subiu o ano passado pelo Juventude, inclusive contra a gente, chegou nas quartas de final da copa do Brasil num grande trabalho e foi finalista do Campeonato Gaúcho também”, afirmou Paz, confiante no trabalho do treinador.

 

Para ele, o Fortaleza não pode jogar em Juiz de Fora com o regulamento debaixo do braço. É preciso ter cautela, sim, mas não pode abrir mão de atacar. " A gente não pode só se defender amanhã [hoje], se a gente conseguir um gol, valeria muito. O Tupi terá que fazer quatro."

 

Como venceu por 2 a 0 o jogo de ida no Castelão, o Fortaleza pode até perder por um gol de diferença para garantir o acesso. Se o Tupi devolver o placar, o jogo vai para os pênaltis. Caso marque um gol, a valer o critério do gol qualificado, o time cearense poderá perder até mesmo por 3 a 1, que sobe.