Professor cruzeirense faz piada com atleticanos e agora teme ser demitido
Uma brincadeira sobre a rivalidade entre cruzeirenses e atleticanos se transformou numa enorme polêmica em uma escola estadual de Belo Horizonte. Na véspera da final da Copa do Brasil nesta quarta-feira, o vice-diretor da Escola Estadual Divina Providência escreveu um post no perfil da escola no Facebook liberando os alunos a irem com a camiseta do Cruzeiro para apoiar o time, que enfrenta o Flamengo logo mais.
No final, o texto da escola fazia uma provocação ao rival Atlético-MG. “A camisa do Atlético-MG só será liberada quando ele ganhar algum bicampeonato.”
A postagem acabou viralizando, e o perfil da escola recebeu centenas de comentários e milhares de curtidas em poucas horas. Além de elogios, a escola recebeu críticas. O autor do texto foi o professor de Educação Física, atual vice-diretor e cruzeirense Gabriel Nunes, de 40 anos.
Ele afirma ter recebido uma ligação de alguém se dizendo da Secretaria de Educação do Estado ameaçando processá-lo por incitar a violência entre os alunos e dizendo que ele poderia ser exonerado. A secretaria nega que tenha entrado em contato com o professor.
“Eu fiz a brincadeira ontem, o intuito era ficar só entre os nossos alunos, mas viralizou e perdemos o controle”, disse o professor. “Tinham alguns comentários saindo do nosso foco, da nossa intenção que era promover um clima agradável entre os alunos, aumentar a interação entre eles.”
Gabriel resolveu tirar a postagem do ar e em seu lugar colocou uma nota esclarecendo o caso. “A nota dava uma alfinetadinha no rival Atlético. Na mesma hora, eu repensei e tirei.”
Nesta quarta-feira, muitos alunos chegaram à escola com a camisa do Cruzeiro, e alguns também foram com a do Atlético. Segundo o professor, o clima foi de tranquilidade e gozação sadia.
“A escola fica numa região carente, e os alunos aqui não têm acesso ao Mineirão por causa do preço dos ingressos. A postagem era uma forma deles confraternizarem com a gente. Mas mais pro fim do dia, recebi uma ligação de alguém se dizendo da Secretaria de Educação, e pelo tom acredito fielmente seja, ameaçando me denunciar ao Ministério Público Estadual por incitação à violência, dizendo que eu poderia ser exonerado. Eu respondi apenas: ‘Venha aqui à escola para saber o tamanho da violência que está aqui’.”
Gabriel disse lamentar a repercussão negativa que seu texto gerou e que tem recebido outras ameaças via redes sociais, o que o fez desativar os perfis. “Minha esposa está muito nervosa e chorando. Resolvi dar um tempo.”
Na página da escola, era possível ver momentos em que os estudantes praticavam esportes em campeonatos internos. Recentemente, o professor organizou uma “Libertadores” em que 16 salas vestiram a camisa de 16 equipes envolvidas na atual edição do torneio. Na final deu Grêmio x Boca, e a disputa de pênaltis foi narrada por Gabriel.
Além de sua própria versão da Libertadores, a escola já organizou as “Olimpíadas do Divino”, torneios de tênis de mesa e apresentações musicais envolvendo alunos e professores.
“Estamos em uma zona de vulnerabilidade social e com essas atividades temos alcançado resultados ótimos”, disse Gabriel, vice-diretor há dois anos. “A escola não tem depredação, não tem pichação, casos de roubo são raríssimos.”
Ele disse que já conversou com seus alunos, colegas e superiores sobre a brincadeira que fez, e classificou a repercussão negativa como uma “bobagem”. “Expliquei aos alunos o que estava acontecendo, pedi pra não irem de camisa de time amanhã, independente do resultado hoje. E estou aguardando uma notificação formal pra poder me defender, me explicar.”
Secretaria nega ameaça a professor, mas diz desaprovar provocação
Procurada pela reportagem, a secretaria disse que não entrou em contato com o professor e que portando não ameaçou denunciá-lo ao Ministério Público e nem a exonerá-lo. Mas a pasta disse que desaprova a postagem e prometeu falar com a direção para reforçar o estímulo à boa convivência entre os estudantes.
A secretaria de educação afirmou que recomenda o uso do uniforme entre os estudantes, e não camisas de clubes de futebol.
Leia a nota da secretaria:
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