35 anos depois, árbitro da tragédia do Sarriá diz: acertei todas decisões
Todas as minhas decisões foram corretas.”
A afirmação contundente é do árbitro que apitou um dos jogos mais doídos para o futebol brasileiro.
Sobrevivente da 2ª. Guerra Mundial e do Holocausto, Abraham Klein, hoje com 83 anos, curte a aposentadoria em sua casa, em Israel. Mas guarda com carinho não apenas o futebol, mas o Brasil. Se diz um grande amigo de Pelé, admira muito o futebol brasileiro e não esconde que também se surpreendeu muito com a eliminação da seleção de Telê Santana diante da Itália na Copa de 1982, em Sarriá, em Barcelona, na Espanha.
“Houve três jogos que eu analisei muitas vezes: Brasil x Inglaterra (em 1970), Áustria x Alemanha Ocidental (em 1978) e Itália x Brasil. Em 1970, o Brasil derrotou a então campeã mundial. Em 1978, a Áustria eliminou a então campeã Alemanha Ocidental. E, em 1982, a Itália derrotou o grande favorito Brasil. Em todos esses, eu fui o árbitro e analisei as partidas muitas e muitas vezes. E cheguei à conclusão que as minhas decisões foram corretas”, afirmou, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, por email.
Para Klein, a camisa rasgada de Zico por Gentile dentro da área não foi pênalti por um simples motivo. Havia marcado uma falta antes. Ele também não comentou um impedimento inexistente marcado para a Itália, que faria 4 a 2. Assim como o pênalti não marcado em Rossi por Luisinho.
Sobre a defesa de Zoff no último lance, em que a bola parou em cima da linha, ele lembra detalhes: “Dino Zoff, o goleiro italiano, parou a bola na linha. Os brasileiros começaram a comemorar, mas eu não dei o gol. Eu vi que a bola não havia entrado inteiramente no gol.”
Então, se muito já foi falado pelos jogadores da época sobre aquela partida, o que Klein tem a dizer?
“Paolo Rossi marcou três gols. Eu acho que nunca um jogador havia feito três gols no Brasil em uma Copa. Não posso dizer o que aconteceu. Mas foi uma enorme surpresa”, disse Klein, um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial (leia-se dos nazistas).
Árbitro x ONU
Judeu e israelense, Klein disse que nunca passou por uma situação antissemita dentro de campo. Mas de uma coisa ele tem certeza, é mais difícil ser árbitro do que trabalhar na ONU (Organização das Nações Unidas).
Como árbitro você precisa tomar decisões rápidas. Na ONU, tem tempo para discutir, debater e chegar a melhor conclusão”
Klein acredita ainda que acontecerá um jogo de futebol entre Israel contra a Palestina, Síria ou qualquer outro país árabe. “Acredito na paz.”
Argentina x Itália, em 1978, o jogo mais tenso
Paz, aliás, foi o que ele não teve em 1978, em Buenos Aires. A Argentina vivia um momento tenso dentro de campo, mas principalmente fora, no auge do rigor da ditadura de Jorge Rafael Videla, que chegou à presidente após um golpe de Estado.
O ex-árbitro israelense não tem dúvida em dizer que nem de longe Brasil x Itália foi a sua partida mais difícil de apitar. Quatro anos antes, ele estava em campo na derrota da anfitriã Argentina também diante dos italianos.
“Aquele jogo era muito importante para a Argentina, porque quem ganhasse continuaria jogando em Buenos Aires na segunda fase. E também porque todos os generais, incluindo Videla, estavam no estádio”, lembrou. “E o público não parava de reclamar por pênaltis para a Argentina. Houve uma pressão enorme, mas eu fiz o meu melhor”, completou.
Após a partida, Klein não foi questionado. O que ajudou foi ter no currículo outras duas Copas. Além ainda de ter participado do Mundialito no Brasil, ele também foi o bandeirinha da decisão do Mundial de 1970.
Brasil x Inglaterra em 1970. E elogios a Arnaldo César Coelho
Logo em sua primeira Copa, Klein levou o primeiro susto. Quase não acreditou quando foi informado que ele apitaria Brasil 1 x 0 Inglaterra diante de 67 mil pessoas no estádio Jalisco, em Guadalajara (México).
Fazendo uma volta ao tempo, aquele era justamente o confronto entre os dois últimos campeões mundiais e colocaria frente a frente dois de seus ídolos: Bobby Charlton e Pelé. Não à toa ele não teve dúvidas em procurar um fotógrafo da partida e pagar 100 dólares (“uma fortuna na época”) para ter a imagem ao lado de Charlton e de Carlos Alberto Torres no meio-campo, antes do início do duelo.
“Foi um risco terem me colocado. Havia outros árbitros melhores do que eu, muito mais experientes”, disse. “Mas depois do jogo não houve reclamações e eu acabei selecionado para apitar México x Itália nas quartas de final”, lembrou. Klein, porém, acabou ficando fora da partida por ter ficado gripado.
Mas Brasil x Inglaterra foi o jogo mais importante, muito mais do que ter sido o assistente na final de 1982”
“E olha que para mim foi uma grande honra ter sido assistente de Arnaldo César Coelho na decisão. Ele é realmente um gentleman e fez uma grande final.”
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