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Técnico há mais tempo em um time no Brasil é fã de Tite e sonha com Série A

Cláudio Tencati está no comando do Londrina desde 2011 - Divulgação/Londrina
Cláudio Tencati está no comando do Londrina desde 2011 Imagem: Divulgação/Londrina

Lara Mota

Colaboração para o UOL

30/09/2017 04h00

Sempre que um treinador é demitido no futebol brasileiro - a última vítima foi Rogério Micale, que se desligou do Atlético-MG -, surgem números referentes à dança das cadeiras dos técnicos no país. Poucas profissões são tão instáveis. E nessa hora o nome de Cláudio Tencati, do Londrina, também é lembrado por ser o campeão de permanência à frente do mesmo time: seis anos.

Nesse período, o treinador levou o time ao título paranaense de 2014 (campeonato que não vencia há 22 anos) e foi campeão quatro vezes do Torneio do Interior. Além disso, conseguiu os acessos da Série D para a Série C e depois para a B do Brasileirão, onde o time está nesse momento, brigando para subir à elite do futebol nacional. O clube é também finalista da Primeira Liga.

O UOL Esporte foi até Londrina conversar com Tencati para descobrir qual a receita para ficar tanto tempo no mesmo clube. "O segredo é vencer. Treinador tem que cumprir metas, tem que passar por um clube e deixar títulos. Acredito que no meu caso foi se construindo esse fortalecimento em função dos resultados", afirma.

O técnico acredita também que só está há tanto tempo no cargo porque o Londrina é um clube-empresa, controlado por um gestor. "Eu acredito que o problema dos clubes é a gestão, porque tem muita gente para dar opinião. Tendo um único gestor, sem a interferência de opiniões diferentes, fica mais fácil, são poucas pessoas para especular", esclarece.

As boas campanhas recentes renderam alguns convites para deixar o Paraná, mas ele sabe que junto ao novo desafio vem uma realidade mais cruel. "Eu sei que no mercado fora daqui isso não vai acontecer (a longa permanência), é muito difícil. Porque os clubes hoje têm um modelo de gestão em que isso que eu vivo no Londrina é irreal. Olha o Zé Ricardo no Flamengo recentemente. Tinha um projeto, mas aí aconteceu um revés numa competição importante como a Libertadores e depois o resultado subsequente do Brasileiro, e mesmo o presidente não querendo demiti-lo, houve uma pressão de fora, externa, e infelizmente não mantiveram o projeto. Então eu sei que eu sou uma rara exceção. A gente até brinca aqui que eu sou um E.T. no futebol".

Apesar disso, Tencati sabe que o momento de deixar o norte do Paraná está chegando. "Eu e minha comissão técnica sabemos que em algum momento vamos ter que romper esse laço com o Londrina e arriscar, até para nos fortalecermos emocionalmente", diz ele. "Eu gostaria de buscar outro estado, outra região, um Campeonato Paulista, Carioca, Mineiro, para entender o processo em outras regiões importantes. É uma necessidade minha como profissional".

O Londrina está hoje em uma posição intermediária na tabela da Série B - 10° lugar. O time ainda tem chances de subir sem depender de outros resultados, mas para isso tem que vencer 11 dos 12 jogos restantes. A próxima partida é em casa contra o CRB, na sexta-feira (29).

"Eu já cumpri minha meta com o Londrina, meu compromisso era deixar o time na Série B. A ideia era conseguir isso até 2021, mas a gente fez isso precocemente. Minha pretensão agora é buscar espaço no mercado, me mostrar para o mercado e dizer: estou à disposição, quero ter outras experiências. A Série A é meu grande projeto, é com isso que eu estou sonhando", revela.

Mas se o acesso vier neste ano, os planos de Tencati podem mudar. "Se o time subir, será mais um ano no comando do Londrina. O que pode garantir minha manutenção no time é exatamente isso, o acesso. Nós vamos lutar ainda".

Luxemburgo e Tencati - Assessoria de Imprensa Londrina EC - Assessoria de Imprensa Londrina EC
Luxemburgo foi um dos nomes citados por Tencati como referência
Imagem: Assessoria de Imprensa Londrina EC

Perfil moldado por exemplos

Paranaense, 43 anos, formado em educação física e dono de um jeito calmo de conversar, Tencati afirma que o grande exemplo que teve ao decidir ser treinador de futebol veio do São Paulo. "Na minha transição de atleta a treinador, eu tive como referência o Telê Santana. Eu gostava muito do jeito dele de comandar, sempre foi um treinador disciplinador, muito correto, muito sério, muito exigente com os atletas. Eu procuro me espelhar no perfil dele".

Mas Telê não é o único. "Também lembro o perfil vencedor e motivador do Vanderlei Luxemburgo e não tem como não ter como referência agora o Tite. Ele é, na minha opinião, o melhor do Brasil, um técnico moderno, que se atualizou, sabe direcionar grupo, sabe conduzir elencos".

Tencati faz ainda uma confissão: "Eu tenho buscado inclusive estudar o Tite. A gente vê que na seleção brasileira rapidamente ele encaixou o time e deu um padrão de jogo, trouxe os atletas de novo para aquela alma que a seleção deveria ter".

Já fora do Brasil, o parâmetro de Cláudio Tencati é Pep Guardiola, atual treinador do Manchester City. "Todo mundo sempre usou o Guardiola como uma referência pelo que ele criou no Barcelona. Mesmo tendo jogadores fantásticos, ele criou o padrão de jogo, a forma de jogar. É difícil imitar isso. Todo mundo fala que ele teve tempo para fazer o que ele fez, e eu tive esse tempo. Mas a rotatividade de jogadores no Brasil é um grande problema. De uma temporada para outra se troca muito. Do ano passado para esse eu perdi 15 atletas do elenco. Não dá para exigir padrão, forma de jogo, sintonia".

Tencati acredita que o futebol brasileiro mudou muito e que vivemos um momento de transição. "Hoje, defender e contra-atacar é muito mais importante que posse de bola. Mas chutão e ligação direta me irritam demais, porque eu treino exaustivamente para dar um caminho para que eles possam chegar ao gol adversário com mais qualidade", diz.

O treinador torce para que, em um futuro breve, o futebol brasileiro tenha mais profissionais como ele, batendo recordes de permanência à frente dos mesmos times. "O mercado brasileiro perdeu muito para treinadores italianos, espanhóis e alemães em função da estrutura que eles têm: termina-se de jogar e há uma preparação muito forte para ser treinador. O Brasil está começando a fazer isso, e esse é o caminho. Os cursos da CBF são um exemplo".

E completa: "Entendo que aquela fala do Renato Gaúcho sobre não precisar estudar já caiu. Ele mesmo vai ter que estudar, porque ele vai ter que passar pelos estágios das licenças, ou senão é ele que vai perder espaço no mercado".