Mecenas, atacante e promoter: A história do time de várzea do goleiro Bruno
Um futuro promissor e a ideia de que poderia se tornar imbatível. A história do "100% Futebol Clube", time de várzea financiado pelo goleiro Bruno, se confunde com a do próprio ex-jogador, preso pelo assassinato de Eliza Samudio.
Como seu "mecenas", o time de várzea viveu seu auge no fim da década passada. Fundado em 1995 por colegas do bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, a equipe virou uma espécie de potência amadora regional, vencendo torneios locais e recebendo visitas ilustres.
Bruno era o investidor por trás do sucesso. Conhecido como "Macarrão", o amigo Luiz Henrique Romão, também envolvido no crime de Samudio, exercia as funções de presidente e goleiro no time de amigos.
“Eles pararam no segundo semestre de 2010, logo depois que aconteceu aquele problema com o Bruno. O último campeonato que eles disputaram foi no segundo semestre daquele ano”, contou José Quirino Gomes, presidente da Liga de Neves desde 2013.
O clube começou a disputar torneios no início da década passada. Em 2005, venceu a Terceira Divisão da Liga de Neves, que conta com mais de 30 times inscritos. O título e a amizade com o presidente empolgaram Bruno, que passou a apadrinhar a equipe.
Chamado de “paizão” pelos atletas amadores, o então jogador flamenguista fornecia bolas e coletes usados na Gávea, além de financiar uniformes e passagens. Como não havia pagamento de salário, o arqueiro prometia churrascos e outras confraternizações em troca de bons resultados.
“Os gastos costumam ser mais básicos, como taxa de licenciamento e de inscrição, aluguel de campo, pagamento de árbitros... É difícil dizer qual era o custo mensal porque varia muito, mas não havia um gasto muito elevado, como pagamento de atletas ou manutenção de centro de treinamento. É um esporte amador”, afirmou Gomes.
Bruno e Love no ataque e jogadores-réus
Ainda filiado à Liga de Neves, o 100% aparece como inativo no site da federação. As histórias, que vão de Bruno atuando como centroavante à prisão dos principais membros, ficam na memória de quem os viu atuar na cidade vizinha da capital mineira.
“Quando o Bruno vinha jogar os torneios de férias, ele jogava como centroavante. Na Liga de Neves ele não jogava porque já tinha se tornado profissional. Aí fica complicado jogar, não pode”, revelou o atual mandatário da federação local.
“Eu já joguei contra o Bruno aqui em Neves. Quando eu jogava no Florença, nós nos enfrentamos em um amistoso. Ele era muito bom até como centroavante. Ele sempre foi muito bom de bola, independentemente da posição”, acrescenta.
Dois integrantes da equipe também foram parar no banco dos réus. Elenilson Vitor da Silva, caseiro do sítio de Bruno em Esmeraldas, e Wemerson Marques de Souza, motorista do goleiro e diretor do 100% FC, eram suspeitos de envolvimento com o crime. A dupla, entretanto, foi inocentada no julgamento de primeira instância.
Impedido de atuar nos torneios de várzea devido ao calendário atribulado e as questões contratuais, o goleiro organizava jogos beneficentes durante as férias. Em uma das partidas, foi agraciado com a presença do amigo Vagner Love. O ex-jogador de Palmeiras, Flamengo e Corinthians formou dupla de ataque com o arqueiro.
“O Bruno, quando estava em férias aqui em [Ribeirão das] Neves, costumava jogar. Ele fez uns quatro ou cinco torneios aqui em Ribeirão das Neves e sempre trazia presenças ilustres. Era uma rotina desde que ele se profissionalizou”, confirmou José Quirino Gomes.
Depois de receber habeas corpus em fevereiro de 2017 e fechar com o Boa Esporte, Bruno voltou à prisão no início de abril a mando da justiça. Os advogados do goleiro creem que é possível atenuar a pena e obter a liberdade em outubro. O 100% Futebol Clube, por outro lado, não tem previsão para volta aos campos de Ribeirão das Neves.
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