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Ex-SP diz que dribles desconcertantes de Alex e Gil o tiraram da Copa 2002

Emerson ao lado dos familiares - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

12/11/2017 04h00

20 de março de 2002. Torneio: Rio-São Paulo. Alex, do Palmeiras, marca um gol histórico no São Paulo com direito e chapéu no zagueiro e em Rogério Ceni. Dois meses depois, pelo mesmo campeonato, Gil dá um drible da vaca em seu marcador e faz um golaço na decisão entre Corinthians e São Paulo. Mas o que os dois lances têm em comum? Em ambos, o defensor que leva os dribles desconcertantes - do meia palmeirense e do atacante corintiano - é o mesmo: Emerson, que iniciou a carreira na Portuguesa e alcançou até a seleção brasileira.

Mais de 15 anos depois, Emerson ainda tem os lances na memória. Foram eles, inclusive, segundo o ex-zagueiro, os ‘responsáveis’ por sua não ida à Copa do Mundo de 2002. Ele tinha sido convocado tanto por Vanderlei Luxemburgo como por Luiz Felipe Scolari, que meses antes do Mundial ainda fazia testes para ver quais seriam os quatro zagueiros convocados. Emerson, depois do Rio-São Paulo, foi esquecido e não voltou a ser mais convocado para a seleção.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, por telefone, Emerson, que hoje vive em Bauru (SP), conta com detalhes o que o faz pensar que os dois lances em especial o tiraram da Copa do Mundo. “Na minha opinião, sim, porque o Felipão tinha assumido há pouco tempo, estava fazendo as experiências dele. Eu tinha ido no último jogo, na última convocação, em outubro de 2001, com o Felipão. Foi um jogo contra Chile em Curitiba [pelas Eliminatórias, Brasil venceu por 2 a 0 e Emerson foi titular]. Ele [Felipão] estava ainda pela procura de um zagueiro, tanto é que levou o Anderson Polga em dois amistosos”, recorda Emerson, que resume os primeiros meses de 2002, já no São Paulo (após passagem pela Portuguesa), como ‘desastrosos’ em sua carreira.

Emerson, da Portuguesa - EDUARDO KNAPP/FOLHA IMAGEM - EDUARDO KNAPP/FOLHA IMAGEM
Imagem: EDUARDO KNAPP/FOLHA IMAGEM

Praticamente três, quatro meses para uma convocação de Copa do Mundo, e aquilo ali tirou qualquer possibilidade de ir à Copa"

“Foram três, quatro meses tenebrosos porque a gente voltou da pré-temporada, começou Rio–SP e perdeu para o Corinthians na final. E foram aqueles lances isolados, individuais, que ficaram marcados. Aquele do Alex, do Palmeiras, e o lance contra o Corinthians, do Gil, na primeira partida da final, 3 a 2 para o Corinthians. Foi um lado meu, pessoal, que eu entendi que, de repente, não foi o que eu tinha pensado, o que eu esperava. Praticamente três, quatro meses para uma convocação de Copa do Mundo, e aquilo ali tirou qualquer possibilidade de ir à Copa”, recorda Emerson, que além de não ter ido à Copa, também acabou não sendo comprado pelo São Paulo, que o tinha contratado na metade de 2001 por empréstimo, a pedido do técnico Nelsinho Baptista, com quem o zagueiro já havia trabalhado na Portuguesa.

Depois de um primeiro empréstimo de seis meses, entre a metade e o fim de 2001, Nelsinho voltou a pedir a contratação do jogador para o início de 2002, por mais seis meses. “O Nelsinho pediu para o pessoal do São Paulo: ‘Mantém o Emerson, depois a gente vê se compra ele’, o passe estava estipulado, já tinha um valor determinado”. As coisas, porém, não aconteceram da forma que São Paulo e Emerson imaginavam. “Obviamente não houve um acordo para ficar no São Paulo e eu voltei para a Portuguesa. Então foi assim: tive seis meses fantásticos no São Paulo e depois três, quatro jogos que marcaram muito minha passagem”, lembra.

Os dois lances e a má fase fizeram Emerson perder a posição de titular do São Paulo já para o segundo jogo da final do Rio-São Paulo 2002, contra o Corinthians. A situação, inclusive, foi claramente esclarecida pelo técnico Nelsinho Baptista, que conversou com o zagueiro.

Foram dois lances num espaço muito curto, 46 dias somente"

“Ele chegou e falou: ‘Emerson, o momento está ruim’, mas tentou passar confiança. Foram dois lances num espaço muito curto, 46 dias somente. Eu me lembro que a gente perdeu o primeiro jogo da final [contra o Corinthians] por 3 a 2 e no segundo jogo mesmo eu fiquei no banco de reservas. O Nelsinho conversou comigo e falou: ‘Eu vou te tirar de repente para te preservar’ e tudo mais. Eu entendi da melhor maneira possível, não era o meu melhor momento dentro do São Paulo e eu acatei com o maior respeito possível”, conta Emerson, que ainda ficou abalado psicologicamente por tudo que aconteceu com ele naquele ano de 2002.

Eu tinha uma possibilidade muito próxima de, de repente, ir para uma Copa do Mundo"

“No momento, sim [mexeu com o psicológico], até porque eu tinha uma possibilidade muito próxima de, de repente, ir para uma Copa do Mundo, de o São Paulo comprar o meu passe em definitivo, e em questão de meses nada aconteceu dessa forma e eu, lógico, voltei para a Portuguesa, que era o meu clube de origem”, acrescentou o ex-zagueiro, hoje com 42 anos.

PORTUGUESA: A ‘SEGUNDA CASA’ DE EMERSON

Foram poucos os clubes na carreira de Emerson: depois de iniciar no XV de Jaú nas categorias da base, chegou à Portuguesa e passou por São Paulo, Shimizu (Japão), Belenenses (Portugal), Paraná, Botafogo e Ponte Preta, clube pelo qual encerrou a carreira em 2007, com 32 anos. De todos estes, o que mais lhe marcou foi a Lusa. E ele explica porque.

A Portuguesa brigou de igual por igual com muita gente durante uns quatro, cinco anos"

“A Portuguesa com certeza eu posso falar que é a minha segunda casa. A primeira é a casa dos meus pais, aqui em Bauru... O XV de Jaú foi o meu começo, porque eu saí de Bauru jogando em escolinha, mas na Portuguesa foram quase oito anos ininterruptos do dia que eu cheguei até o dia em que eu saí por empréstimo para o São Paulo. Eu fiquei quase oito anos dentro do Canindé, então eu tenho esse apego muito grande. As minhas melhores amizades foram feitas na Portuguesa, as mais verdadeiras também, é o começo de tudo. A única ressalva que eu tenho é não ter terminado a carreira na Portuguesa, mas aí já foram outras questões, outras coisas. Eu devo praticamente tudo da minha carreira à Portuguesa. As fases que a gente passou na Portuguesa, que foram vitoriosas mesmo sem títulos... A Portuguesa brigou de igual por igual com muita gente durante uns quatro, cinco anos, então isso foi muito bacana”, analisa.

Emerson lembra, inclusive, que deixou a Portuguesa rumo ao São Paulo não para ter mais visibilidade na carreira. E sim para atender um pedido de Nelsinho Baptista.

“A minha primeira convocação para a seleção brasileira tinha sido na Portuguesa, em 2000, com o Vanderlei Luxemburgo, então se eu falar que eu necessitaria de outro clube para ir à seleção brasileira eu estaria mentindo, porque a Portuguesa já tinha toda a visibilidade do mundo para poder fazer isso, tanto é que a gente viu o Zé Maria, lateral direito, o Zé Roberto, Leandro Amaral, Rodrigo Fabri, César, todos serem convocados. Não foi esse o meu intuito”, diz.

Veja outros trechos da entrevista:

Taça São Paulo e final de Brasileiro no mesmo ano. Foi como tudo começou

Eu sou de Bauru e comecei no XV de Jaú. E nós tivemos uma fase de quartas de final do Paulista que a Portuguesa caiu no nosso grupo, e o XV fez dois jogos brilhantes contra a Portuguesa, e o pessoal da Portuguesa gostou de cinco jogadores, e nós fomos emprestados para disputar uma Taça Londrina, que ainda existia, e posteriormente a Taça São Paulo. Depois a Portuguesa acabou ficando com três jogadores dos cinco e quem acabou tendo destaque no profissional acabou sendo eu. Então surgiu primeiro um empréstimo para depois a Portuguesa me contratar em definitivo. Eu me profissionalizei na Portuguesa, cheguei em fevereiro de 94, como amador, com 19 anos. Eu fui para os juniores, participei de duas Taça São Paulo, de 95 e 96. Em janeiro de 96 eu disputei a Taça São Paulo e em 15 dezembro a gente estava disputando a final do Brasileiro contra o Grêmio, é mole? E por coincidência negativa a gente foi muito mal na Taça São Paulo, a Portuguesa não passou da primeira fase, e o nosso técnico no sub-20, que era o Juninho Fonseca, deu aval para o Valdir Espinoza subir cinco jogadores para o profissional, entre eles eu, o Fabricio e o Leandro Amaral. Uma campanha ruim por um lado acabou impulsionando o Juninho a nos indicar para o time de cima. É preciso as pessoas terem olhos para fazer as coisas, não é só o empresário, não é só o lado comercial, ainda existem pessoas dentro do futebol que conhecem de futebol a esse ponto.

Por que a Portuguesa não levou o Brasileiro de 1996?

A gente tinha um elenco que era limitado, isso é obvio. E a gente jogou contra Cruzeiro, Atlético MG, eliminamos os dois. Times fantásticos no papel. E o grande mérito nosso foi esse ‘esquecer o papel’, entender que era possível chegar e, mesmo sendo o patinho feio da história, a gente criou dentro do clube essa possibilidade. E o título só não veio por questão de regulamento: a gente ganhou o jogo de 2 a 0 no Morumbi e perdemos no Sul por 2 a 0, o que é completamente normal. Méritos propriamente do Grêmio por ter feito uma melhor campanha e a gente não ter conseguido segurar a pressão lá no Sul. Se a gente tivesse conseguido levar o jogo para o segundo tempo, ter amarrado mais... Mas sofremos o gol logo no começo do jogo, do Paulo Nunes, foi uma ducha de água fria, mas a Portuguesa se portou de maneira igual, jogou o jogo e eu acredito muito mais no regulamento. Se a gente tivesse pensado no jogo de São Paulo... Era para ter sido 3, 4 a 0, e de repente ter sacramentado a situação, mas não aconteceu.

Paraná na Libertadores e passagens por Botafogo e Ponte

Voltando de Portugal, no meio de 2014, acertei com o Paraná Clube para disputar o Brasileiro, e eu fiz um término de Brasileiro fantástico. O Paraná ficou uma série de jogos invicto. Estava brigando para não cair e depois a gente embalou e escapou com tranquilidade da zona de rebaixamento. Eu renovei com o Paraná em 2005, só que no primeiro jogo do Campeonato Paranaense toca o telefone: o [Paulo] Bonamigo estava no Botafogo, pediu a minha contratação e eu conversei com o presidente do Paraná, expliquei a situação, falei: ‘Ó, presidente, a questão salarial está pegando muito. Eu agradeço o esforço que vocês fizeram para me manter’. Eu tive que dar um passo novo para retomar a minha carreira, na questão de um clube com um pouco mais de visibilidade e estrutura, então eu fui para o Botafogo, e foi um ano em que o Botafogo foi muito bem. Fazia tempo que não conseguia uma vaga na Sul-Americana e conseguiu. No Campeonato Carioca bateu na trave e, em 2006, eu voltei para o Paraná Clube e foi um ano onde foi campeão paranaense depois de alguns anos, há oito anos não era campeão estadual. E a gente levou o Paraná à Pré-Libertadores de 2007. Terminou o Brasileiro em quinto lugar, uma campanha surpreendente, e em 2007 eu fui para a Ponte Preta também a pedido do Nelsinho Batista, era a minha terceira passagem com o Nelsinho. A Ponte Preta montou um time para voltar ao Brasileiro, porque estava na Série B, mas não subiu. E no final de 2007 eu tive uma lesão grave na panturrilha, fiquei quase dois, três meses parado na Ponte Preta. Vim para casa em Bauru, tomei gosto pela coisa e parei, encerrei a minha carreira aos 32 anos.

O que fez depois que pendurou as chuteiras e o que quer fazer?

Eu engatei uma escola de futebol em Bauru. Comecei em 2008: montei quadras de locação, fiz escola de futebol. Eu tinha um amigo em Campinas, comprei um restaurante com ele, fiquei um período, e depois passei para ele para tocar sozinho. Hoje permaneço aqui em Bauru com a escola e sou coordenador da base do Noroeste.

Eu prefiro a questão gerencial, eu me adaptei, acho bacana, porque você acaba vendo um todo, você não fica apenas no foco da questão da equipe. Eu prefiro abranger um pouco mais essa questão. Eu sou muito claro com o pessoal daqui de Bauru: eu aceitei trabalhar no Noroeste por ser o time da minha cidade, por eu estar aqui. Eu estou vendo os meus filhos crescerem. Eu não sei se, de repente, eu trabalharia fora, é complicado, porque quem vive no interior sabe que hoje, voltar para a capital, nossa, é difícil. Tem que pensar muito, essa é a verdade.