Conheça o hotel de C. Ronaldo que virou Meca para seus fãs em Lisboa
“Your love makes me strong. Your hate makes me unstopabble” (em português, o seu amor me torna mais forte. O seu ódio me faz imparável). Essa é frase que surge acima da recepção logo que se cruza a sua entrada.
Ela remete a uma mensagem publicada em uma de suas redes sociais após críticas de torcedores. Um pouco mais à esquerda, encontra-se um bar com diversas TVs transmitindo eventos esportivos, entre eles, coincidentemente, uma partida do Rio Ave, clube com fortes laços com o seu agente Jorge Mendes. Na parede, um tablet para tirar uma selfie ao seu lado. Ao subir o elevador, as suas conquistas são deixadas à mostra. Se preferir as escadas, terá a companhia do som dos torcedores. E, por fim, ao adentrar o seu quarto, sete pegadas no carpete que recriam o seu sprint em campo.
Não tenha dúvida: esse não é um hotel qualquer. É o hotel de Cristiano Ronaldo.
Desde a sua inauguração oficial, em outubro do ano passado, o Pestana CR7 funciona também como a Meca para os fãs do craque em Lisboa, a cidade da moda na Europa. O UOL Esporte esteve no local na última terça-feira (7). Na ocasião, mais de 90% de seus 83 quartos, incluindo uma suíte, estavam reservados. A expectativa é de se encerrar o ano com uma taxa média de ocupação acima de 85%.
Segundo estimativa interna, entre 35% e 40% de seus clientes são atraídos pela idolatria ao atacante do Real Madrid.
Atentos a isso, o lifestyle hotel, como se autodefine, passou a distribuir a partir deste semestre souvenirs ligados ao português. Em caso de hospedagem por uma noite, um cartão autografado por ele. A partir de duas, uma bola que também carrega a sua assinatura.
Talvez não se tenha a exata noção, mas, para um atleta de origem humilde, vindo da paradisíaca Ilha da Madeira e que cresceu cercado por hotéis como Ronaldo, ter o seu próprio é a realização de um sonho. E foi assim que ele definiu em sua abertura. Dono de 50% de seus ativos,realizou investimento de 15 milhões de euros (R$ 56 milhões) ao lado do empresário Dionísio Pestana, conterrâneo e parceiro no projeto que abrange outras três unidades com o selo CR7 na Madeira, em Madri e também em Nova Iorque.
A cada visita a Lisboa, o cinco vezes melhor do mundo faz questão de parar para checar o andamento do negócio em uma cidade com turismo efervescente e com concorrência cada vez maior, especialmente, do Airbnb, uma preocupação geral no setor de hotelaria e, claro, também sua.
“Quando ele vem a Lisboa, está sempre por aqui, nem que seja para perguntar se está tudo bem. Gosta de saber o que se passa nos hotéis, não é mais um contrato de marca, mas um investimento, mesmo, dele, o que mostra a sua vontade de fazer parte no projeto. Nos pergunta o que mais pode fazer para melhorar as vendas. Quando uma pessoa tem 140 milhões de seguidores em uma rede social, acaba conseguindo espalhar a mensagem mais facilmente”, conta o diretor do Pestana CR7 Lisboa, Miguel Plantier, ao UOL Esporte.
“Ele quis absolutamente ter uma academia (que inclui um aplicativo com dicas de treinamento suas). No Funchal (na Ilha da Madeira), ela é ao ar livre, aqui, no interior. Uma série de pedidos de sua parte, passando, inclusive, pela paleta de cores da fachada, que teve a sua participação”, prossegue.
A reportagem teve acesso aos quartos, cujos preços variam desde 81 euros (R$ 302) até 681 euros (R$ 2.546 mil) por noite na suíte CR7, que, entre outros mimos, conta com Playstation 4 acompanhado do game Fifa, óculos de realidade virtual e uma varanda com vista para o rio Tejo e o Arco da Rua Augusta, na região central da capital portuguesa. Nas demais acomodações, é possível encontrar também televisores de 48 polegadas, tapetes de ioga e chuveiros com leds que mudam de cor conforme a temperatura da água.
Além disso, são disponibilizados internet de velocidade de 1GB, carregadores duplos USB para smartphones e tablets e um smartphone com internet liberada e 30 minutos diários de ligações nacionais e internacionais, fruto de uma das parcerias mantidas com startups europeias.
A tecnologia é uma das apostas principais para vencer a concorrência dos apartamentos Airbnb, cada vez mais comuns em Lisboa e motivo de controvérsia local em virtude do encarecimento dos imóveis e da fuga de antigos moradores de bairros tradicionais assustados com os preços.
“Acredito que, hoje em dia, temos muito poucos clientes fieis na hotelaria geral, especialmente no universo em que estamos concentrados dos ‘millennials’ (pessoas nascidas após a década de 80). O novo conceito de fidelização são os comentários na internet, posso não voltar, mas, com meu comentário, trago outras três pessoas. A mesma pessoa pode ser cliente de um hostel, Airbnb ou de um hotel, dependendo do propósito da viagem. O que eu acho é que concorremos, sim, com alguns apartamentos da mesma forma que concorremos com os hotéis”, analisa o diretor do Pestana CR7 Lisboa, Miguel Plantier.
“Cabe a nós criar serviços, ambiente e produtos que façam as pessoas virem para hotéis e não ficarem em Airbnb. Não tenho nada a queixar. Tenho a impressão que o Airbnb teve um papel muito importante no turismo em Lisboa. Se não existissem, os hotéis estariam todos por 600 euros (R$ 2.243 mil) a noite e ninguém viria. Tem que haver uma dinamização do setor para competir com essa nova concorrência, há muita coisa que fazemos melhor que eles, mas outros não estão fazendo e precisamos mostrar que existe diferença entre dormir num hotel e num apartamento na esquina”, completa.
O Brasil está entre os cinco países com maior número de hóspedes no Pestana CR7 Lisboa, que atrai também americanos, espanhóis, alemães e, sobretudo, franceses, o seu maior público.
“No hotel, vimos que existe uma tendência muito grande do brasileiro vir até Lisboa, ficar alguns dias, se dirigir ao Porto, outros lugares no interior, alguns até a Espanha, voltarem e ficarem aqui mais alguns dias. São circuitos um pouco maiores e aproveitam para visitar mais do que a nossa cidade, o que é excelente”, afirma Plantier. “É um cliente muito diferente do português. Não vou falar que são os clientes mais fáceis, mas clientes que, se as coisas correm bem, muito afáveis, simpáticos e dados às pessoas ao mesmo tempo que exigentes”.
Os argentinos não estão entre os hóspedes mais frequentes, mas, mesmo eles, incluindo a sua estrela Lionel Messi, seriam bem-vindas na Meca de Cristiano Ronaldo em Lisboa.
“Todos estão convidados (risos). Não há qualquer discriminação. Acho que o próprio Cristiano já mostrou várias vezes que não tem rivalidade insensata com as pessoas. Muitos fãs do Barcelona que vêm a Lisboa ficam por aqui. Não estamos a tentar alienar ninguém, não somos um hotel clubista ou político. Somos um grupo de jovens que trabalha por aqui e estamos tentando receber toda a gente, sem qualquer distinção de clube”, finaliza.
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