Dois rebaixados e um ameaçado. O que acontece com o futebol pernambucano?
Derrotados no último fim de semana, Náutico e Santa Cruz tiveram o rebaixamento para a Série C do Campeonato Brasileiro confirmado com três rodadas de antecedência. Na Série A, o Sport ocupa a 17ª colocação e corre sério risco de terminar a temporada – que até certo período parecia promissora – amargando o descenso e retornando mais uma vez para a segunda divisão.
Caso isso aconteça, o estado de Pernambuco voltará a ficar sem representantes na elite do futebol brasileiro depois de seis anos – a última vez que isso aconteceu foi em 2011. Mais que isso. Será a primeira vez que dois times do ‘trio de ferro’ estarão na Série C. Com esse cenário, pode-se dizer que o futebol pernambucano vive um dos piores anos de sua história.
Apesar dos erros de administração da Federação, que, por exemplo, deixou o Pernambucano terminar apenas no fim de junho por conta da falta de datas para a final, os próprios clubes são, de fato, os maiores responsáveis pela queda (literalmente) do futebol nordestino em 2017.
“Está péssimo. É torcer para o Sport... Muita briga política e muita questão interna dos clubes atrapalhou”, diz o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho, em entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte.
NÁUTICO: TROCA DE TÉCNICOS E PRESIDENTES
Vice-lanterna da Série B com apenas oito vitórias em 35 jogos, o Náutico seguiu à risca a cartilha do rebaixamento. Fez tudo o que não se deve fazer para ter uma temporada de sucesso: foram quatro presidentes – incluindo Edno Melo, que assume a partir de 2018 e já comanda o clube nos bastidores – e cinco técnicos diferentes desde o início do ano. Somado a isso, contratou cerca de 50 jogadores e rodou praticamente 80% do time durante a competição nacional.
Não à toa, a equipe alvirrubra figurou na zona de rebaixamento desde a segunda rodada da Série B. E a queda livre vem, coincidentemente ou não, desde 2013, quando se despediu dos Aflitos e passou a jogar na Arena Pernambuco – a média de público com a troca de estádio sofreu uma queda de mais de cinco mil torcedores. Nesta temporada, o Náutico chegou a disputar a Copa Sul-Americana, mas fez uma campanha desastrosa no Brasileiro, caiu e, desde então, não teve mais sucesso. Até ameaçou reagir nas temporadas 2015 e 2016 com o quinto lugar da Série B e o quase acesso para a Série A, mas falhou na “hora H” e perdeu a chance de mudar sua história.
"O desgaste e a disputa interna de cunho político nos clubes geraram um isolamento das diretorias. Tanto que o Náutico teve um fato inédito no Brasil: em um ano, três presidentes se sucederam, e isso naturalmente reflete no time. Muda três presidentes e muda seis [cinco, na verdade] treinadores", analisa o presidente.
SANTA CRUZ SOFRE COM PROBLEMAS FINANCEIROS
O Santa Cruz já convive há algum tempo com problemas financeiros. No momento, são cerca de quatro meses de salários atrasados entre jogadores, comissão técnica e funcionários. Principal nome do time, Grafite mais uma vez precisou tirar dinheiro do próprio bolso para ajudar o clube. Somado a isso, o Santa conta hoje com um núcleo político bastante desgastado e que já está no poder há vários anos – o que acabará a partir de 2018.
“No Santa Cruz, os problemas também são por questões políticas. Isolaram o presidente [Alírio Moraes] e ele ficou absolutamente sozinho, sem o apoio da base que o tinha eleito. Isso foi muito ruim. Tem que reestruturar tudo para o próximo ano”, alerta Evandro Carvalho.
O QUE ACONTECEU COM O SPORT?
Já a situação do Sport, que nesta quinta-feira (16) visita o Palmeiras e ainda tem chances de evitar o rebaixamento, passa por outros aspectos, até mais difíceis de serem compreendidos. Sem dívidas e com a melhor estrutura entre os clubes do Norte e Nordeste, o time rubro-negro chegou até a brigar pela parte de cima da tabela na Séria A, ainda com Vanderlei Luxemburgo. De uma hora para outra, porém, os resultados positivos começaram a desaparecer e a equipe – que conta com estrelas como Diego Souza e André – não conseguiu mais reagir.
Nem mesmo a participação em cinco competições ao longo do ano (Campeonato Pernambucano, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Série A e Sul-Americana) justifica o baixo rendimento do time, que começou a cair de produção justamente no momento em que passou a contar com apenas dois destes torneios. Com uma folha salarial de aproximadamente R$ 5 milhões, o clube aposta em Daniel Paulista para a reta final do Brasileiro, mas já começa a pensar em técnicos para comandar o time a partir de 2018 – Guto Ferreira é o favorito.
“O Sport é um case de sucesso. Na parte administrativa, seguramente, no Norte e Nordeste, é incomparável, em termos de gestão, administração, departamento... E no Brasil, seguramente ele figura entre os quatro, cinco melhores do Brasil. Ele tem um patrimônio qualificado, tem receitas organizadas, um trabalho comercial e de organização e venda de marcas muito bom. É um sucesso. Infelizmente, o time que vinha tendo sucesso, aparentemente, se desorganizou, ou por estar junto há muito tempo tenha se desmotivado... É difícil entender o que acontece com o Sport. Ele tinha todas as condições e tem os mesmos jogadores que nos outros três anos fez sucesso. É um fato, realmente, surpreendente”, analisa Evandro.
SÉRIES C E D: NOVA DECEPÇÃO DOS PERNAMBUCANOS
E não foi só nas séries A e B que os times pernambucanos decepcionaram em 2017. Nas séries C e D, o cenário se repetiu. Na Terceirona, o Salgueiro parou na primeira fase ao ficar apenas na quinta colocação de seu grupo. Já na quarta divisão, os três representantes do Estado não conseguiram ficar sequer entre os dois primeiros colocados de um grupo com quatro equipes; América-PE e Atlético-PE ficaram em terceiro, enquanto o Central-PE foi o último colocado.
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