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'Por que sempre eu?': Roupeiro conta bastidores de comemoração de Balotelli

Mario Balotelli jogou no Manchester City entre 2010 e 2013 - Andrew Yates/AFP
Mario Balotelli jogou no Manchester City entre 2010 e 2013 Imagem: Andrew Yates/AFP

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

06/12/2017 04h00

Em 136 anos do clássico de Manchester, muitos jogos emocionantes marcaram a história da rivalidade no noroeste da Inglaterra. Uma comemoração de gol em particular se sobressai entre tantos momentos inesquecíveis – pela originalidade do gesto e pelo histórico conturbado do protagonista.

A goleada arrasadora do Manchester City por 6 a 1 sobre o Manchester United, em outubro de 2011, em Old Trafford, onde os rivais voltam a se enfrentar neste domingo, já seria suficiente para ter um lugar de destaque no retrospecto do confronto, por ser a vitória com maior vantagem em quase um século e meio de disputa. A partida ficou marcada pela celebração de Mario Balotelli ao abrir o placar após cruzamento rasteiro de James Milner e finalização de primeira do atacante, no canto esquerdo de David de Gea.

Quando a bola estufou a rede do goleiro espanhol, o centroavante do City parou dentro da grande área e, sem expressar emoção alguma, levantou a camisa de jogo. Por baixo surgiu a pergunta inesquecível para os admiradores de celebrações irreverentes: “Why always me? (Por que sempre eu?)”.

Constantemente envolvido em problemas extracampo, Balotelli era prato cheio dos tabloides e paparazzi ingleses. Na véspera daquele Dérbi, por exemplo, bombeiros tiveram de ser acionados para conter chamas dentro da casa do jogador, oriundas de explosão de fogos de artifício. A resposta apareceu dentro de campo, com participação direta de um roupeiro do Manchester City, encarregado de estampar a mensagem no uniforme.

“Toda manhã nós fumávamos um cigarro após o treino”, revela ao UOL Esporte Les Chapman, o Chappy, ex-jogador e ex-treinador que cuidou da rouparia do clube por 17 anos. “Um dia ele chegou e disse: ‘Quero fazer algo especial para o Dérbi’. A ideia era imprimir algo na blusa térmica que os jogadores vestem por baixo da camisa. Respondi que não poderia ser nada ofensivo ou político. Primeiro ele sugeriu coisas impublicáveis (risos)”, admite. “Até que ele falou ‘Por que sempre eu?’, o que é brilhante, porque resume exatamente o que é o Mario”, declara sobre o jogador de 27 anos que defende as cores do Nice-FRA atualmente.

Balotteli no City - Alex Livesey/Getty Images - Alex Livesey/Getty Images
Imagem: Alex Livesey/Getty Images

“Ele é um ser humano extremamente único e faz exatamente aquilo que ele quer”, continua Chappy, 69 anos. “A pessoa mais imprevisível que já conheci. Inteligente, brilhante, mas talvez se envolveu com as pessoas erradas em Manchester. Estava sempre envolvido em problemas fora do clube, como ter de pagar milhares de libras em multas por estacionar em local proibido”.

Balotelli ainda anotou outra vez no triunfo que foi um dos grandes momentos da campanha do primeiro título da Premier League do City, sob o comando de Roberto Mancini – a atitude do ex-atacante da seleção da Itália só fica atrás provavelmente do gol do título, marcado por Sérgio Agüero no último minuto da rodada derradeira. A comemoração icônica contra o maior rival, no entanto, teve consequências para o roupeiro, cúmplice do plano.

“Sobrou para mim no dia seguinte, porque ao invés de apenas mostrar a frase, ele colocou a camisa por cima do pescoço e, por isso, levou amarelo. A partir de então essas mensagens foram proibidas no clube”.

Com Chappy como um dos apresentadores da TV do clube, função que exerce há três anos, o Manchester City retorna invicto a Old Trafford, neste domingo, para tentar ampliar a vantagem de oito pontos na liderança do Campeonato Inglês para os Red Devils, que ocupam segunda colocação.

Antes de ir à metade vermelha de Manchester, o City joga pela Liga dos Campeões nesta quarta. Já classificada como primeira do Grupo F, a equipe cumpre tabela na Ucrânia diante do Shakhtar Donetsk, que é vice-líder da chave e disputa vaga no mata-mata com o Napoli, três pontos atrás dos ucranianos e com o Feyenoord, eliminado, como adversário, na Holanda.