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Juíza do caso Fifa veta estratégia de Marin e ironiza poder de Del Nero

Marco Polo Del Nero sucedeu José Maria Marin no comando da CBF em abril de 2014 - Daniel Marenco
Marco Polo Del Nero sucedeu José Maria Marin no comando da CBF em abril de 2014 Imagem: Daniel Marenco

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Nova York (EUA)

11/12/2017 18h37

A Suprema Corte do Brooklyn, em Nova York, começou a ouvir nesta segunda-feira o advogado James Mitchell, que defende o ex-presidente da CBF José Maria Marin no julgamento de denúncias de corrupção na Fifa e na Conmebol nos últimos anos. Como já havia indicado durante o processo, a defesa de Marin tenta dividir a responsabilidade dos atos tidos como criminosos com Marco Polo Del Nero, que foi vice de Marin no comando da CBF e hoje preside a entidade. A estratégia, porém, foi barrada pela juíza Pamela Chen, que conduz o caso nos Estados Unidos.

Mitchell iniciou a acareação do agente Steve Berryman, do IRS (a Receita Federal dos Estados Unidos) com uma linha de perguntas que buscava questionar as razões de Marin e Del Nero terem sido indiciados pelos mesmos crimes, mas apenas Marin perdeu cargos na CBF, na Fifa e na Conmebol. Neste momento, Chen interrompeu o interrogatório e pediu para júri e testemunhas se retirarem da sala. A linha de perguntas foi questionada pela juíza e reforçada pelo advogado em encontro particular.

"Chama a atenção o fato de o senhor Del Nero não ter perdido sua posição na CBF nem na Conmebol, mesmo tendo sido indiciado pelos mesmos crimes e mesmo tendo sido citado tantas vezes neste caso como alguém cujas ações sempre foram conjuntas ao meu cliente. Me espanta que o Brasil continue sendo membro da Fifa, da Conmebol e ainda tenha se qualificado para a Copa do Mundo", criticou o advogado James Mitchell.

O promotor Samuel Nitze então disse que se opõe à esta linha de pergunta especificamente para um agente do Fisco porque ele "sabe tanto quanto qualquer pessoa sobre os critérios que levaram a Fifa a banir Marin e a não banir Del Nero de seu quadro de dirigentes". Além disso, argumentou o promotor, Del Nero perdeu o cargo no comitê executivo da Fifa e não pode viajar para o exterior.

A juíza, então, usou de ironia sobre o poder de Marco Polo Del Nero para analisar a estratégia de defesa de Marin: "O senhor não tem qualquer prova objetiva sobre os porquês da Fifa não ter banido o senhor Del Nero. Talvez ele tenha mais amigos nas altas esferas da Fifa. Mas para o júri teria um caminho muito sinuoso e pouco objetivo para chegar a conclusões meramente especulativas que não mudam em nada a situação do senhor Marin."

Após essa discussão, a juíza permitiu que o advogado de Marin prosseguisse com a acareação e pudesse perguntar se o agente do Receita sabia que o Brasil havia se qualificado para a Copa de 2018, como demonstração de que a Fifa não foi suficientemente dura com Del Nero. Em seguida, Mitchell tentou demonstrar que a Expertise e a Support Turismo não eram empresas criadas unicamente para a distribuição e o pagamento de propinas conforme a promotoria havia sugerido, já que há diversas outras transações aparentemente legais em seus extratos.

Sobre os gastos em grifes de luxo encontrados no extrato bancário da Firelli (empresa que está em nome de Marin e de sua mulher), a defesa do ex-presidente da CBF usou como justificativa o fato de ele ser "um homem rico, que possui e comercializa imóveis, dono de várias estações de rádio avaliadas em US$ 6 milhões".

Em Nova York, estão sendo julgados, além de Marin, o paraguaio Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol, e o peruano Manuel Burga, que presidiu a federação de seu país. As defesas iniciaram seus posicionamentos justamente nesta terça-feira, após diversas testemunhas e delatores serem ouvidos.