Como camisa de Paolo Rossi, da Tragédia de Sarriá, parou no interior de SP
“Não sei se ‘taco’ fogo, se vendo, se rasgo [risos]. Ainda não achei um destino para ela”
Juninho Fonseca, zagueiro da seleção brasileira, confessou ao UOL Esporte que ainda não sabe qual atitude tomar em relação a um dos objetos de maiores traumas da história do futebol brasileiro. A camisa 20 vestida por Paolo Rossi no fatídico dia 5 de julho de 1982, data da derrota da encantadora seleção brasileira de Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico para a Itália, se encontra na posse do ex-jogador. O hoje comentarista da Rádio Fé guarda o valioso/doloroso item em um armário da sua casa na cidade de Olímpia, no interior de São Paulo.
A camisa de Paolo Rossi, autor de três gols na vitória por 3 a 2 e responsável direto pela eliminação da equipe de Telê Santana, parou por acaso na mão de Juninho. O treinador relacionou o ex-zagueiro de Ponte Preta e Corinthians pela primeira vez naquele Mundial justamente no dia da Tragédia de Sariá. As lembranças amargas ainda são carregadas, mas o antigo defensor quis sair do estádio em Barcelona com ao menos uma lembrança, mesmo sem jogar.
“[A camisa] Veio para mim meio como um acidente. Fui ao vestiário da Itália, bati na porta, mostrei minha camisa e fiz um sinal de troca, falando em tudo o que é língua [risos]. Dei a minha camisa e me devolveram uma outra em um embrulho. Quando fui ver no hotel, era a número 20”, relembra o ex-defensor, em conversa exclusiva com a reportagem.
A camisa tão exposta pela televisão desde a eliminação brasileira, que completou 35 anos em 2017, se encontra guardada em um armário na casa de Juninho em Olímpia, cidade localizada a 440 km da capital paulista. Às vezes, o ex-zagueiro se depara com o traje usado pelo goleador italiano nos momentos em que organiza suas lembranças da época de jogador.
Mesmo sem jogar na Copa do Mundo e sendo chamado ao banco de reservas somente no traumático dia da eliminação para a Itália, Juninho saiu da Espanha com um objeto de valor. Acima da questão financeira, já que a camisa possui um alto valor de mercado pela importância histórica, o ex-defensor se apega às recordações pessoais, de formar parte de um importante momento do futebol mundial.
“Já recebi ofertas de colecionadores, e nem lembro qual foi a mais alta. Também, para ser sincero, nem abri para negociar. Nem lembro qual foi a oferta mais alta, também nem quero saber, nem imagino. Não me interessa. Quero criar um museu intinerante com objetos da minha carreira, e com certeza esta camisa vai estar lá”, conta, orgulhoso, o atual dono da camisa 20 que gera mais pesadelos no país.
Juninho relembra: “Vamos acordar gente, o jogo é só amanhã”
Mesmo sem estar em campo naquele dia, Juninho sentiu a angústia da eliminação contra a Itália. O ex-zagueiro até tentou usar o bom-humor para reanimar o grupo no ônibus depois da derrota, mas sem sucesso. O luto durou muito mais do que ele imaginava; somente aos poucos, o então camisa 14 da seleção de 1982 descobriu o quanto aquela derrota mudaria o futebol nacional.
“Ficamos umas 6h meio ‘torto’. Fui um dos últimos a entrar no ônibus e falei: ‘vamos acordar gente, que estamos dormindo; o jogo é amanhã. A reação dos outros jogadores não refletiu o peso da piada. Foi um susto muito grande”, relembra o ex-jogador, que se isolou no hotel da seleção até o retorno ao Brasil.
“Ficamos dois dias bem deprimidos, chateados. Foi um luto. Fomos vendo aos poucos o impacto da derrota. Tivemos que esperar o voo, que era fretado. Tivemos que esperar algo perto de dois dias, no mínimo. Ninguém saiu do hotel. Eu mesmo fiquei em um fliperama de palheta lá, com umas bolinhas. Às vezes cruzava com os outros, foi bem impactante”, disse.
Cursos na CBF e vida na rádio
Depois de deixar os gramados, Juninho Fonseca passou por diversas áreas do futebol. Foi dirigente, treinador – chegou a trabalhar no Corinthians – e agora atua como comentarista em uma rádio do interior de São Paulo. No entanto, o ex-zagueiro quer mais. O novo objetivo é explorar um mercado que recentemente chegou ao Brasil e tem sido valorizado cada vez mais pelos grandes clubes.
“Fiz um curso de coordenadoria técnica de base da CBF. Estou de alguma forma me reinventando para saber qual espaço ainda dentro do futebol. Se é que tenho espaço. Um observador técnico é um dos objetivos que tenho. Quando fiz o que curso para identificar este viés de analista de desempenho, o objetivo era observar se estava muito longe disso. No campo, como treinador, não devo mais ter o perfil”, analisa.
Enquanto estuda e busca explorar este novo meio de observação e análise de desempenho, Juninho Fonseca se ocupa com o trabalho de comentarista. O ex-zagueiro passou por um processo de preparação e investiu na própria carreira antes de obter uma vaga na Rádio Fé de Ribeirão Preto.
“Estou desde o ano passado lá. Fiz um curso de rádio-locução. Fui pedir emprego na EPTV, a afiliada da TV Globo aqui. Fui na cara de pau mesmo, mas me disseram que não tinha como trabalhar se não tivesse o DRT [registro profissional]. Fiz o curso, achei legal; expliquei para todo mundo do curso quem era e o que estava fazendo, e fui bem aceito. A Rede Fé me deu uma oportunidade e estamos aí”, contou o falante e bem-humorado Juninho Fonseca, que, em casa, tem um dos maiores “troféus” do futebol mundial.
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