Técnico virou mágico, "ensinou" governador no Japão e quer voltar ao Brasil
Campeão da Copa do Brasil de 2004 no comando do Santo André, Péricles Chamusca agora tenta voltar ao mercado brasileiro. Nos últimos anos, o técnico teve experiências no Japão e no Oriente Médio e teve como trabalho de destaque o realizado no Oita Trinita, clube em que virou mágico, desfilou vestido de noivo e até deu dicas de gestão para o governador local.
Chamusca chegou ao Oita Trinita em 2005, logo após deixar o Botafogo. Foi contratado pelo clube japonês para tentar evitar o rebaixamento que se desenhava. A equipe vinha de 12 jogos sem vitórias, e restavam apenas 12 partidas para o fim do campeonato.
Quando Chamusca chegou, o clube já se planejava para disputar a segunda divisão local a partir da próxima temporada. Mas o técnico já deu seu cartão de visitas logo na partida de estreia, vencendo fora de casa o então líder Urawa Reds, que vinha de longa invencibilidade em casa, por 2 a 1 diante de 60 mil torcedores. Foi assim que o treinador ganhou apelido de mágico.
"Foi um processo, principalmente psicológico. Cheguei, o Walmir Cruz estava lá, deu o feedback dele. Eu levei também meu irmão para a comissão, Marcelo Chamusca, que hoje está no Ceará. Em sete jogos, a gente teve seis vitórias e um empate. O engraçado foi que eles falaram que foi como se fosse mágica. Começaram a me chamar de Chamusca Magic. Nós gostamos de falar que é trabalho. Lá, tínhamos semanas inteiras de trabalho", contou, ao UOL Esporte.
Dos 12 jogos que restavam, o Oita Trinita perdeu apenas dois, garantindo sua permanência na elite do futebol japonês. Começaria ali um trabalho de quatro anos, o mais longo da carreira do técnico.
"Na verdade, o Japão foi o trabalho mais completo que tive como treinador. Foram quatro anos no mesmo clube. O Oita Trinita era um clube de investimento intermediário para baixo, e foi ganhando com os resultados", declarou.
O auge do trabalho foi em 2008, quando o Oita Trinita venceu a Copa da Liga Japonesa – uma competição eliminatória, semelhante à Copa do Brasil, mas que começa com fase de grupos. Até hoje, este é o único título nacional do clube. A conquista potencializou a exploração da imagem de Chamusca no país.
"Era um sonho para eles. Modificou esse clube. Entrou para a história. O imperador mandou telegrama e falou que a força do verão vinha do interior. Usavam muito a minha imagem. Dei palestra em hospital e na prefeitura de Oita sobre trabalho em equipe. Fui entrevistado pelo governador discutindo método de trabalho, com ele falando que usava ideias minhas. Saiu livro sobre meu método indo de acordo com as coisas da cultura local", afirmou.
Segundo Chamusca, a cultura japonesa enraizou o fluxo de informações de cima para baixo, em mão única. O conselho do brasileiro para o governador foi ouvir também quem estava abaixo na hierarquia, como o treinador faz com toda sua comissão e com todos os funcionários do clube. Este é um dos conceitos explicados no livro que o então comandante do Oita Trinita lançou no Japão.
Enquanto fazia sucesso como treinador, Chamusca participou de eventos pouco comuns no Brasil. Teve de se vestir de bombeiro, de capitão e até de noivo para representar o clube.
"Fui fazer apresentação com roupa de bombeiro, fui em navio de guerra viver um dia de capitão, fiz campanha contra a violência infantil. Teve um episódio em que relutei de participar porque achei que deveriam ir os atletas, mas o patrocinador bateu pé. Era um desfile para apresentar roupas de noivo. Tive que desfilar com roupa de noivo ao lado de uma noiva japonesa. Mas até que me saí bem", lembrou, aos risos.
Experiências no exterior
Depois de deixar o Oita Trinita, Chamusca voltou a trabalhar no Brasil antes de passagem pelo Jubilo Iwata, também do Japão, em 2014. De acordo com o técnico, os conceitos táticos que encontrou na época no país o credenciam para o que o futebol brasileiro apresenta no momento.
"Grande vantagem que a gente tem é que nesse processo de organização tática, com equipes compactadas, organização, velocidade, parecido com contexto externo, eu estava vivenciando desde 2005", opinou.
Os outros trabalhos de Chamusca no exterior foram no Oriente Médio. O técnico treinou o Al-Arabi, do Qatar, na temporada 2010/2011; o El Jaish, do Qatar, na temporada 2012/2013; o Al-Gharafa, do Qatar, na temporada 2015/2016, e o Al-Shaab, dos Emirados Árabes Unidos, na temporada 2016/2017. O treinador conta qual aprendizado tirou de cada clube em que trabalhou fora do Brasil.
"A experiência no Japão foi muito boa na parte tática, além de ter experiência em um contexto de disciplina, organização. No mundo árabe, teve o nível de monitoramento que forneciam. Eram oito câmeras em cada estádio, comprado pela própria liga do Qatar. No Gharafa, tinha um comitê técnico com base de dados, comparando com o nível de referência do futebol no Qatar. Podia usar como quiser, mas já tinha esse direcionamento", descreveu.
Memórias do Maracanã
Apesar do trabalho marcante no Oita Trinita, Chamusca admite que é difícil esquecer o título da Copa do Brasil conquistado em 2004 no Maracanã. Na ocasião, o Santo André venceu o Flamengo por 2 a 0 após empate por 2 a 2 no jogo de ida, disputado no antigo Palestra Itália.
"Não tem como não pensar. Mudou o patamar da minha carreira. Foi uma conquista que realmente me marcou. Especialmente pelo formato que foi, em um cenário muito especial, no Maracanã, contra um time gigante", disse.
Antes do título, Chamusca já havia entrado no cenário nacional ao se sagrar vice-campeão da competição com o Brasiliense em 2002. O técnico ainda conta com as boas campanhas para se credenciar a um clube importante no futebol brasileiro.
"Com certeza. Foram duas finais com dois clubes de baixo investimento em relação à competição", avaliou o técnico, que pensa em assumir um clube da Série A ou um da Série B que possa brigar pelo acesso.
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