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Há um ano, Dagoberto não queria jogar no Brasil. Hoje explica porque voltou

Dagoberto assinou contrato com o Londrina até o fim da Série B - Gustavo Oliveira/Londrina EC
Dagoberto assinou contrato com o Londrina até o fim da Série B Imagem: Gustavo Oliveira/Londrina EC

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

15/04/2018 04h00

"Eu não quero mais aqui no Brasil. O meu objetivo é ir para fora". A frase é de Dagoberto, em entrevista que foi concedida ao UOL Esporte no começo de 2017. Pouco mais de um ano depois, a história agora é outra. O atacante cinco vezes campeão brasileiro (por Atlético-PR, São Paulo e Cruzeiro) fechou recentemente com o Londrina e disputa a Série B pela primeira vez na carreira. Mas o que aconteceu para que o jogador de 35 anos topasse voltar a jogar em seu país?

Para entender essa questão, o UOL Esporte voltou a conversar com atleta que, ao contrário da entrevista do ano passado, mostrou-se bem mais otimista com o futebol brasileiro. A entrevista foi na semana que antecedeu ao duelo contra o Boa - o ex-são-paulino fez o gol da vitória por 1 a 0.

"Não adianta a gente ficar chorando pelos cantos ou reclamando, é questão de atitude, de você procurar fazer o teu melhor, e eu não estava em paz para parar também. Houve uma procura do Londrina e fiquei muito grato por isso, estou muito feliz. O importante é fazer as coisas com alegria. Naquele momento ali eu não estava curtindo as coisas como eu vejo hoje, então que eu possa usufruir disso, jogar e desenvolver meu futebol, curtindo. Esse é meu principal foco: fazer com alegria as coisas aqui no Londrina", disse.

Inicialmente, a ideia de Dagoberto era seguir atuando nos Estados Unidos, onde defendeu o San Francisco Deltas por seis meses - e inclusive foi campeão da NASL (espécie de segunda divisão dos EUA) marcando três gols em 13 jogos. Porém, a dissolução da franquia o fez voltar a pensar na possibilidade de retornar ao Brasil. "Foi fantástico. Uma experiência incrível. Apesar de ter ficado seis meses foi muito gostoso, eu precisava daquilo, e a família gostou demais, foi show de bola", contou. "Na verdade, eu tinha mais dois anos de contrato, só que o clube acabou e tivemos que fazer a rescisão. Por mim eu ficaria fácil lá. Pela família então, mais ainda".

Por mim eu ficaria fácil lá [nos Estados Unidos]. Pela família então, mais ainda"

Dagoberto chegou a iniciar conversas com outros times dos Estados Unidos, mas as negociações não avançaram. A partir daí, surgiu a ideia de, quem sabe, retornar ao Brasil. Por que não? "Lá é um mercado muito engessado, que é difícil você entrar. Nós ainda fomos campeões da Liga e depois eu fiquei esperando alguns contatos. Entraram algumas coisas, mas não andaram e eu falei: 'Ah, vou voltar para Curitiba', e voltei. Eu não estava nem um pouco com vontade, o meu objetivo era [voltar] só se valesse a pena, e que isso dentro de mim fosse resgatado, então foi por isso que eu voltei novamente", acrescentou.

Motivação no Londrina e incentivo da família

Além do fim da liga norte-americana e da consequente rescisão com o San Francisco Deltas, outros motivos foram cruciais para Dagoberto aceitar o desafio de voltar a jogar no Brasil. A começar pelo projeto oferecido pelo Londrina, que tenta mais uma vez retornar à elite do futebol nacional após quase 40 anos. Somado a isso, a vontade da mulher e dos dois filhos - à reportagem, Dagoberto revelou que recentemente descobriu que será pai pela terceira vez.

Dagoberto é apresentado no Londrina - Gustavo Oliveira/Londrina Esporte Clube - Gustavo Oliveira/Londrina Esporte Clube
Imagem: Gustavo Oliveira/Londrina Esporte Clube
"A última vez que o Londrina disputou a Série A do Brasileiro foi em 1982, tem 36 anos; a minha idade é 35 anos. Também é próximo de casa e foi aqui onde eu comecei a minha carreira, em 1998, no PSTC. E eu conversei com a minha esposa; sentei com ela e os meus baixinhos querem que eu jogue de qualquer jeito, eles não querem que eu pare, não, e a minha esposa também. Ela diz: 'Como é bom ver você em campo', e eu escuto muito isso dos torcedores, das mídias, então isso foi me aflorando, foi me resgatando uma coisa e me impulsionou, e eu falei: 'Por que não voltar? Eu tenho uma lenha ainda para queimar, graças a Deus. Eu me cuido, sou um cara que não tem problema com peso, e eu pedi muito a Deus esse direcionamento e tomei essa atitude com paz, e hoje eu estou muito feliz. Fiz um contrato até o final do ano", comemora.

Dagoberto foi apresentado no Londrina na terça-feira retrasada (3). Em pouco tempo, já tomou consciência da ambição e do desejo do clube paranaense em retornar à Série A. Vale lembrar que, nos últimos dois anos, o time ficou bem perto do acesso: acabou a Série B em sexto (2016) e quinto (2017) lugares. "Esse início está muito promissor, e era o que eu estava precisando, eu queria isso aí, um projeto bacana, uma coisa simples e com foco, e o nosso foco é bem claro: subirmos. Mas temos a consciência que será muito difícil", alertou.

Primeira Série B na carreira

Com passagens por Atlético-PR, São Paulo, Inter, Cruzeiro, Vasco, Vitória e San Francisco Deltas, Dagoberto ainda não sabe o que é disputar uma Série B. O atacante, porém, acredita que não terá problemas com esta questão e se mostra surpreendido com a atual estrutura do Londrina.

O Londrina está num patamar muito acima de muitos clubes da Série A"

"Para mim independe [primeira Série B]. O Londrina está num patamar muito acima de muitos clubes da Série A. Pô, hoje a estrutura que eu vejo aqui, a qualidade da cidade, o modo que o Sergio Malucelli [gestor do Londrina] conduz esse clube aqui... Nós conversamos uma vez, sentamos num café perto de casa e depois de alguns dias dei o retorno para ele e já nos acertamos. O projeto é subir para a Série A. É bem claro que eles vêm batendo nesta tecla há dois anos, então foi bem simples e me senti muito em paz, juntamente com a minha família, para tomar essa decisão", disse o jogador, pai de uma menina de dez anos e um menino de seis.

Nova função dentro de campo

$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-foto','/2018/dagoberto-corre-para-comemorar-seu-gol-pelo-sao-paulo-no-classico-pelo-palmeiras-1523472060770.vm')Quem acompanha o futebol de Dagoberto desde os tempos de Atlético-PR, acostumou a vê-lo atuando pelas pontas, explorando bastante a velocidade e os dribles. Hoje com 35 anos, o jogador vem, cada vez mais, adaptando-se a uma nova função: a de criador no meio-campo.

"Estou curioso para me ver dentro de campo, essa é que é a grande verdade. Estou me reinventando, vou jogar numa função que já venho há algum tempo, na meia cancha, mais perto da bola. Vou atuar mais na criação, no meio de campo. Então, juntamente com o grupo, com todo mundo, que eu possa ser uma peça importante, isso que eu quero ser", completou o novo reforço do Londrina.

OUTROS ASSUNTOS COMENTADOS POR DAGOBERTO:

Pretende voltar a um grande clube da Série A?

[Risos] Me fazem muito essa pergunta. Eu quero viver esse presente, aproveitar. Eu já falei para o presidente... Se a gente subir ele está ferrado comigo, meu amigo [risos]. Aí eu vou meter a faca nele [risos]. Mas eu quero viver esse momento aqui, que está muito gostoso. O dia do amanhã a Deus pertence, eu procuro viver dessa maneira. Se amanhã chegar uma proposta novamente vai ser bom demais, mas eu estou muito feliz aqui,

'Pressão' por hamburgueria em Londrina

Abrimos a quarta hamburgueria. Todas em Curitiba. Agora eu já estou com uma pressão gigantesca para trazer para Londrina... [risos].

Fábrica Gourmet Hamburgueria, em Curitiba, é a nova empreitada do jogador Dagoberto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Focado nas hamburgueria?

Eu não tenho o dom para isso, mas eu vou bastante para comer [risos]. Vira e mexe eu estou lá. A minha esposa, junto com o meu sogro, são os que comandam mais. O meu cunhado, a minha sogra... Eles que estão ali bem dentro dos negócios.

Atual situação do São Paulo

Os torcedores são exigentes, eles querem título todo ano. Quando eu tive a minha passagem aí nós fomos muito felizes de conquistarmos os títulos, mas o São Paulo é um clube gigante, eu tenho um respeito, um carinho gigantesco pelo São Paulo, o torcedor é formidável, e eu estou na torcida para que possa resgatar aquele ímpeto novamente, aquela garra, aquele futebol bonito que sempre teve. Tem jogadores muito bons ali, mas é fase. Vamos ficar na torcida para que o São Paulo possa estar resgatando isso o quanto antes.

Paixão pelos Estados Unidos

Tem bastante brasileiro trabalhando lá, tem muito espaço para crescer, isso é notável, e o que os caras fazem lá... Eles são muito comprometidos, fazem com qualidade muito boa, então foi muito legal, o país, o lugar, cidade fantástica, foi uma experiência incrível.