Gol, choro e adeus: Espanha aclama Iniesta como maior ícone de sua geração
Os jornais esportivos da Catalunha e de Madri costumam adotar perspectivas bem diferentes em análises do mundo do futebol, especialmente tratando da rivalidade Barcelona x Real ou da atualidade da seleção espanhola. Mas, no último sábado, a reverência a Andrés Iniesta transcendeu o célebre antagonismo, graças a uma atuação histórica do meia na final da Copa do Rei.
Aos 33 anos, Iniesta brilhou naquela que provavelmente foi sua última final com a camisa do Barcelona, com um golaço em tabela com Messi e com lágrimas nos olhos sentado no banco de reservas após ser substituído, no fim da goleada por 5 a 0 sobre o Sevilla. Desta forma, o elegante meia encaminha o adeus como ídolo barcelonista, depois de mais de duas décadas de devoção ao clube da Catalunha, onde chegou aos 12, como jogador juvenil.
Ao todo foram oito títulos espanhóis, sendo que o nono é questão de dias, em razão da folgada vantagem na classificação. Também foram seis troféus da Copa do Rei, quatro Ligas dos Campeões, entre outras conquistas (são 34 na carreira, um dos maiores vitoriosos da história do futebol).
Agora, depois de 16 temporadas, Iniesta está de saída e depois da Copa do Mundo, possivelmente, cumprirá a parte final de sua carreira no futebol chinês, embolsando milhões de dólares e "descansando" do rigor competitivo da Europa. O craque ficou de anunciar sua decisão na próxima semana.
Manchetes exaltam "rei Iniesta"
As manchetes dos jornais da Espanha em versões online adotaram uma linha semelhante após a partida de sábado, exaltando o camisa 8, clamando para que o craque reconsidere a decisão de abandonar o Barcelona. "Iniesta se vai como um rei", cravou o Marca após o título do Barça. "Não se vá", pediu o AS.
Substituído aos 43 minutos do segundo tempo no sábado, Iniesta foi reverenciado de pé pelos 23 mil torcedores do Barcelona presentes no estádio Wanda Metropolitano, em Madri. Ao sentar para descansar no banco de reservas, não conteve a emoção, com a transmissão oficial da partida flagrando o craque com lágrimas dos olhos.
Maior que Casillas, Xavi e companhia?
Ainda resta o troféu de "La Liga" para ser erguido e também a disputa da Copa na Rússia. Mas Iniesta vai saindo de cena no futebol espanhol como a maior figura da vitoriosa geração espanhola, campeã mundial de 2010 e bicampeã da Europa.
Foi de Iniesta o gol mais importante da história da seleção espanhola, em 2010 em Johanesburgo, quando o meia definiu a final contra a Holanda numa dramática prorrogação. Mas talvez a principal contribuição do meio-campo ao futebol de seu país tenha sido jamais interferir na tensão político-esportiva entre Barcelona e Real Madrid – e também entre a separatista Catalunha e a capital nacional.
Nascido em Albacete, na comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, Iniesta foi uma figura contrastante na conhecida "guerra velada" dentro da seleção entre "barcelonistas" e "madridistas", um embate que tem como símbolos os zagueiros Gerard Piqué e Sergio Ramos. O meia também sempre procurou não se meter na tensão política da independência da Catalunha, que frequentemente pauta o comportamento de estrelas do Barça, incluindo o técnico Pep Guardiola, hoje no Manchester City.
Por outro lado, Iniesta perseguiu em campo a discrição de sua personalidade, a despeito do talento vistoso com a bola nos pés. Ele é a própria figura do craque humilde, um herói que quando marcou o gol do título na Copa de 2010 levantou a camisa para homenagear Dani Jarque, do Espanyol, jogador compatriota morto meses antes em razão de problemas cardíacos.
É também o personagem que já declarou que um atleta é menos importante para a sociedade do que "médicos ou aqueles que lutam para dar comida a seus filhos". Neste mesmo raciocino, Iniesta viria a sentenciar: "Sou apenas um jogador". No fim de sua carreira, torcedores de Barcelona, espanhóis e fãs do esporte em geral possivelmente preferem discordar.
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