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Uruguaio supera doping e decepção no Brasil e vira artilheiro na Argentina

Marcelo Endelli/Getty Images
Imagem: Marcelo Endelli/Getty Images

Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

11/05/2018 04h00

Lautaro Martínez, Carlos Tévez e Lucas Pratto são alguns dos principais astros do futebol argentino, mas nenhum deles marcou tantos gols no torneio nacional quanto um uruguaio com passagem apagada pelo futebol brasileiro. Depois de um início promissor e ao mesmo tempo conturbado, Santiago García finalmente se reencontrou no futebol e com 16 gols, vem sendo o protagonista do Godoy Cruz, que chegou a brigar pelo título com o campeão Boca Juniors.

Conhecido popularmente como Morro, o atacante fez sua estreia pelo Nacional em 2009, quando ainda tinha 18 anos de idade. Inicialmente reserva, o jogador se destacou no ano seguinte, ao ser o artilheiro do Apertura com 15 gols, e seguiu marcando em 2011, quando passou a ser alvo de diversos clubes.

Os 23 gols na temporada com apenas 20 anos fizeram o Atlético-PR fazer a maior compra de sua história. Em junho de 2011, o clube pagou US$ 2 milhões ao Nacional e adquiriu 50% dos direitos do atacante. Após passar duas partidas em branco, Morro supriu às expectativas ao fazer os dois gols do Furacão em vitória contra o Botafogo por 2 a 1, pelo Campeonato Brasileiro.

Falta de gols e doping

Morro García - Franklin de Fretias/AE - Franklin de Fretias/AE
Imagem: Franklin de Fretias/AE

O jogo contra a equipe carioca foi a única vez em que o uruguaio pôde celebrar seus gols pelo time brasileiro. García teve média de um chute por jogo não conseguiu marcar nas outras 13 partidas em que atuou pelo time brasileiro. A situação ficou ainda mais complicada em outubro daquele ano, quando o jogador foi flagrado em exame antidoping, quando ainda jogava no Uruguai, por uso de cocaína.

O desempenho abaixo das expectativas, aliado ao problema em seu país e ao rebaixamento do Atlético-PR no Brasileiro, fizeram com que sua contratação virasse alvo de conflitos políticos no clube. Morro não atuou pelo Furacão em 2012 e teve seu contrato rescindido em outubro, após o Nacional devolver o dinheiro investido pelos brasileiros.

"Meu pior momento foi no Brasil. Um dia eu estava treinando, quando me chamaram e disseram que eu havia sido pego no doping. Não entendi nada. Não queria mais jogar futebol, não queria treinar, nem nada. Queria voltar para a minha casa. As outras amostras mandaram para o exterior, a minha ficou no país. A suspensão era só para jogos no Uruguai, no Brasil eu poderia jogar, mas briguei com os dirigentes", disse, em entrevista recente ao jornal La Nación, do Uruguai.

Briga e detenção

García foi emprestado ao futebol turco, onde apenas jogou uma partida pelo Kasimpasa, antes de voltar ao clube que o revelou em 2013. Mas nem mesmo a proximidade com os familiares fizeram o ainda jovem atacante brilhar no Nacional. Sua passagem com 1 gol em 14 jogos ficou marcada de um jeito nada agradável. O atleta ficou detido com outros nove jogadores após uma briga generalizada em um clássico entre Peñarol e Nacional, em janeiro de 2014.

"Quando eles nos mandaram para a delegacia, nos disseram que ia ser rápido [...]. Aí às 22h, nos disseram para tirar os cintos e cordões. 'Vocês vão para a cadeia. Façam uma ligação, porque não sairão daqui'. Eu liguei para minha mãe e minha mulher para avisá-las de que não voltaria", relembrou o jogador, que deixou a delegacia no dia seguinte, mas foi suspenso por dois meses do futebol e proibido de deixar o Uruguai por seis meses.

Liberado pelo Nacional após sua passagem polêmica, o jogador foi contratado pelo River Plate-URU, quando tinha somente 23 anos. Depois de um primeiro ano discreto, o jogador voltou a fazer a diferença no segundo semestre de 2015. Seu desempenho chamou a atenção do Godoy Cruz, que o contratou em janeiro do ano seguinte. 

E foi no futebol argentino que finalmente Morro se recuperou do passado de confusões. Em pouco tempo, o uruguaio conquistou a torcida do time de Mendoza, e se tornou capitão da equipe. Apesar das críticas por estar acima do peso, o jogador de agora 27 anos calou os críticos de uma vez nesta temporada.

Nos últimos 12 jogos do Godoy Cruz, García fez 12 gols e atualmente lidera a artilharia do Campeonato Argentino com 16 tentos marcados. As nove vitórias colocaram o Tomba como único postulante a superar o Boca Juniors na corrida pelo título nacional. No entanto, o time xeneize não deu sopa para o azar e acabou sendo campeão na última quarta-feira, ao empatar em 2 a 2 com o Gimnasia.

Copa do Mundo? Só no Qatar

A excelente fase fez com que seu nome fosse ligado à seleção uruguaia. Sobre as chances de jogar pelo Mundial da Rússia, Morro foi bastante sincero e até mesmo brincalhão, relembrando o arrependido e promissor atacante que surgiu no Nacional e decepcionou no futebol brasileiro. "Vou jogar a Copa de 2022. A seleção é sempre um sonho, mas deveria sequestrar Cavani, Suárez, Stuani, Rolan e suas famílias para jogar em 2018", afirmou aos risos.