Ex-motoboy, brasileiro faz história com título em time pequeno de Portugal
Eram 40 minutos do segundo tempo no Estádio Nacional de Jamor, em Portugal, quando Fredy Monteiro finalmente superou a defesa do Aves e descontou para o Sporting, um dos gigantes lusitanos, na decisão da Taça de Portugal, no último domingo (20). Era tarde para os Leões, que assistiram ao pequeno Aves levantar o título nacional pela primeira vez na história. Tarde, um conceito que não existe para o zagueiro Diego Galo, nascido em Diadema e integrante do elenco que entrou para a história do futebol português.
Diego tem 34 anos e trabalhava como motoboy em São Paulo quando um amigo chamado Sidney o convenceu a tentar novamente a carreira de jogador, desta vez na Europa. “Eu estava sem clube até que um amigo meu disse que conhecia um pessoal que trazia jogador para Portugal pra fazer teste em alguns times, então não pensei duas vezes", contou, lembrando que bateu em várias portas distribuindo currículos até conseguir a primeira chance, no Tondela.
"Chegando aqui fiz o teste com mais alguns jogadores e o treinador acabou gostando de mim, então eu acabei ficando”, diz, lembrando que a passagem fora paga por Sidney, que hoje trabalha em uma indústria de brinquedos.
O apelido Galo foi dado pelo irmão e foi com ele que Diego fez carreira até chegar a Portugal, sempre em clubes pequenos de São Paulo, como Atibaia e Osvaldo Cruz. Ele começou tarde, já aos 20 anos. Quando o calendário acabava, voltava a ficar sem clube. Até ir para Portugal com a cara e a coragem. “Joguei dois anos no Tondela, um amigo que jogava comigo me indicou para Oliveirense, da segunda divisão, lá fiquei por mais dois anos até chegar a Primeira divisão em 2013 pelo time do Arouca e consegui permanecer na elite do futebol português até hoje.” A regularidade impressiona até a ele mesmo: “Sempre fui titular jogando 35 jogos por época (temporada)”.
O título do Aves pegou a todos de surpresa e agravou a crise no Sporting. “Um clube que tinha acabado de subir a primeira liga cujo grande objetivo principal era a permanência. Conseguimos mais que isso, foi uma época de sonho não só para nós atletas mais para todos de Vila das Aves. Foi maravilhoso chegar a este sonho depois de tudo que passei pra chegar até aqui. Não tem dinheiro que pague”, comemorou.
Glória não garantiu sucesso econômico
Diego Galo comandou uma defesa que levou sete gols em sete jogos na Taça, mas que sofreu na Liga, acabando na 13ª posição entre 18 equipes, com 51 gols tomados. Um “sofrimento” nada comparável ao trânsito de São Paulo, nos tempos em que entregava pizza. “Foi mesmo cachorro louco”, brincou, relembrando os tempos que podem voltar. Afinal o futebol não deu dinheiro o suficiente para ter uma segurança financeira.
“(Se ficasse sem time hoje) Voltava pra motoboy”, comentou, “Se voltasse pra casa hoje, trabalharia em qualquer profissão sem quaisquer problemas. Se parasse hoje estaria tão feliz quanto estou hoje, mesmo sabendo que não ganhei dinheiro como acho que merecia. Consegui algumas coisas mas nada que me dê uma aposentadoria. Estou vivendo um dia de cada vez”, ponderou.
Casado e pai de um menino de 10 anos, Diego até gostaria de voltar ao Brasil, mas pensa duas vezes. “Já pensei em voltar, mas teria que ser oportunidade boa porque já estou estabilizado aqui em Portugal com minha família. Todos sonham em jogar no seu país, no mais alto nível. Mas ainda não tive uma boa oportunidade no Brasil. Hoje olho para trás e vejo que consegui, sou um vencedor e ainda tem muito mais por vir”, idealizou.
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