Mundo Bita: fenômeno infantil ganhou nome em homenagem a ídolo do Náutico
“Eu quero jogar bola com você, vamos jogar bola comigo?” A frase é ouvida por 11 entre 10 pais de crianças que conhecem o “Mundo Bita”, desenho musical brasileiro criado por Leandro “Chaps” Melo e equipe da agência Mr. Plot em Recife. O que pouco se sabe sobre o trabalho é que o nome Bita é inspirado em uma das lendas do Náutico, com passagem também pelo Santa Cruz.
Bita era Sílvio Tasso Lasalvia, atacante conhecido como “Garoto de Ouro” que brilhou no hexacampeonato pernambucano do Náutico entre 1963 e 1968. Passou ainda pelo Nacional do Uruguai e voltou ao Recife para defender o Santa Cruz, pelo qual foi tetracampeão estadual, fechando uma série de 10 anos títulos Pernambucanos até 1972. No período, foi artilheiro por cinco ocasiões, com o recorde de 24 gols em uma mesma edição, em 1964, quando tinha 22 anos.
Um dos grandes feitos de Bita foi marcar quatro gols contra o Santos de Pelé no Pacaembu, em 1966, pela Taça Brasil. O time acabaria eliminado na série de dois jogos (3 a 0 Santos, 5 a 3 Timbu, no show de Bita), mas Bita seria artilheiro do torneio com 10 gols. Ao todo, foram 223 gols de Bita pelo Alvirrubro, artilheiro máximo do clube.
“O personagem nasceu para decorar o quarto da minha primeira filha. Quando a gente foi pensar, queria um nome fácil para a criançada e que, numa possível internacionalização do produto, fosse fácil de falar. E veio o nome do Bita. Meu pai é um grande torcedor do Náutico e tinha esse jogador, um grande ídolo do hexacampeonato. Meu pai sabia o time inteiro do Náutico nessa época e o craque do time era o Bita. Ele falava muito esse nome na minha casa. Sempre escalava o time do Náutico inteiro. Convivi por muito tempo com esse nome. Na hora, ele veio. Carismático, simpático e a gente adotou. É uma homenagem ao time do meu pai, meu também, porque herdei dele essa paixão. Mas o personagem em si não é necessariamente alvirrubro”, contou Chaps.
O criador do personagem destacou que o Bita infantil não tem time do coração, já que a empresa tem muitos torcedores, mas que o esporte está sempre presente nos clipes pela ligação com o mundo das crianças. “Não é o fato de o personagem se chamar Bita que o transforma em Alvirrubro. A gente gosta de falar de esportes em geral. O mundo das crianças, das pessoas, está muito ligado ao esporte. Todo mundo gosta, não só como entretenimento, mas também por saúde. O esporte é uma saída para tirar as pessoas de coisas que elas não querem estar. Tem Olimpíadas, tem Copa. O Bita é um viajante do Mundo que fica buscando coisas legais.”
Bita encantou a infância de Chaps; agora encanta milhões de crianças, até o filho de Zé Rafael
O Mundo Bita é sucesso em todo o Brasil. Só no YouTube, seu canal tem quase 800 mil inscritos e mais de 575 milhões de visualizações - além de ter se tornado peça infantil, álbum de música e eventos temáticos em shopping centers e centros culturais. Agora, prepara uma expansão para os países de língua espanhola da América do Sul. Um caminho que o próprio jogador Bita fez ao ir para o Uruguai. Chaps não o viu jogar, mas ouviu muito sobre o artilheiro. “O Bita em si, como jogador, é meio lenda pra mim. Eu não acompanhei porque não era nascido. Sei por histórias. É lúdico, é o herói do seu pai. E se o cara é o herói do seu herói, o cara é fera mesmo”, conta.
Hoje, o pai de Chaps, Rinaldo, acompanha o Timbu com dificuldades. “Infelizmente, não dá para linkar essa homenagem do Mundo Bita com o herói dele. Ele sofre de amnésia recente. Ele nem acompanha mais o presente do time dele. Assiste, por que eu faço questão de lembrá-lo que tem jogo, mas é uma coisa que no outro dia ele nem lembra mais que teve esse jogo. Mas o nome do Bita e o esquadrão do Náutico estão sempre presentes na conversa.”
A presença de Bita na vida do autor foi tão marcante que nem mesmo ter nascido e morado por 20 anos no Rio de Janeiro o fez escolher outro time. “Sempre tive o Náutico como o time do coração, apesar de que, quando morava no Rio, quase ninguém conhecia esse time (risos). Mas isso sempre foi legal, ser o garoto com time exótico no Nordeste era história para contar.” Chaps ainda contou que tinha o apelido de Biro-Biro quando pequeno, por ter o cabelo cacheado como o ex-corintiano.
O Bita desenho segue intimamente ligado ao futebol. Agora é o meia do Bahia Zé Rafael quem faz questão de lembrar do personagem sempre que se destaca em campo.
Bita artilheiro morreu aos 50 anos, de câncer
Após os títulos pelo Santa Cruz, Bita parou de jogar com lesões nos dois joelhos. Recebeu o prêmio Belfort Duarte por jamais ter sido expulso na carreira. Tânia Maria Wanderley Lasalvia, viúva de Bita, relembra o episódio: “O Náutico não foi tão legal com o Bita. Não assinou o Belfort Duarte do Bita. Quem assinou foi o Santa Cruz. Não é o Náutico, é quem estava na época. Mas nem por isso eu deixo de ser Náutico”. O ex-jogador então passou a ser vendedor de medicamentos.
O futebol deu alegrias e um legado, mas também é visto como a razão da morte precoce do ex-jogador. Um câncer nos seios da face o vitimou. Tânia relembrou: “A bola veio baixa pra ele, ele tinha que abaixar a cabeça. Aí o Donald, um jogador do Sport, chutou o rosto dele e ele teve um afundamento da face, teve que fazer cirurgia. Com o tempo, ele operou, mas naquela época não se pedia biopsia para tudo. E ele começou a ter coriza. Eu falei, ‘vá ao médico’. E ele não foi. Aquilo foi piorando. Quando identificou, já estava comprometido. Acabou falecendo em 27 de outubro de 1992, aniversário da nossa filha, Kencia.”
Sobre o desenho, a viúva se espantou ao saber da homenagem. “Eu vi na TV, até falei para o meu filho mais velho: 'viu que tem um desenho com o nome do seu pai?' Mas não sabia, não. Eu tenho dois netos pequenos. Um dos netos até é parecido com o Bita, tá jogando futebol de salão”, disse Tânia, feliz em saber que o legado do marido agora ajuda a encantar as crianças com música e alegria.
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