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Segurança, lanche e prêmio: como foi o jogo de pôquer de Neymar em SP

Neymar disputou o torneio High Roller da 4ª etapa do Brazilian Series of Poker 2018 - REUTERS/Leonardo Benassatto
Neymar disputou o torneio High Roller da 4ª etapa do Brazilian Series of Poker 2018 Imagem: REUTERS/Leonardo Benassatto

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

27/07/2018 04h00

Embora a comunidade brasileira do pôquer seja bastante atuante, foi um jogador recreativo que roubou a cena durante a etapa de São Paulo do Brazilian Series of Poker 2018, realizada entre 19 e 25 de julho: Neymar. Após a Copa do Mundo de 2018 na Rússia, o astro do Paris Saint-Germain e da seleção brasileira aproveitou os dias de folga para jogar no Brasil, provocando uma movimentação incomum na competição.

Considerado o campeonato brasileiro de pôquer, o BSOP teve um número de inscritos acima da média para a disputa em SP, a quarta das seis etapas do ano. Durante a transmissão do canal SuperPoker no YouTube, o presidente da organização, Igor Trafane, afirmou que o main  event da competição teve mais de 1,8 mil inscritos. Para efeito de comparação, a primeira etapa do ano, também em São Paulo, teve 1046 entradas no evento principal, contra 1136 da segunda etapa (Brasília) e 674 da terceira (Natal).

A presença do astro teve influência, mas não foi o único fator responsável pelo crescimento da etapa paulistana. É o que afirma Vini Marques, coaching de pôquer e comentarista do portal SuperPoker no evento.

“O Neymar ajuda em qualquer coisa. O cara é um fenômeno”, elogia Vini, em entrevista ao UOL Esporte, listando fatores que podem também ter ajudado na etapa. “Tem o fator pós-Copa do Mundo. A gente para na Copa do Mundo. Eu dou de quatro a cinco palestras por mês, mas durante a Copa eu não dei nenhuma. Coincide por ser férias de escola, faculdade, do pessoal que pode jogar. Com os filhos de férias, o pessoal que pode vem para São Paulo. Tem ressaca da Copa do Mundo, tem planejamento de (evento) satélite”, analisa.

Neymar jogando pôker em SP - Reprodução - Reprodução
Neymar foi um dos fatores que impulsionaram inscrições no main event do BSOP em SP
Imagem: Reprodução

Mas é claro que não se pode deixar de lado a influência do astro do futebol. “O Neymar representa tudo aquilo que o pôquer precisa para estar junto com os profissionais. Um dos maiores atrativos que o pôquer tem é a capacidade de juntar em um mesmo ambiente, num mesmo torneio, profissionais de altíssimo nível, como o campeão brasileiro (Affif Prado), e o recreativo, que vem se esforçando, estudando, aprimorando para que possa competir em grande nível”, comemorou Trafane, conhecido como Federal, em entrevista durante a transmissão do SuperPoker.

High  Roller: que torneio Neymar disputou?

Neymar não participou do main event, aberto a jogadores que se classificam em disputas no site PokerStars.net (um dos patrocinadores do BSOP) ou que se inscrevem (mediante pagamento de R$ 2,6 mil). No lugar disso, participou da disputa do High Roller, um dos 21 torneios que compuseram a grade da competição realizada em um luxuoso hotel de São Paulo.

Curiosamente, embora o main event seja tradicionalmente o foco de cada etapa, o High Roller é um evento paralelo bastante visado, tanto pelo elevado nível técnico quanto pelo preço da inscrição – o buy-in em São Paulo foi de R$ 7 mil, contra os já citados R$ 2,6 mil do evento principal. Para o jogador recreativo que pode pagar mais, é a chance de jogar em um círculo mais seleto de competidores.

Para a organização, a alternativa também é positiva: é a chance de aumentar o número de interessados no main event, popularizando a prática. Assim, atraem-se jogadores de nível técnico que nem sempre podem investir em grandes inscrições – caso, por exemplo, do norte-americano Chris Moneymaker, que foi campeão mundial de 2003 após se classificar a partir de um site.

Segurança e McDonald’s: a participação de Neymar

Neymar jogando pôquer - REUTERS/Leonardo Benassatto - REUTERS/Leonardo Benassatto
Imagem: REUTERS/Leonardo Benassatto
Neymar compareceu à competição desde 19 de julho, primeiro dia da etapa. E, embora fosse o nome mais conhecido fora do circuito, Neymar provocou poucas mudanças logísticas.

“Mudou muito pouco. O evento já esta bastante consolidado”, explicou Vini Marques à reportagem. Segundo ele, a principal alteração se deu por conta da segurança de Neymar – especialmente pelo fato de o assédio de fãs poderem atrasar o jogador na chegada ao local dos jogos e, consequentemente, a programação da etapa.

“O aparato de segurança do torneio já é muito bom, porque se mexe com muita grana. O que muda com a participação do Neymar? Ele não entra pela porta principal do torneio, por onde entram todos. Ele entrava pelo hotel, como se fosse para um quarto. No pôquer, a gente é bastante conhecido, mas nada que se compare ao Neymar no planeta. Não dá para passar no meio de todo mundo”, explicou Vini.

Aí, outra curiosidade: a etapa de São Paulo terminaria na terça-feira (24). Só que Neymar precisaria se ausentar por causa do casamento do ex-lateral Léo, em Santos, no mesmo dia. Resultado? Em acordo com os demais jogadores, Neymar viajou a Santos e o último dia do torneio foi remarcado para quarta-feira – fato bastante raro no pôquer. O BSOP bancou as despesas com hospedagens e passagens dos jogadores.

De volta a capital paulista para o último dia na quarta-feira (25), Neymar fez jogo duro e sobreviveu por algumas horas na mesa. Viu serem eliminados de sua mesa o brasileiro Lucas Tabarin, o israelense Eyal Benshimon e o uruguaio Alejandro Lopez. No meio da disputa, com fome, pediu um lanche do McDonald’s – coincidência ou não, um de seus patrocinadores pessoais.

Neymar (boné branco de costas) comeu lanche do McDonald's durante longa mesa final - Reprodução - Reprodução
Neymar (boné branco de costas) comeu lanche do McDonald's durante longa mesa final
Imagem: Reprodução

No fim, um “espetacular” sexto lugar

Com apenas seis jogadores na mesa, Neymar se viu ameaçado com poucas fichas restantes. Na última, tentou levar a melhor no confronto direto contra Bruno Marino, que dispunha de um par de valetes. Neymar tinha um 10 e um ás, e conseguiu formar ainda um par com o 10 da mesa. Ainda assim, as demais cartas não ajudaram. Como o par de Neymar era inferior ao do rival, o astro do futebol se despediu da mesa final.

Jogada que eliminou Neymar na quarta etapa do BSOP 2018 - Reprodução - Reprodução
Neymar tentou blefar, mas deu adeus à mesa diante do par de valetes de Bruno Marino
Imagem: Reprodução

Ainda assim, o nome mais midiático da disputa deixou a mesa final com a sexta posição entre os nove presentes. Levantou-se, cumprimentou adversários e fãs e distribuiu autógrafos antes de ir embora com o dinheiro que ganhou na etapa: R$ 79.440. Para Vini Marques, a posição de Neymar no High Roller de São Paulo foi “espetacular”.

“O feito dele no torneio, pela dificuldade que é chegar em um evento desses, é espetacular”, diz o comentarista, para quem Neymar pecou “muito pouco” pela agressividade. “Ele tentou blefar a parada contra um cara que joga mais sólido. O plano dele foi perfeito. Ele sabe que o cara entendeu que ele joga duro. O cara pensa: ‘Se o Neymar está jogando aqui, ele tem que ter jogo, porque ele sabe que eu estou jogando firme’. Foi um pouco de falta de experiência. Se ele tivesse um pouco mais de fichas do que ele tinha, a jogada teria funcionado à perfeição.”

Neymar foi sexto lugar no High Roller de SP - Reprodução - Reprodução
Neymar foi o sexto colocado da mesa final do High Roller, faturando quase R$ 80 mil
Imagem: Reprodução

A vitória no High Roller ficou com o paranaense Affif Prado, que faturou R$ 317.800. Segundo colocado, o chileno Oscar Alache levou R$ 250.000 para casa. Mas para Igor Trafane, a presença de Neymar também é um fato a ser bastante celebrado na etapa de São Paulo.

“O Neymar representa hoje a maior figura pública do país. A nossa satisfação por isso é gigantesca. Além do que ele é completamente apaixonado pela atividade. Isso mostra essa capacidade de atração do pôquer às pessoas que competem em alto nível em outros esportes”, completou o homem-forte do BSOP ainda durante a transmissão.