Topo

Guerrero foi símbolo do "novo Fla", mas se despede sem deixar saudades

Paolo Guerrero deixa o Flamengo pela porta dos fundos após marco na gestão - DHAVID NORMANDO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Paolo Guerrero deixa o Flamengo pela porta dos fundos após marco na gestão Imagem: DHAVID NORMANDO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/08/2018 04h00

Flamengo e Guerrero se separam oficialmente nesta sexta-feira (10), e o contrato de três anos entre as partes termina de forma bem diferente de como foi celebrado. O marco do clube capaz de investir em grandes jogadores e honrar os compromissos foi visto imediatamente na arquibancada. Mas a euforia da torcida, com direito a música (“Acabou o caô, o Guerrero chegou!”) deu lugar ao rancor, potencializado por inúmeras ressalvas sobre a conduta do atacante ao longo do vínculo, sobretudo recentemente.

Paolo Guerrero se despede sem deixar saudades na maioria da torcida rubro-negra. A contratação, de fato, mudou o Flamengo de patamar. Até o meio de 2015, o clube ainda esbarrava no processo de recuperação financeira, e tirar um ídolo do Corinthians por altos valores impactou o futebol no país. A partir daquele momento, o clube carioca passou a ser visto de forma diferente. Depois de Guerrero, outros jogadores de renome e alto investimento chegaram: Diego, Everton Ribeiro, Diego Alves, Henrique Dourado, Fernando Uribe e Vitinho foram os principais.

Além das compras, o Flamengo ainda fez a maior venda da sua história com Vinicius Júnior, que foi negociado para o Real Madrid-ESP por R$ 164 milhões. O panorama mudou definitivamente. O Rubro-negro se transformou em um clube que investe pesado no mercado, cumpre com os pagamentos em dia e também projeta outras grandes vendas. Lucas Paquetá e Lincoln, por exemplo, são observados por clubes europeus e têm multas de R$ 200 milhões.

A transformação teve a contratação de Guerrero como símbolo principal. Sem dúvida, foi o momento no qual a gestão virou a página do duro período de austeridade para equilibrar as finanças. Um ponto absolutamente positivo. Em números gerais, no entanto, o peruano passou longe de se tornar inesquecível para a torcida.

Guerrero custou aproximadamente R$ 43 milhões aos cofres rubro-negros em três anos de contrato entre salários, luvas, 13º e férias. Nos bastidores, a frase “entrega pouco para o que recebe” foi dita algumas vezes por dirigentes. A afirmação de que Paolo recebia muito para decidir pouco cresceu com o tempo. Ele deixa o clube mais popular do país com 43 gols em 112 jogos. A média é de 0,38 por partida.

Promessas não cumpridas e nenhum gol no Vasco

Guerrero do Flamengo disputa bola com Rodrigo do Vasco durante partida da Copa do Brasil 2015 no Maracana - Pedro Martins/AGIF - Pedro Martins/AGIF
O zagueiro Rodrigo foi o algoz de Guerrero durante a passagem pelo futebol carioca
Imagem: Pedro Martins/AGIF
Paolo Guerrero chegou ao Flamengo com o discurso de grandes conquistas. Mas, no tempo de contrato, colecionou eliminações em competições prioritárias, como a Libertadores da América. Ele sai com apenas o título do Campeonato Carioca de 2017 e sem um jogo que tenha marcado realmente a memória do torcedor. Aquela atuação que será lembrada daqui a 20, 30 anos. Isso, o peruano não conseguiu.

Da mesma forma que também não obteve êxito em fazer um gol no principal rival. Em 2015, ele prometeu “passar por cima e arregaçar” o Vasco. Não conseguiu. Pelo contrário, foi anulado seguidamente pelo zagueiro Rodrigo, o seu algoz no Rio de Janeiro.

Outro ponto bastante comentado na passagem do atacante pela Gávea foram as seguidas reclamações com os árbitros e os desfalques por conta de suspensões. Ele recebeu 34 cartões amarelos e um vermelho no tempo em que defendeu o Flamengo. Além das convocações para a seleção do seu país, as punições tiraram Paolo de jogos importantes.

Suspensão por doping foi ato final, ainda que não admitido

Paolo Guerrero chega para julgamento na Corte Arbitral do Esporte - Jean-Christophe Bott/Keystone via AP - Jean-Christophe Bott/Keystone via AP
Guerrero no julgamento na Corte Arbitral do Esporte: fim de contrato melancólico no Fla
Imagem: Jean-Christophe Bott/Keystone via AP
Embora os dirigentes rubro-negros evitem o assunto publicamente, o rompimento com Guerrero já era claro desde a suspensão por doping no ano passado. A contaminação ocorreu enquanto o jogador estava com a seleção peruana, e o Flamengo ficou sem o camisa 9 por seis meses. O contrato do atacante, então, foi suspenso pelo clube. O ato arranhou de vez a relação entre as partes.

Ele ainda voltou aos gramados, foi ovacionado pela torcida no Maracanã, mas a saideira foi a pior possível. Sem acordo para uma renovação de vínculo nos moldes que desejava, Paolo Guerrero se queixou de dores e não entrou mais em campo depois do sexto jogo no Campeonato Brasileiro. Desta forma, não cumpriu a sétima partida e manteve a possibilidade de transferência para outro clube brasileiro.

O Internacional entrou na jogada pela contratação. Não havia mais clima para a permanência do peruano no Ninho do Urubu. Apesar de todo o glamour e relevância na posição, Guerrero sai do Flamengo pela porta dos fundos. A passagem fica marcada pela recuperação econômica do Rubro-negro, mas sem nenhuma lembrança de quem chegou para “acabar com o caô”. A música vai para o arquivo, já que Guerrero falhou na missão.