Brigando entre melhores do mundo, Vadão vê trabalho reconhecido pela Fifa
O dia 3 de setembro é aguardado com expectativa por Oswaldo Alvarez, técnico da seleção brasileira feminina de futebol. É nesta data que a Fifa anunciará os finalistas de 2018 do prêmio The Best, sua premiação anual aos melhores do mundo no futebol. E Vadão é um dos 10 nomes que ainda podem vencer na categoria melhor técnico de equipe feminina.
A indicação é uma vitória para o treinador, protagonista de duas passagens marcantes pela seleção brasileira. Após sua saída ao fim da Olimpíada de 2016, na qual a equipe foi semifinalista, Emily Lima assumiu o posto. No entanto, foi demitida menos de um ano depois, em setembro de 2017, para que o próprio Vadão reassumisse.
Mas a volta, embora questionada, foi positiva para Vadão. Na Copa América 2018, a seleção brasileira conquistou o título com sete vitórias em sete jogos, marcando 31 gols e sofrendo apenas dois. Com a conquista, o Brasil conquistou vagas na Copa do Mundo de 2019, na França, e na Olimpíada de 2020, em Tóquio (Japão).
Embora a Copa América ofereça poucas dificuldades ao Brasil, vencedor de sete das oito edições da competição, Vadão se mostra satisfeito com seu trabalho. Segundo o treinador, a indicação não foi apenas fruto de um protocolo, mas o reconhecimento dos resultados mostrados pela equipe sob seu comando – o que, fora da Europa, não seria tão acessível no futebol masculino.
“Qual jogador brasileiro ganhou o (prêmio de) melhor do mundo sem estar na Europa? Ninguém. O Neymar jogou no Brasil uma barbaridade e nunca foi escolhido. Porque eles (da Fifa) reconhecem mais quando você está em campeonatos mais difíceis, lá na Europa. Não sei se estar na CBF teve esse peso, porque no futebol masculino não tem esse peso. Você tem que estar na Europa para concorrer. Foi assim com Kaká, com Rivaldo, com Ronaldinho. Eles não foram os melhores do mundo jogando no Brasil”, contou Vadão, indicado ao prêmio também em 2016, em entrevista por telefone ao UOL Esporte. “Essa segunda escolha - que me surpreendeu - veio através de mérito mesmo, de ter jogado e vencido os torneios, de ter se classificado com uma certa facilidade.”
Sexto colocado no prêmio de 2016, Vadão ainda comemora uma marca: é um dos cinco nomes com mais de uma indicação em sua categoria no prêmio The Best. Na indicação deste ano, outros três nomes repetem o feito: a inglesa Emma Hayes (que comanda o Chelsea, indicada também em 2017), a alemã Martina Voss-Tecklenburg (treinadora da seleção suíça, indicada antes em 2018) e a holandesa Sarina Wiegman (que treina a seleção de seu país e venceu o prêmio da Fifa em 2017). Além dos quatro, o francês Gérard Prêcheur (que deixou o comando do Lyon) foi indicado em 2016 e 2017, ficando fora em 2018.
E é por isso que Vadão se vê bem cotado no futebol feminino. “Na outra oportunidade (2016), eu tinha ficado dois anos e meio (à frente da seleção), então meu trabalho foi avaliado por um período mais longo. No outro Mundial que eu disputei (2015), a gente se classificou muito bem na primeira fase, mas depois logo perdemos para a Austrália no primeiro mata-mata e saímos fora. Só que nós ganhamos os Jogos Pan-Americanos também com 100% de aproveitamento, fomos medalha de ouro, e depois fizemos uma Olimpíada muito boa. Embora a gente não tenha passado à final, a gente fez uma Olimpíada muito boa. O time jogou, mostrou... Uma pena não ter passado à final”, relembrou Vadão.
“Fui avaliado por um período pequeno, porque não completei nem um ano da minha volta. Nesse período pequeno, tive o torneio na China (Copa CFA, contra China, México e Coreia do Norte) e a Copa América. Obviamente que foram os dois campeonatos que pesaram na minha escolha. Foi uma surpresa muito grande (ser indicado), porque eu não esperava que fosse estar incluído nessa oportunidade, pelo pouco tempo que estou na seleção nessa volta. Fiquei muito feliz, porque temos apenas cinco técnicos e técnicas que foram indicados duas vezes. Então, indiscutivelmente foi uma grande honra para mim. Fiquei muito feliz. Como aqui no Brasil a gente está acostumado a só ser lembrado pelo resultado, quando você vai para um campeonato desse aí... A Fifa não reconhece só o resultado, reconhece também o trabalho”, completou.
Futebol feminino não é fim de carreira. Mas...
Antes de assumir a seleção feminina brasileira pela primeira vez em 2014, é provável que nem mesmo Vadão imaginava que pudesse concorrer a um prêmio da Fifa entre os melhores treinadores do mundo. No currículo, ele trazia passagens discretas por São Caetano, Guarani, Portuguesa, Sport, Criciúma e Ponte Preta. A decisão de “mudar a chave” na carreira acabou promovendo Oswaldo Alvarez a novos patamares.
“Eu estava na Ponte Preta quando recebi o convite. Não estava parado, nem estava aposentado. As pessoas falam: ‘Ah, é final de carreira, acabou pegando o futebol feminino’. Não é assim. No meu caso, não. Eu estava empregado, trabalhando na Ponte Preta, um clube de ponta, e recebi o convite para ir ao futebol feminino. Aí você vai perguntar: por quê? Eu entendi que seria uma mudança radical na minha carreira, uma nova motivação, uma outra visão das coisas, entendeu? Embora o futebol feminino no Brasil seja muito pouco comentado, a grande mídia não dá muito valor, o futebol feminino te dá uma experiência muito grande em termos de futebol internacional”, explicou.
“Eu, que já trabalhei em Copa Libertadores da América pelo Atlético-PR, em (Copa) Mercosul pelo Corinthians, depois em (Copa) Sul-Americana pelo Atlético-PR, tive uma experiência internacional aqui do nosso lado (da América do Sul). Mas não tive uma experiência internacional lá na Europa, em outros países. Dentro do futebol feminino, eu acabei conhecendo tudo isso. Disputei Mundial, disputei Olimpíada, campeonatos que eu não tinha participado. Foi uma motivação muito grande na minha carreira, fazendo uma coisa totalmente diferente”, completou Vadão, que realizou “o sonho de trabalhar na seleção brasileira” quando aceitou trabalhar no futebol feminino.
A trajetória de Vadão poderia até guardar semelhanças com a de outro treinador: Zé Duarte. Morto em 2004 aos 68 anos, “Zé do Boné” teve destaque no futebol do interior de São Paulo entre as décadas de 1960 e 1980 antes de assumir a seleção brasileira feminina na década de 1990. Sob seu comando, o Brasil disputou os Jogos Olímpicos de 1996 e 2000.
Para Vadão, no entanto, a troca para o futebol feminino não é definitiva. “Saí depois da Olimpíada, trabalhei no Guarani (em 2017), no futebol masculino, e antes de vir para cá, de voltar para a seleção, eu já tinha acertado com a Ponte Preta novamente. E a Ponte Preta estava no Campeonato Brasileiro da Série A naquela oportunidade. Para mim, essa história, essa conversa não funciona. Eu voltei ao futebol masculino. Eu não estava sem clube, sem emprego, sem trabalho. ‘Ah, vou para o feminino porque não tenho mais perspectiva no masculino.’ Eu estava tendo uma vida normal dentro do futebol masculino, mas optei pelo futebol feminino por ser a seleção brasileira”, diz Vadão, que “dificilmente” assumiria um time feminino no Brasil.
“Se você falar assim: ‘Se sair da seleção, você vai trabalhar em qualquer outro clube aí no futebol feminino?’, (a resposta é) não, não vou. Dificilmente, até pelo padrão financeiro que se paga. Mas eu ter sido convidado pela segunda vez para a seleção brasileira foi um fato muito importante para mim. E eu já estava acertado com a Ponte Preta. Quando veio o convite, acabei desfazendo meu compromisso com a Ponte. Eu já tinha avisado a Ponte Preta que poderia acontecer um novo convite, que eu já havia sido avisado. Então, no meu caso, dizer: ‘Estou sem perspectiva nenhuma, então vou aceitar o futebol feminino’? Não, muito pelo contrário. Eu já estava novamente empregado, mas optei por voltar”, completou o técnico do Brasil.
No fim, brigar pelo prêmio de melhor técnico do mundo é uma surpresa para Vadão. Ao encerrar sua carreira como jogador de futebol no Derac, de Itapetinginga (SP), queria aproveita o recém-concluído curso universitário de Educação Física apenas para trabalhar como preparador. No fim de 1991, foi promovido a treinador do Mogi Mirim; acabou ganhando espaço no futebol masculino e, quando viu, estava na seleção feminina. Dava para imaginar que um dia ele estaria entre os dez melhores do mundo?
“Acho que não”, conta. “Eu nem sonhava que fosse ser técnico de futebol. Eu me formei em educação física para trabalhar – lógico, gostava de futebol, imaginava continuar dentro do futebol. Mas essa mudança radical na minha carreira, eu jamais imaginava. Nunca pensei nisso.”
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