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Lucas recebe mensagem até de Ceni e mira seleção após choro em 2014

Caio Carrieri/Colaboração para o UOL
Imagem: Caio Carrieri/Colaboração para o UOL

Caio Carrieri

Colaboração para UOL, em Londres (ING)

01/09/2018 04h00

O nome ecoado em volume máximo em Old Trafford pela torcida do Tottenham foi apenas uma das constatações do ótimo momento vivido por Lucas Moura, protagonista da goleada por 3 a 0 sobre o Manchester United, com dois belos gols. Dentre os diversos amigos que lhe parabenizaram pela atuação de gala na última segunda-feira, um em especial emocionou o atacante: Rogério Ceni.

Do Ceará, onde comanda o Fortaleza na liderança da Série B, o treinador enviou mensagem para o ex-companheiro de São Paulo, que inicia a temporada como titular enquanto Son defende a Coreia do Sul nos Jogos Asiáticos. A fase de consolidação no futebol inglês, depois de sofrer com falta de espaço na reta final no PSG, acontece sob o comando de quem testemunhou, como adversário, os anos gloriosos do clube do Morumbi no início da década de 90.

O técnico argentino Mauricio Pochettino era zagueiro do Newell’s Old Boys, rival tricolor nas campanhas do bicampeonato da Libertadores em 1992 e 1993 – na grande decisão e nas oitavas de final, respectivamente. A coincidência já foi assunto no Tottenham, clube que Lucas aposta como trunfo para voltar à seleção e, assim, transformar o choro pela ausência na Copa de 2014 em sonho realizado no Qatar-2022, como o atacante de 26 anos relata nesta entrevista ao UOL Esporte.

Noite de gala contra o United

É uma daquelas atuações que me deixa leve e com confiança. Estou feliz com esse momento que estou vivendo, de jogar, ajudar meu time com gols. Estar na Premier League é um grande sonho. O que aconteceu na segunda-feira foi um feito marcante para mim por todo o contexto e por ter sido contra uma das maiores equipes do mundo.

A atuação de maior repercussão desde o São Paulo?

Como destaque, sim. Como atuação, jogo completo, de fazer jogadas, assistências, gols, eu não sei. Mas pela importância, pelo tamanho do jogo, sem dúvida nenhuma. Fiz grandes jogos pelo PSG, mas não tive tanto destaque por não ser na Premier League. Na França, hoje o PSG está muito acima. Tem o Mônaco, o (Olympique de) Marseille, um grande rival, mas estão muito abaixo do PSG, e por isso, não tem tanto destaque.

Evolução sob Pochettino

Primeiro, ele é um grande treinador, muito competente. Não é fácil sair da América do Sul, vir para cá, aprender inglês e treinar um grande clube. Já é grande vitorioso por isso, além de tudo o que tem feito no Tottenham nos últimos anos, batendo de frente com grandes clubes, chegando em terceiro ou segundo lugar, sempre classificando para a Champions League. É um feito histórico. Todos os dias ele exige demais dos jogadores, então a intensidade dos treinos é máxima. Tanto é que quando cheguei isso me surpreendeu um pouco, senti um pouco isso. A pré-temporada foi a mais dura da minha vida. Treinei muito e isso está fazendo muito bem.

Mudança de posição?

Eu estava claramente adaptado a jogar do lado direito, que é a posição em que vinha jogando nos últimos anos e agora fico um pouco mais solto, não preciso mais acompanhar sempre o lateral. Isso me desgasta menos para atacar. Agora fico mais próximo da área, do nosso campo ofensivo, mais próximo do Harry Kane, e isso está favorecendo bastante. Foi uma mudança que ele fez e está dando certo.

Newell’s de Pochettino x São Paulo

Já comentei com ele. Uma vez falando com o Ceni, ele mostrou uma foto com o Pochettino, de quando ele veio para cá conhecer o clube. Aí mostrei para o treinador, e ele me falou que jogou contra o São Paulo na Libertadores. Ele falou que o São Paulo tinha um timaço, que era muito difícil jogar contra. Também já conversei com ele sobre ele ter jogado com o Ronaldinho no PSG. É bacana ouvir essas histórias e ver o que outras pessoas pensam do futebol brasileiro.

Parabéns até de Ceni pela atuação contra o United

Sem dúvida foi uma mensagem especial. Ele também mandou no meu aniversário, em 13 de agosto. Ser lembrado pelo Ceni no meu aniversário e quando faço gols é uma grande honra. Ser um amigo dele é outra grande satisfação. Um dos caras mais vitoriosos do Brasil, maior ídolo da história do São Paulo. Às vezes vejo os jogos do Fortaleza, os ótimos resultados, e mando mensagem dando os parabéns. Lembro com muito carinho os momentos que vivemos no São Paulo, principalmente do último jogo em que ele me passou a faixa de capitão, um gesto que guardo com muito carinho no meu coração.

Admiração de Pochettino pelo Brasil

Ele é um grande fã do futebol brasileiro. Quando cheguei ele falou: “Uma das coisas que gosto do futebol brasileiro é que vocês estão sempre se divertindo”. Muita gente encara futebol não só como uma profissão, sem aproveitar, sem curtir, sem sorrir. E ele fala que futebol é alegria, arte, para jogar com prazer, para aproveitar não só os jogos, mas os treinos.

Lucas em casa, em Londres - Caio Carrieri/Colaboração para o UOL - Caio Carrieri/Colaboração para o UOL
Imagem: Caio Carrieri/Colaboração para o UOL

Torcida do Tottenham x brasileiros

É difícil comparar as torcidas. A gente tira por base que aqui todos os jogos estão lotados. Jogar no Wembley com 60 mil pessoas todo jogo é uma coisa fantástica. Quando as torcidas do Brasil lotam os estádios, a bagunça é muito maior. Apesar de talvez os ingleses serem mais fanáticos, o brasileiro depende muito do jogo, do adversário, do momento do time, da competição. Mas quando se reúnem para incentivar, para cantar, acho difícil bater de frente.

Sandro à parte, histórico do Tottenham não era bom com Paulinho, Gomes, Gilberto...

Pesquisei tudo antes de vir. Se eles foram bem ou mal isso não mudaria nada para mim. O que eu mais quero é fazer meu nome. Se foram bem não quer dizer que irei bem, se foram mal não quer dizer que irei mal. Mas o que me motivou foi que poucos brasileiros jogaram aqui, então pensei que poderia me destacar, ser o que tem mais gols, mais assistências. Uso isso como inspiração, motivação e objetivo. Conversei com o Sandro, ele me falou muito bem da estrutura, das pessoas. Depois que vim conheci o Gomes, um cara fantástico.

Falta de explicação e poucas chances na reta final no PSG

Até hoje estou tentando entender como passei de uma temporada boa para uma em que não era nem convocado. Infelizmente são coisas que acontecem no futebol, a gente não sabe por que. Continuei rabalhando para não dar motivo. Sempre cheguei no horário nos treinos, dava meu melhor, me dedicava, agora por que eu não estava jogando, não sei.

Reencontro com Unai Emery, técnico do arquirrival Arsenal

Pois é, são coisas da vida. Mas assim, não guardo nenhuma mágoa. Não sei o que aconteceu de fato. Para mim, quando jogar contra o Arsenal, vou encarar como um grande jogo, porque sei que é a maior rivalidade do Tottenham. Ele deve ter tido os motivos dele. Vou cumprimentá-lo, sem problemas.

As diferenças entre Neymar e Mbappé

Além da idade, o Neymar está mais consolidado. Tem várias temporadas jogando em alto nível, marcando muitos gols, já é grande referência na seleção. E acho que o Mbappé, por mais novo, está em uma fase de afirmação. Apesar de ter ganhado uma Copa do Mundo agora, ele está crescendo e consolidando seu nome no cenário do futebol. Mas são dois craques de bola, dois jogadores enormes. O Neymar tem qualidade técnica absurda, brinca com a bola, tem visão de jogo impressionante. E a o Mbappe é mais explosivo, muito rápido, muita força física e também um goleador.

As comparações com Neymar no início de carreira

Quando dois jovens da mesma idade começam a se destacar, cada um pelo seu time, em posições parecidas, automaticamente virão essas comparações. E se aconteceram essas comparações significa que eu estava jogando em alto nível. Ser comparado ao Neymar não é pouca coisa. Para aquele momento nada me atrapalhou, vai da cabeça de cada um.

Ausência nas Copas de 2014 e 2018

Em 2014 foi muito mais difícil, fiquei muito chateado, chorei. Tinha jogado a Copa das Confederações, estava vivendo bom momento no PSG, tinha expectativa e esperança de ser convocado e acabou não acontecendo. Então foi um momento muito mais difícil. Eu estava na concentração do PSG, assisti do meu quarto. Na hora fiquei chorando, o sonho de disputar uma Copa no meu país acabou ali. Esse ano eu já imaginava, apesar de sempre ter aquele pinguinho de esperança. Vim de seis meses sem jogar no PSG, me transferi no meio da temporada para o Tottenham e também não estava jogando.

Como voltar à seleção

O bom é olhar para frente e ver que tenho tempo para jogar uma Copa, realizar esse sonho, isso vai estar sempre na minha cabeça. Preciso manter bom nível e regularidade, porque a convocação não vai vir por causa de um ou dois jogos.

No Brasil, atuaria em outro clube diferente do São Paulo?

Não tem como pensar em outro clube. O único que vem à cabeça é o São Paulo, que sempre estará no meu coração e que amo muito. Ainda tenho muito para conquistar na Europa, mas sinto muita vontade de realizar o sonho de um dia vestir a camisa do São Paulo outra vez. Quero entrar no Morumbi e ver a torcida cantando.