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Sem futebol, Canindé sobrevive com ajuda da música eletrônica

Estrutura da Portuguesa recebe em média dois grandes eventos por mês - Divulgação/ImageDealers
Estrutura da Portuguesa recebe em média dois grandes eventos por mês Imagem: Divulgação/ImageDealers

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

27/09/2018 04h00

Sem divisão no Campeonato Brasileiro e eliminada prematuramente das duas únicas competições profissionais que disputou em 2018, a Portuguesa fechará a temporada com só 13 partidas realizadas no estádio do Canindé. O público máximo no local foi de 2.052 torcedores contra o Juventus, em 18 de março. Com várias partidas que deram prejuízo nas bilheterias, o clube amarga baixos índices de ocupação e faturamento dentro de um complexo esportivo de mais de 100 mil m².

Quer dizer, amargava.

Há pouco mais de um ano, contrato entre clube e uma empresa tornou o estádio da Portuguesa uma nova atração da cidade de São Paulo. Basta escrever "estádio do Canindé" em dispositivos de localização das redes sociais para duvidar que lá aconteçam mesmo jogos de futebol. O local tem recebido uma série de eventos, principalmente de música eletrônica. Em agosto e setembro, foram três shows do gênero. Mais uma festa universitária. No ano, o estádio recebeu o mesmo número de eventos que de partidas da Portuguesa. Até agora, porque ainda virão mais festas.

Canindé - Divulgação/ImageDealers - Divulgação/ImageDealers
Imagem: Divulgação/ImageDealers

"Fora do Brasil é bastante comum ter festivais de música eletrônica em estádios, mas aqui só aconteciam shows, não festivais propriamente ditos. Em São Paulo, geralmente as festas aconteciam no Autódromo de Interlagos e no Espaço Villa Lobos, mas o Canindé é mais central, a localização ajuda bastante, porque antes a galera ia para o interior, para outras cidades. A estrutura é muito boa, eu não senti falta de nada. As festas estão meio que fixadas por ali, é uma tendência", explica o DJ e produtor Viktor Raphael, editor-chefe do portal especializado Beat For Beat.

O estádio da Portuguesa possui localização e estrutura privilegiadas. Fica próximo a grandes avenidas e terminais de metrô e ônibus e, internamente, conta com espaços para mais de um evento ao mesmo tempo. Por meio da implantação de estruturas temporárias no complexo, como palcos, coberturas e sistemas de som direcionados, é possível reunir muito mais pessoas do que em jogos de futebol de torneios como a Copa Paulista e a Série A2 do Estadual.

Segundo Rafael Gouveia, que trabalha com marketing e novos negócios na empresa Feeling, administradora do espaço "Village Canindé", criado no estádio, a relação com a diretoria da Portuguesa é de parceria. O clube nomeou esta firma para cuidar de festas e eventos e recebe uma quantia variável a cada oportunidade. Alguns eventos chegam a render lucro de até R$ 50 mil para o clube, de acordo com conselheiros - no futebol, a maior renda líquida do ano foi de R$ 7.397,96 em um jogo contra o Nacional. 

Estádio do Canindé - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Evento em setembro teve seis espaços diferentes
Imagem: Reprodução/Facebook

Em 6 de setembro, um evento de música eletrônica chamado Só Track Boa teve ingressos vendidos por até R$ 200. O lucro que a Lusa teria com a festa era tão importante para colocar as contas em dia e pagar dívidas que foi cogitada a alteração do local da partida contra o Atibaia, dia 9, pela Copa Paulista. No fim, a empresa organizadora se comprometeu a deixar tudo pronto para o jogo. O Canindé recebeu 1.144 pagantes e a Portuguesa perdeu por 2 a 1 para o time do interior paulista - a renda líquida foi de R$ 3.070,01.

Crise divide a Portuguesa

A dívida da Portuguesa é maior do que seu patrimônio. Hoje, o clube responde a mais de 50 ações trabalhistas e deve aproximadamente R$ 360 milhões, sendo que a área do complexo do Canindé foi a leilão por R$ 160 milhões e ninguém se interessou. Com as contas penhoradas e completa falta de resultados esportivos nos últimos anos, a crise ameaça a sobrevivência da Lusa, que frequentemente tem problemas com atraso de salários de funcionários e amplia a precariedade de condições internas.

O clube social quase não existe mais, tanto é que as piscinas foram demolidas. A solução é alugar os espaços disponíveis. Uma igreja evangélica utiliza um ginásio esportivo para cultos, por exemplo. E também há os espaços para festas e eventos, ampliados com a nova área antes ocupada pelas piscinas. Uma espécie de Feira da Madrugada, parecida com aquela do Brás, é o projeto principal para aumentar a renda, provavelmente em funcionamento a partir de novembro. Mas isso tem gerado polêmica entre conselheiros. 

Estádio do Canindé - Julia Chequer/Folhapress - Julia Chequer/Folhapress
Imagem: Julia Chequer/Folhapress

Quatro sócios da área de fiscalização de contas do clube mostraram incômodo com o assunto e, segundo o portal "Net Lusa", protocolaram um pedido de liminar contra Alexandre Barros, presidente do clube, que está "alugando a sede do Canindé para uma suspeitíssima “Feira da Madrugada”, para raves, bailes punk ou funk e destruindo fisicamente todo o complexo aquático do Canindé sem nenhum impedimento ou fiscalização".

Apesar da manifestação dos dirigentes da Lusa sobre problemas com "raves, bailes punk ou funk", a empresa responsável pelos eventos alega que não há preocupações. "Nós temos uma boa relação, sempre respeitando a vizinhança e os órgãos públicos que gerem a região. Nós temos exigência de equipamentos de qualidade que possuem um som mais direcionado e também controlamos o volume. Por este motivo, o Village nunca recebeu reclamação de barulho".

A música eletrônica virou salvação.

CarnaUOL no Canindé - FlashBang/Divulgação - FlashBang/Divulgação
CarnaUOL, festival promovido pelo UOL em fevereiro, foi no estádio da Portuguesa
Imagem: FlashBang/Divulgação