André Dias lembra interesse do Corinthians após Lazio: Parei antes da hora
André Dias jogou quatro temporadas no São Paulo, foi tricampeão brasileiro no clube tricolor, chegou à seleção brasileira e ainda atuou por quase cinco anos na Lazio. É um currículo que deixa o ex-defensor orgulhoso. Porém, a carreira acabou de forma precoce no retorno ao Brasil.
A lamentação? Não, porém uma constatação, faltou empenho do seu empresário e por cima o Corinthians estava interessado, mas à época não fechou o negócio. Tudo aconteceu em julho de 2014, quando André tinha 35 anos. A ideia era atuar até os 37 no futebol brasileiro antes de pendurar as chuteiras.
"Eu fiquei esperando uma proposta e o meu empresário falava que não tinha nenhum clube da Série A interessado. Não digo que é total culpa dele, mas acredito que teve uma parcela de culpa. Eu saí da Lazio jogando como titular e achei que tinha alguma coisa errada. Ele falou que ia começar a procurar na Série B, mas eu não quis. Passaram seis meses e nada do meu empresário ligar. Como o meu joelho estava ruim e eu não estava treinando, comecei a engordar um pouquinho e fui me acomodando", contou em entrevista ao UOL Esporte.
Depois de meses nessa situação, ele recebeu ligações do Goiás, Vitória, Curitiba e até do Corinthians em 2014. "O Mano Menezes e o Edu Gaspar me ligaram e falaram: 'André, nós acabamos de vender o zagueiro Cleber Reis, estamos precisando de um zagueiro e sabemos que você está acertando com o São Paulo'. Era mentira, porque eu não estava acertando com ninguém e fui bem sincero: 'Já estou parado há meses e eu tenho um problema no joelho que precisa ser tratado. Se eu falar para vocês que eu vou jogar aí, estarei mentindo'. Aí eles falaram: 'Agradeço sua honestidade, mas nós precisamos de um cara para ontem, porque faltam poucos meses para acabar o campeonato'. Então, não deu. O único clube que eu poderia realmente ir era o Corinthians", lembrou.
Pensou em se aposentar aos 21 anos
Antes de toda essa história (e das boas passagens por São Paulo, Lazio e Goiás), André foi revelado pelo Palestra de São Bernardo no final da década de 1990 e logo acabou no Paraná. Pouco tempo depois, fechou com o Flamengo em 2001. No Rio de Janeiro, o defensor teve dificuldades dentro e fora de campo. O clube carioca brigava contra o rebaixamento e estava com salários atrasados. O trauma veio na hora de deixar a equipe rubro-negra.
"Eu saí do Flamengo já com o pensamento de parar de jogar, porque o dia em que eu fui fazer o meu acerto de contas, o diretor financeiro falou mais ou menos assim: 'André, o negócio é o seguinte. Você tem 21 anos e está pegando um dinheiro bom de rescisão de contrato. Cara, vai estudar que futebol pra você não dá, não. Você não entendeu ainda?'. Eu tive propostas da Ponte Preta e do Paysandu, e eu escolhi ir para o Paysandu, porque estava pagando em dia naquela época. Ali foi o divisor de águas, porque eu queria parar e eu falei: 'vou tentar esses quatro meses de salário. Se der certo, eu continuo. Se não, eu paro e vou estudar'. Foi o que o cara do Flamengo falou. Eu não lembro o nome dele agora", explicou.
A experiência no time paraense deu certo e André deixou o Paysandu já acertado com o Goiás, onde brilhou por dois anos e ganhou visibilidade nacional. Foi aí que veio a chance de jogar no São Paulo. O contrato terminava antes do fim do Campeonato Brasileiro de 2005, e o zagueiro tinha propostas de fora do Brasil. André afirma que, a pedido do então presidente Raimundo Queiroz, renovou por mais dois anos com a promessa de ser vendido em janeiro do ano seguinte.
"O presidente do Goiás na época me ajudou demais, mas pecou em uma coisa. Ele falou: 'André, renova comigo por mais dois anos e em janeiro eu vendo você para acalmar a torcida e para a gente terminar o Brasileiro também'. Eu fiz esse acordo, mas chegou janeiro e ele não cumpriu. Antes de eu ir para o São Paulo, eu tinha proposta do Santos, e o Vanderlei Luxemburgo me ligou falando que queria contar comigo. O Santos estava oferecendo três jogadores e mais uma quantia em dinheiro, mas o Goiás não aceitou. Aí eu entrei na justiça contra o Goiás, e o Milton Cruz, junto com o Muricy Ramalho, ficaram sabendo da minha situação e me ligaram", contou.
Ultimato de Muricy a Juvenal
Na equipe do Morumbi, o zagueiro se adaptou rapidamente ao um time que tinha acabado de ser campeão mundial. André formou a linha de três defensores com Fabão e Lugano, mas pouco depois foi impedido de entrar em campo por seis meses após o Goiás cassar a liminar que tinha levado o jogador para São Paulo. A situação rendeu até um ultimato de Muricy ao presidente Juvenal Juvêncio.
"Eu perdi quartas de final, semifinal e final da Libertadores. Eu treinava e viajava com o pessoal, porque a liminar poderia sair a qualquer momento. O Goiás começou a pedir muito dinheiro até que, depois de seis meses, o Juvenal não queria mais esperar, e o Muricy também deu o ultimato: 'ô presidente, a gente precisa do André e não dá mais para ficar empurrando isso. Temos que entrar em acordo com o Goiás, pagar o que eles querem e ficar com o jogador em definitivo'. Se não me engano, o São Paulo pagou R$ 1 milhão para o Goiás e aí acabou a briga na justiça", afirmou.
Queria bater em Valdivia
Ao longo dos anos no time tricolor, André Dias colecionou os títulos do Brasileiro e também duelos marcados por rivalidade contra o Palmeiras. Os responsáveis eram Valdivia, Kleber Gladiador e Denílson, que chegou ao clube alviverde reclamando que foi impedido de treinar no São Paulo, onde surgiu para o futebol.
"O Kleber é baixo, mas muito forte. Hoje, eu sou amigo dele. O cara não fugia do pau. Você podia descer a porrada o jogo inteiro. Ele recebia a porrada o jogo inteiro. Normalmente, o atacante dá uma pipocada quando você chega umas três, quatro vezes nele. E o Valdivia queria que você perdesse o foco mentalmente. Ele começava a falar algumas coisas, que ia pegar a bola e ia pra cima de você, que ia dar caneta, essas coisas. Ele era chato por causa disso. Quando o Palmeiras estava vencendo, era pior ainda. Ele pegava a bola, queria fazer graça e eu queria bater nele de qualquer jeito".
Choque de realidade na Itália
André Dias era o capitão do São Paulo em 2010 pela ausência de Rogério Ceni, que se recuperava de lesão. Com a braçadeira, ele fez o último jogo pelo clube tricolor no Campeonato Paulista e marcou na vitória contra o Paulista, pelo Estadual. Porém, a chegada à Itália foi um verdadeiro choque de realidade. Ele não sabia que a Lazio estava próxima da zona de rebaixamento quando foi derrotado.
Logo que chegou, o zagueiro treinou com o grupo e viu a Lazio ser derrotada no fim de semana. De acordo com ele, mais de 2 mil torcedores protestaram no dia seguinte e jogaram bombas no centro de treinamento.
"Eu falei: 'meu, como eu saio do São Paulo para vir para um time caindo para a segunda divisão? Com uma torcida maluca?' Pensei que tinha sido a pior coisa que eu fiz na minha vida. Não foi fácil, porque hoje a Lazio está melhor, mas na minha época tinha o Matusalém, o brasileiro, só que ele estava machucado e fazia fisioterapia em outro país. Quando eu cheguei lá, não tinha ninguém que falava português e eu não entendia italiano. Eu não falava inglês e nem espanhol. Os primeiros seis meses foram ruins. Depois, você vai se adaptando, vai falando a língua e aí a coisa andou", declarou.
Projeto social em Curitiba
André se adaptou na Itália e ficou quatro anos e meio no país. Como não jogou no retorno ao Brasil, a Lazio foi último clube de sua carreira. Agora, o ex-zagueiro de 39 anos segue trabalhando com futebol, mas de forma diferente. Ele é voluntário em um projeto social em Curitiba, o dono é o ex-meia Lúcio Flávio, tem também o Anselmo e o Carlão ex-jogador do Atlético MG, Grêmio entre outros clubes.
"Nesses quatro anos desde que parei, a minha esposa brinca comigo que eu já quis abrir loja de surfe, açougue, panificadora, posto de gasolina, que tinha que ter uns 10 Andrés para tomar conta de tudo. Hoje, eu cuido dos meus bens, de tudo que adquiri e, junto com o Lúcio Flávio, estamos neste projeto social há dois anos. A gente dá aula de futebol para 160 crianças em Curitiba e na região metropolitana de Curitiba e sem ajuda de ninguém, mas na verdade precisamos muito de ajuda. Sozinhos, não conseguimos tudo, temos uma equipe, mas somos nós que estamos à frente, mas ajuda é sempre bem-vinda, explicou.
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