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Em um só dia, técnico foi campeão masculino e feminino com o mesmo clube

Na sexta-feira (19), Igor Cearense foi campeão duas vezes com o Iranduba (AM): levou a segunda divisão masculina e a primeira divisão feminina - Antônio Assis/Federação Amazonense de Futebol
Na sexta-feira (19), Igor Cearense foi campeão duas vezes com o Iranduba (AM): levou a segunda divisão masculina e a primeira divisão feminina Imagem: Antônio Assis/Federação Amazonense de Futebol

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

25/10/2018 04h00

Na última sexta-feira (19), Igor Cearense viveu um dia que nem mesmo os mais prestigiados treinadores do mundo estão acostumados a viver. Técnico do Iranduba, ele viu o time masculino conquistar a Série B do Campeonato Amazonense ao derrotar o Sul América por 1 a 0 na Arena da Amazônia; horas depois, comandou o time feminino na conquista do título estadual ao derrotar o 3B no mesmo estádio.

Criado em 2011, o Esporte Clube Iranduba da Amazônia logo ganhou protagonismo regional e nacional no futebol feminino. O time foi campeão das oito últimas edições do Campeonato Amazonense (2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018), e ainda será um dos três times brasileiros na Libertadores feminina deste ano – Audax (SP) e Santos também marcarão presença.

O time masculino, por outro lado, não mostra o mesmo fôlego. Presença intermitente na elite amazonense, o time chegou a se afastar do futebol masculino após o Campeonato Amazonense de 2015. Ao retomar a equipe em 2018, um dos primeiros passos foi acertar com um novo técnico. Assim, Igor Cearense (com passagens por times de base e profissionais de Penarol e Manaus FC) foi anunciado pelo clube em 30 de agosto.

Mas não tardou para que ele fosse anunciado também na equipe feminina. “A decisão saiu após uma revisão do projeto profissionalização do clube, chegando-se a conclusão de que o nome do técnico Igor Cearense se enquadra no perfil pretendido”, comunicou o presidente do clube, Amarildo Dutra, em nota divulgada nas redes sociais em 26 de setembro.

Os dois torneios foram bem curtos. Na Série B masculina, o Iranduba enfrentou quatro times (Sul América, Tarumã, Holanda e Clíper) em turno único na primeira fase a partir do dia 29 de setembro. Os dois primeiros colocados, Iranduba (dez pontos) e Sul América (nove), decidiram o título em jogo único na sexta-feira (19), com vitória do Iranduba graças ao gol de Juninho.

O regulamento foi o mesmo do Campeonato Feminino. Na primeira fase, a partir de 4 de outubro, quatro equipes (3B Sport, Atlético-AM, Iranduba e Manicoré) se enfrentaram em turno único. As duas melhores colocadas, 3B (nove pontos) e Iranduba (seis) avançaram à final. Na decisão, vitória verde por 2 a 0, com Elisa marcando duas vezes.

As conquistas, para o treinador, coroaram um trabalho um tanto quanto arriscado. “Preparar duas equipes ao mesmo tempo já é difícil, ainda mais em tempo curto. Foram praticamente 30, 40 dias (de preparação para) as duas equipes. Foi um pouco cansativo, mas foi prazeroso e valeu a pena”, contou Igor Cearense, em entrevista ao UOL Esporte. “Coroar o trabalho com dois títulos foi muito importante, no mesmo dia ainda, masculino e feminino. Mas não foi nada fácil, ainda mais num período curto, né? Ao elaborar um trabalho em curto prazo, você corre o risco de perder atleta por lesões, de não atingir as metas. Mas graças a Deus, elaborando bem o trabalho, a gente conseguiu os objetivos e coroamos com os títulos.”

Tríplice Coroa: meta agora é a Libertadores

O Iranduba vive uma realidade incomum em relação a outros clubes do Brasil, mesmo entre aqueles que mantêm times masculinos e femininos. Ali, o time feminino é responsável pela maior projeção – vide o retrospecto de campanhas e títulos.

Assim, quando topou assumir o time masculino, Igor Cearense já sabia que encontraria uma estrutura de trabalho bastante favorável para a disputa da Série B.

“O feminino sempre teve uma boa estrutura, e o masculino esteve afastado havia algum tempo. O presidente Amarildo me fez o convite para o masculino - o feminino, na verdade, foi consequência”, explica, o técnico, que também não pensou muito diante do convite para assumir a equipe feminina.

“Vi o time muito forte no feminino, com alegria e bastante respeito. Isso me despertou interesse. Fico feliz com toda a estrutura que encontrei aqui, com suplementos, campo bom para treinar, frutas nos treinamentos, material bom, ônibus para levar as meninas para os treinos... Toda a estrutura de um time que quer chegar, almejar títulos. Estou muito feliz aqui no Iranduba, no masculino e no feminino.”

O inusitado feito do Iranduba na última sexta-feira não apenas cumpriu com as metas do clube, mas também ofereceu a Igor Cearense o melhor resultado possível em uma experiência inédita em sua carreira. Embora os dois torneios tenham sido curtos, a rotina de trabalho do técnico no período foi bastante puxada

“Eu chegava no CT às 7h30 e só saia às 19h, visando os trabalhos – pela manhã o feminino, à tarde o masculino. Foi uma rotina muito dura, mas prazerosa. Valeu a pena. Faria tudo de novo”, assegura o treinador. “Os dois grupos, tanto o masculino quanto o feminino, sempre me respeitaram. Me deram a oportunidade de comandar esse grupo maravilhoso. É maravilhoso, único. Fico muito feliz, muito realizado”, completa.

Curiosamente, Igor cumpria suspensão e não ficou no banco do Iranduba na final contra o Sul América – o time foi comandado por Wendell Nunes Coelho. Ao fim do jogo, saiu das arquibancadas e orientou o time feminino normalmente no banco de reservas. Agora, com os dois títulos, o técnico está de olho em uma próxima meta: a conquista da Libertadores feminina. O torneio será disputado em Manaus entre 18 de novembro e 2 de dezembro.

“Agora é foco total na Libertadores”, diz o técnico, que conta com nomes como Andressinha (meia, ex-Portland Thorns), Camilinha (meia, ex-Orlando Pride) e Raquel Fernandes (atacante) para a disputa. “É uma competição muito dura, muito difícil, mas que vale a pena todo o sacrifício.”