Ex-Atlético-MG perdeu tudo, tenta se reerguer e aposta no futebol virtual
Juninho surgiu no Vitória e se lembra com carinho das boas defesas que fez até ser convocado para a seleção brasileira olímpica. Também viveu bons momentos no América e no Atlético-MG. Depois de 20 anos de carreira, Juninho pendurou as chuteiras, mas não largou o futebol. Agora aposta e se diverte no futebol virtual como atleta e manager e tenta se reerguer depois de passar por uma grande crise e perder tudo.
Os campeonatos de videogame se tornaram uma das principais atividades de Juninho. E não é difícil saber como ele gosta. Em suas redes sociais, são diversos posts sobre o assunto. Ele tem um time com os amigos, disputa os campeonatos da liga ‘Conexão Fifa’ e tem várias funções. Atua como jogador, técnico e até na organização.
O ex-goleiro está acostumado à vida de atleta e sabe que exige dedicação. Ele se reúne três vezes por semana para os jogos online e mantém uma rotina de jogos e até treinos. No videogame, ele deixou as luvas de lado para atuar como lateral direito ou ponta direito. “Nosso time tem um ataque bom e ainda está aprendendo a marcar. Eu não ligo de fazer gol, eu gosto de dar passe, assistência. E a gente tem bons finalizadores, então eu me identifico”.
E quem pensa que futebol virtual e real são muito diferentes, se engana. Os anos nos gramados trouxeram muita experiência para ele que usa as mesmas estratégias e se tornou até uma espécie de técnico para os companheiros. “O Fifa é muito baseado na vida real. Tem gente que gosta de videogame, mas nunca jogou bola. Aí em uma situação negativa quer sair de trás e ir para a frente. Então a gente fala que tem que ficar no posicionamento certo, se o 4-2-3-1 não está dando certo tem que mudar a tática. Tem que pedir para os caras tocarem a bola com paciência, evitarem fazer lançamentos”.
Além de jogar, Juninho também ajuda na administração do Conexão Fifa. O trabalho também é similar ao de um dirigente real. É preciso conferir os regulamentos, ver se as inscrições dos times estão corretas, enviar convites, separar os grupos de WhatsApp e conferir se as regras estão sendo cumpridas. No videogame, por exemplo, é proibido segurar o jogo tocando a bola sem objetivo apenas para fazer ‘cera’. Cabe à organização evitar que isso aconteça e punir os times.
Juninho gosta tanto do novo hobby que cogita tentar a carreira de jogador profissional, a exemplo do que fez Wendell Lyra, mas ele sabe que não é tão fácil. Em outro paralelo com o mundo de ‘carne e osso’, a vida de player tem uma forte concorrência e é preciso ter dedicação para ser observado por um ‘olheiro’.
“Hoje eu tenho como hobby, se tivesse mais estruturado, com um pouco mais de tempo, eu acho que arriscaria. É muito legal, envolve muita gente, tem que treinar muito. Eu tenho essa vontade, estou me organizando na vida pessoal, parei de jogar agora e tenho essa intenção de tentar. Mesmo sabendo que é difícil entrar nesse meio. São milhares de players, no fim de semana tem uma competição que se chama corujão. São quase mil pessoas disputando título”.
Juninho se afundou em crise
Juninho ainda se acostuma com a nova vida depois de pendurar a chuteira. Depois de passar por alguns times nos últimos anos como Grêmio Barueri, Caxias-RS e Audax-SP, ele atuou pelo Operário-PR em 2016. Quando deixou o clube, achou que seria fácil arranjar outro time, mas a realidade foi diferente. Juninho perdeu três meses na carreira em um ano que se mostrou um dos mais difíceis da vida. Em 2017, ainda voltou ao futebol no URT-MG e no Batatais. Até teve proposta para jogar em um time da Bahia, mas percebeu que o seu ciclo havia chegado ao fim. E se o futebol estava difícil, a vida pessoal estava ainda mais complicada pela relação conturbada com a ex-mulher com quem tem uma filha. Ele diz que, além de ser impedido de ver a filha, perdeu muito dinheiro com pensão alimentícia e a má administração do dinheiro.
“Tive um problema muito sério com a minha ex-mulher. Nisso me atrasou muito a vida. Ela não deixa eu ver a minha filha por causa de besteira, me bloqueou em muitas coisas na vida. Atrapalhou muito financeiramente e atrapalha até hoje. Ela não soube administrar, meu apartamento está em execução, estamos esperando finalizar”.
“E a coisa que eu mais vejo sofrimento é querer ver a minha filha e não poder. Antes eu tinha liberdade para gastar dinheiro, ir lá, viajar, pegar e voltar. Hoje tem que ser tudo planejadinho. Quando pode, ela inventa alguma coisa. Quando eu jogava no Paraná, marquei de passar o fim de ano com ela, viajei de Curitiba e fui até BH ver a minha filha. Quando cheguei, ela falou que se eu não desse um Iphone, ela não ia comigo. Estava tudo marcado e por causa de um aparelho telefônico não quis mais viajar, aí perde passagem, dinheiro, tempo. Já sofri muito nessa”.
Juninho relata momentos difíceis e diz que só conseguiu se reerguer ao voltar para Ribeirão Preto-SP, sua terra natal, e contar com a ajuda da atual mulher Fabiana, com quem se casou em 2015 e trabalha como policial militar.
“Cheguei a perder tudo e ter R$ 150 reais na conta. Hoje estamos conseguindo recuperar. Tem gente que entrega os pontos. Me casei em 2015 com a minha esposa atual, ela é maravilhosa, uma baita mulher. Depois de um ano, parecia que tinha alguma coisa puxando para trás. Perdi emprego, tudo em 2016. A gente tinha razoavelmente uma vida boa, fomos adequando a ter uma vida normal. Nisso eu perdi praticamente tudo, abri mão de um monte de situação, vendi o carro que eu tinha. Agora estamos readequando para ter uma vida normal de uma pessoa que luta pelos sonhos”.
Como se reergueu
Juninho precisou buscar alternativas para sair da crise. Fez o cadastro no aplicativo Uber para trabalhar como motorista, mas não chegou a exercer a atividade. Fez bicos como motorista particular fazendo entregas para a empresa de seu padrasto. Hoje, ele trabalha como auxiliar administrativo e ajuda nos serviços de despachantes na empresa Ponto Certo.
Apesar das dificuldades, ele se orgulha da sua trajetória. “Não tenho vergonha de nada. Fico feliz de poder estar vivendo essa vida em casa. Eu saí com 16 anos de casa, voltei com 36. Foram 20 anos fora. Minha mãe está muito feliz. A minha mulher está trabalhando mais que eu, cada um em uma área”.
Juninho ainda mantém vivos os seus sonhos e, além da carreira no videogame, também pensa em estudar para voltar ao futebol. “Tenho contato com pessoas que vivem no meio, tenho que estudar para isso, buscar conhecimento maior. Hoje o futebol está se profissionalizando ainda mais. Eu tenho o sonho de voltar, me estruturar novamente, estudar. Não pensaria em ser treinador. Mas poderia iniciar como treinador de goleiro tenho bastante contato”.
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